ARTIGO DE opinião por Daniel Pereira | FOTOGRAFIA: EVERYTHING IS NEW E dANIEL PEREIRA
Dia 6 de junho foi já há uma semana atrás e este artigo pode parecer um pouco fora de horas.
Juro que não tentei fazer aqui nenhum trocadilho com o nome da tour (Afterhours/ Till Dawn), a realidade é que precisei mesmo deste espaço de tempo para escrever umas linhas sobre o concerto de The Weeknd no Passeio Marítimo de Algés.
Muita coisa se tem passado nas últimas semanas relativamente a concertos de artistas internacionais no nosso país. Foram os incontáveis shows de Coldplay em Coimbra e ainda agora, no Porto, tivemos o Primavera Sound, com um cartaz cheio de grandes nomes. Espetáculos de encher o olho, boa música, público ao rubro e até a chuva, todos estes foram pontos de semelhança entre estes eventos e o concerto do artista canadiano.
No entanto houve algo que, para mim, Abel Tesfaye trouxe de diferente até Lisboa. Depois do concerto, em qualquer instagram “perto de si”, toda a gente viu a lua gigante, o palco que parecia uma cidade, a estátua monumental ou as pulseiras de luz (efeito giro que virou moda aparentemente) mas não são esses os fatores diferenciadores. The Weeknd conseguiu, sem qualquer conotação negativa, dar um concerto pequeno, num palco grande. O que quero dizer com isto é que apesar dorecinto enorme “à NOS ALIVE”, parecíamos estar perante uma atuação intimista, diria até, de um artista de rua que canta só para nós e nos toca de forma especial. The Weeknd nunca perdeu isto, apesar da sua ascensão estratosférica. A sua musicalidade vai-se mutando com o tempo mas a essência é igual do primeiro ao último álbum e a forma como interaje com o público também, como foi possível ver em todas as perfomances, fosse a música de 2018 ou 2023.
Talvez a prova mais “palpável” que corrobora este meu pensamento seja isto: The Weeknd passou maior parte da atuação fora do “palco principal”, longe do golden circle. Esteve quase sempre no mini palco estendido até ao centro do recinto, sentiu-se mais confortável junto do público colado às grades, que guardou “frontline” durante horas. Talvez este seja o aspeto mais hip-hop deste concerto.
E este tipo de sensações, por mais que o espetáculo visual seja tremendo, apenas a música consegue proporcionar. “É melhor ao vivo que nas músicas de estúdio”, ouvi eu muitas vezes naquela noite e tive exatamente a mesma sensação. Não deixa de ser no mínimo irónico que numa altura em que estreia a série “The Idol”, o maior trunfo de Abel continue a ser a música.
Acima de tudo, um fenómeno musical.