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Be Bless at Home: de ecrã em ecrã, o festival de Hip-Hop que precisávamos

10 artistas, 10 cidades, um fim-de-semana e uma conta de Instagram. Os tempos são estranhos, mas nós não. O espírito de comunidade elevou-se, o Hip-Hop tuga veio até nós e nem tivemos de sair de casa. Por Daniel Pereira | Imagens: Instagram Be Bless

É verdade que os Lives de Instagram são o tipo de conteúdo “da moda”, não por qualquer acaso da vida, mas porque em altura de quarentena não há muita maneira diferente de expressar arte. O “ao vivo” revelou-se agora fundamental e é de salientar os esforços de diversas iniciativas para trazerem até nós conteúdos artísticos. A Be Bless é uma delas, no entanto o que pudemos assistir no fim-de-semana passado revelou-se diferenciado.

O conceito é conhecido pelas festas Hip-Hop no SOLO CLUB em Cascais, porém a sua capacidade de adaptação era ainda desconhecida por parte do público. Nós, e também a Tranqui.low, como parceiros, não duvidámos nem um pouco e abraçámos o evento, participando de forma ativa e de perto em toda a sua organização. Mas mais importante que isto tudo foi adesão da comunidade Hip-Hop: essa foi a verdadeira vitória.

Tudo começou no final de tarde de sexta-feira na conta de Instagram da Be Bless, espaço onde iriam acontecer todos os concertos – o que por si só é um fator diferenciador. Às 19h atuou Tristany que só pelo simples facto de a câmara do seu telemóvel estar colocada no tecto deu para entender que seria um concerto diferente. E assim foi, visualmente e musicalmente. Um concerto intimista de um artista a ter em conta. De Sintra fomos até Espinho para ver NTS. O versátil MC cantou temas icónicos como “Ela quer” e “Odeio-te”, bastante celebrados pelo público (aqui trocamos as habituais palmas e gritos por comentários cheios de emojis e corações). No entanto, foram os habitualmente espetaculares freestyles que mais ficaram na retina num concerto que acabou em ritmo de rave com “Nova Gera”. A última atuação veio de Almada pela parte de TOM que apesar de cantar alguns temas focou o seu concerto numa beat session. Hip-Hop dos pés à cabeça, brinca com as palavras e com os sons com a mesma qualidade. Houve também bastante interatividade com o público o que fez querer mais. Felizmente, havia ainda 2º e 3º dia.

Sábado começou com Afonso Ventura (membro da Tranqui.low) a assumir o papel de entrevistador, algo que já tinha acontecido no dia anterior e iria suceder no resto dos dias, antes de cada concerto. Rush Rap foi o primeiro a entrar em cena, mostrou alguns dos seus discos mais raros durante a entrevista e a seguir fez uma atuação que nos deixou a viajar pela evolução da cultura urbana. Por falar em viagem, não saímos de casa, mas fomos desde a Ilha Terceira até Viana do Castelo onde encontrámos Skinny, provavelmente o nome que mais surpreendeu ao longo de todo o evento. Uma atuação exímia que tornou o público do Live fã do rapper. “És Isto?” foi bastante celebrado e acreditamos que essa faixa tenha ingressado em várias playlists pessoais. Depois de dois concertos foi altura de Sacik Brow atuar. Com a qualidade que lhe é reconhecida e músicas com forte mensagem, este foi mais um concerto que ficou na memória e que deixou todos a pedir já nova música, depois do recente “Ferro”. Do sul do país para o Norte: Puro L estava à nossa espera em Penafiel. Provavelmente no concerto com mais vibe de todo o evento, o rapper trouxe não só barras mas também várias melodias vocais, revelando toda a sua elasticidade artística. Principalmente entre músicas do “Último Mortal” e “Ohme Sessions”, Puro L deixou todos a cantar em casa ora não fossem vários os comentários com letras das músicas constantemente a surgir no ecran. Final de segundo dia perfeito.

Infelizmente, chegávamos ao último dia do evento. O sentimento era de dever cumprido, excelentes concertos, público participativo e mínimas falhas técnicas que podiam ser muitas não fosse o esforço de todos os envolvidos, organização e artistas. Começando por volta das 19h, Lazuli, que na entrevista com a Tranqui.low explicou um pouco do processo de fazer beats, mostrou a todos que apesar de novo tem muito talento e conhecimento. O produtor apresentou depois um set extraordinário que não deixou ninguém indiferente. Do Porto para Estremoz, começava a atuação de D.beat que veio cheio de barras e mostrou que no Alentejo há muito bom rap por descobrir. Na reta final do evento fomos até Cascais, localidade casa da Be Bless. HipnoD no mic e DJ Perez nos pratos conseguiram um dos concertos mais especiais onde foi possível sentir ainda mais o ambiente de família. Quanto à performance, temas mais antigos do Projeto Com sequência, do EP Notas à Parte, singles recentes e ainda faixas por lançar. Um prato cheio. Antes do último concerto, de DJ Perez, entrámos em direto com a Be Bless e falámos um pouco com o próprio. Sendo um dos organizadores confirmou o balanço positivo, disse-nos que estava “muito contente com tudo o que se passou” e deixou a promessa: “vamos todos voltar ao SOLO outra vez!”. A sua atuação, na realidade, antecipou isso: fez-nos voltar ao club de Cascais com o dj set que todos adoram, e ansiavam ouvir e sentir. Não havia melhor maneira de terminar o Be Bless at Home.

