“3,14” – É este amor pela cultura que me faz amar esta cultura

Há muito tempo que os dias são todos iguais. Sei que esta é já uma frase muito ouvida, mas desta vez não é necessariamente sobre estes tempos pandémicos. Tenho contacto com a cultura Hip-Hop desde que me lembro e sempre que existe um dia diferente, é um dia que fica para a história. No passado dia 17 foi assim.

Por Daniel Pereira | Fotografia de Sebas Ferreiras

Um sábado que estava a ser como todos os outros, eu nem ligava a Internet desde a hora de almoço, mas decidi ficar online por volta das 17h quando vi que o dia tinha mudado. Gson, Sam The Kid, Slow J eram os nomes do momento e 3,14, o número. Nesse momento, já o dia de tanta gente tinha mudado, e eu, naquela altura, nem tinha ouvido, nem visto, mas estava já a antecipar o que iria sentir. Meti os fones, selecionei os 2160p de resolução e carreguei play sem pausa durante todos os 5:24.

“Para tudo, som novo”, “O game tá fechado”, “Acabamos de presenciar a SANTÍSSIMA TRINDADE do hip-hop português” .

Isto não é uma análise a uma música, nem me sinto dotado para tal exercício, só gostava de partilhar o que significou para mim. Desde o sentimento na voz do refrão de Gson, às lições de vida nas rimas de Sam The Kid e Slow J, acompanhados do instrumental de Charlie beats que me levou para todo o lado, sem sair daquele coliseu. Talvez seja isso, também, o infinito.

Mais do que um lançamento que junta muitos dos melhores artistas nacionais, esta é uma música que para mim simboliza tudo o que o Hip-Hop significa. O intuito aqui não foi juntar nomes para juntar números, foi prestar um tributo a esta cultura. Mostrar que pode ser mais fácil elogiar do que criticar, que as homenagens devem ser feitas em vida.

“Não vou esperar o fim para te dizer que a tua voz importa. Não há campa com jardim, dá-me em vida uma rosa morta”.

Numa altura em que estamos todos tão distantes, fisicamente (e não só), ouvir, e ver este trabalho, fez-me acreditar que os próximos tempos poderão mesmo ser melhores. Para mim, naquela altura, os minutos seguintes foram de debate sobre o que tinha ouvido, maioritariamente com a equipa aqui da Hip Hop Rádio. Todos nos lembrámos do porquê de gostarmos tanto de Hip-Hop. Foi isto que fez mudar o meu dia.

Se 3,14 arredonda o que não tem fim, esta música aproxima-nos do infinito.

Para sempre, é este o amor pela cultura que me faz amar esta cultura.