No próximo sábado há nova edição HHR EM CASA no nosso instagram, desta vez especial Be Bless com DJ Perez, Lazuli e NTS. Não te preocupes, vamos mesmo voltar ao Solo Club! Até lá mantém-te seguro e acompanha o que esta nossa cultura oferece diariamente. Somos Hip-Hop!

GuiaHHR: 17 faixas que marcaram fevereiro

Todos os meses, o Guia Hip-Hop Rádio debruça-se sobre os álbuns, faixas ou temas atuais do movimento no mês em questão. Se, em janeiro, analisámos os álbuns por lançar este ano e entrevistámos os seus criadores, em fevereiro, no culminar dos seus curtos 28 dias, destacamos as dezassete faixas que marcaram o mês, desde “Bom Lugar”, nascida nas OHME Sessions de Puro L, a “Torre Eiffel”, de Harold. Um ensaio de Bruno Fidalgo de Sousa.

No primeiro dia de fevereiro, o MC portuense Puro L divulgou a segunda sessão das suas OHME Sessions. 

Depois de “Quem Me Dera”, a solo, une-se a Zim, novamente com um instrumental de The Plan Beats, neste “Bom lugar”.

“Às vezes tenho fome, é aliciante o come back/ mas já não me identifico sequer com esse leque/ já não quero ser rico só quero que o mic rec

“Mais Do Que Pele” é o segundo single do próximo álbum de Grilocks, Nimbus – que marca a sua estreia com a Mano a Mano, de TNT. O tema, já noticiado pela HHR, sucedeu a “Labirintos” e conta com a poesia de Napoleão Mira e o selo instrumental de Khapo.

“falta-me o teu corpo de mulher fogueria/ para me aquecer em noites de ventania/ resta de nós esse tempo de bebedeira, o teu sorriso emoldurado à cabeceira e o disco preferido da tua melomania”

No início do mês, a HHR publicou uma breve sobre o novo álbum de Mishlawi. Depois de vários singles de sucesso, o prodígio da Bridgetown editou Solitaire, álbum de 12 faixas. 

“Audemars”, com Nasty C e produção de Sensay Beats e Prodlem, é o tema que destacamos.

“imma spend all the budget on a Aduemars/ and it don’t tell the date I live like no tomorrow/ come and hit the dank and we gon’ go to Mars”

 

A estreia de L-Ali com a Superbad. não podia ter corrido melhor: “Siri” é o tema que une o MC de Alfama com uma produção magistral de Here’s Johnny, que também assina a engenharia de som – como habitual.

LISTA DE REPRODUÇÃO, com VULTO., foi um dos destaques do ano passado. Aguardam-se novidades.

“L legado tão lembrado como lido/ L-ALI porque nunca ‘tou no mesmo sítio / vivo com a solidão que escolhi como quem namora o beat em 80 e picos”

“O Último dos Reais” é o mais recente single e marca o regresso de Ary Rafeiro, desta vez com o apoio dos Bons Malandros. Produzido pelo próprio, conta com vídeo da Rutz Rec. O tema foi estreado no sétimo aniversário da plataforma RAPNotícias

“A inveja chama e diz que vim pela fama/ vim mostrar que os diamantes podem sair sozinhos da lama/ sem escravidão humana/ negar-se o bling bling para por a brilhar o povo de bermuda e havaiana”

Servidos com um instrumental de Hyzer, holympo e Palazzi juntaram-se sob o selo Andamento Records para criar o tema “Shawty”, no início do mês, que teve depois direito a vídeo de @phykecam e @phonesex.jpeg. A masterização é de Nedved.

“O nosso fim foi adivinhado/ no fim já não tinha afinidade/ o nosso baixo é desafinado/ pouca cabeça para a tua idade/ sei que te faltou maturidade”

Três anos depois, Syer (Sujidade Máxima) tem um novo tema e este é inteiramente dedicado ao falecido Beto di Ghetto. “Quando A Alma Se Despe” tem instrumental de Syndrome e vídeo de Wilsoldiers. É de saudar o regresso de Syer – com uma sentida homenagem.

“é o despertar do monstro que adormeci nos 90/ talvez seja a última vez que solto a voz nas ruas/ Felisberto, meu irmão, tenho saudades tuas/ ando triste, pensativo, desolado como nunca”

“Qual a Percentagem” foi a segunda resposta de Estraca a benji price, sucedendo a “solero”. A produção é de Forgotten e Beatowski e a engenharia de som de CharlieBeats.Como diz a breve lançada à data, o MC do Lumiar “alarga-se para a Think Music, citando nomes como ProfJam ou Lon3r Johny“.

trazem rimas importadas, misturam na linguagem, dão a cara por um tarifário mas estão sempre sem mensagens/ what the fuck”

Depois de editar Tourquesa, um dos melhores álbuns do ano passado, o MC de Barcelos, Cálculo, regressou aos singles, na companhia de Zim, com “Complicado”. A produção é do próprio Cálculo, com guitarra de Beni Mizrahi.

“O teu amor é caro e só vem de encomenda/ eu desconfio sempre de quem o põe à venda/ vou caír como sempre, pode ser que aprenda/ queria ver racional mas ele pôs-me a venda”

Jay Fella, MC da Mano a Mano que tem divido palcos com Silab (com duas mixtapes homónimas no percurso), divulgou este mês o tema “Manter”, ilustrado com artwork do próprio, com um type beat de J Cole e um flow singular a que o artista já nos tem habituado.

“Era suposto eu comprar fazenda/ mas eu deixei-me a dormir na escola/ enquanto eu sonhava ser lenda no rap diziam ser um prodígio para a bola”

Dez, que, junto de xtinto, percorreu a Odisseia em 2016, regresso com um novo tema a solo, “EMMM”, – como noticiado pela HHR – com produção de Dzyrd, engenharia de som de benji price e vídeo de Billy Verdasca. 

“Perguntam como é que foi feito isso/ foi com a sarda do Sardet foi feitiço/ eu bem te disse que quando pego no lápis, num ápice/ grafito um gráfico na lápide, não há PIDE, não há peace”

Mais um tema divulgado pela Hip-Hop Rádio: “Death Note” une dois rappers da Think Music, Lon3r Johny e Fínix MG, novamente com engenharia de som de benji price e, desta vez, com produção de Jammy. O vídeo está assinado por Rui Duarte.

“Mo wi mas eu tou na estrada life já não é só Cacém/ roupas tem-se, notas tem-se, nossa, o game é a nossa wave/ até pássaros sabem um nigga dropa bem, eu sou coca sem corte/ a 100, nota-se bem que choca lames”

Estreou-se o ano passado a solo com Esquizografia, EP que figurou nos melhores do ano para a HHR. Pibxis tem novo single: “Underbanger“, com produção de Keso e divulgado através da Paga-lhe o Quarto Records. O vídeo é de André Oliveira.

“Ás no topo e não baralho, vai po caralho/ tem que vir todo ele em taco ou então dá banano/ o stack intacto a passar po’ mano/ ou então chama aí um macaco e pede para passar o pano”

O décimo quarto tema deste ensaio não é de fácil degustação: Johny Gumble, Tilt e Nero, em representação dos ORTEUM e Richards Beats no instrumental, à moda da Pipa de Vinho Rec. “Jurássico” é mais um grande tema – sucede a “Anda”, de ORTEUM e DJ RM.

“No meu ouvido já só soa uma nota/ impede-me morrer, permite-me viver na cova/ imagina o que poupava se caixões fossem berços/ e morresses onde nasceste, independentemente da volta?”

De surpresa, ProfJam divulgou #FFFFFF este mês, o seu primeiro álbum, em colaboração com o produtor Lhast. Se “Água de Coco” e “Tou Bem” já tinham sido um sucesso, as restantes nove faixas do disco têm partilhado de igual atenção. “À Vontade”, com Fínix MG, o único convidado, é um dos temas com mais visualizações.

“Prof dá-me o co-sign mano e não é miragem na estrada/ meu barco afundou mas Poseidon viu a mensagem na bottle

Amaura, da Mano a Mano, é a prova viva que o R&B ainda está vivo. Com Mad Marcus e instrumental de Gold, “Coopero” é o segundo tema da cantora com a label, sucedendo a Blues de Tinto e a uma colaboração em Flow.

“Hoje é para a nódoa negra e para o jogo de mãos, hoje és tu com uma venda sem guia na contramão/ para o puxão de cabelos, enfraquece sansão/ ontem madalena era arrependida hoje madalena não é não, não, não”

 

Harold, MC do coletivo GROGNation, tem novo tema a solo para celebrar o dia do amor: “Torre Eiffel”, noticiado pela Hip-Hop Rádio. A faixa é acompanhada por Marta Ferreira, pela guitarra de Henrique Carvalhal e pela produção de Migz e KYO e de el Conductor,

“eu sei que eles todos me querem ver morto/ eu só quis um pouco mais do teu corpo/ sem ti não há conforto sou bicho solto”