O rap também é delas

Hoje, dia 8 de março, celebra-se o Dia Internacional da Mulher – uma celebração da luta feminina ao longo dos anos, depois de séculos de opressão, sem direito ao voto, com fracas ou nenhumas condições de vida e de trabalho. No que toca ao hip-hop, nomeadamente no início do movimento, uma das premissas seria algo como “boy’s club, no girls allowed”, mas obviamente que assim não foi por muito tempo. Neste dia especial, onde, acima de tudo, se deve manifestar a igualdade e o respeito, delineámos uma pequeno cronologia com alguns dos nomes que deram forma – e nome – ao rap feminino ao longo dos anos | Por Diana Reis.

MC Lyte

Mc Lyte lançou o seu primeiro álbum a solo, Lyte as a Rock, em 1988. No início da sua carreira nenhuma promotora queria pagar o valor da sua música, pouca atenção por parte dos promotores teve e, contudo, unca se deixou afetar e continuou com a sua paixão. 

Em 1993, “Ruffneck” foi nomeado para o Grammy de Melhor Single de Rap. Foi a primeira MC com uma canção nomeada ao prémio – e sempre defendeu que era destrutivo para a cultura do hip hop não ter a perspectiva de uma mulher. 

Queen Latifah

Queen Latifah foi das primeiras mulheres do hip hop a abordar temas como violência doméstica, o assédio constante nas ruas e a necessidade de uma ligação entre todas as mulheres – como por exemplo nas faixas “U.N.I.T.Y.” e “Ladies first”.

O seu álbum de estreia, All Heil The Queen, editado em 1989, vendeu mais de 150.000 cópias.

Salt-N-Pepa

Em 1985, nasce o famoso trio Salt-N-Pepa. Ainda como dupla, com o nome “Super Nature”, Cheryl James e Sandra Denton lançam a faixa “The Showstopper”, em resposta ao “The Show” de Doug E Fresh. O coletivo – posteriormente com a DJ Spinderella – rimava abertamente sobre os seus desejos e a sua sexualidade em músicas como “Push It”, “Let’s talk about sex” e “Shoop”

Bahamadia

Bahamadia, rapper de Filadélfia, lança em 1996 “Kollage”, o primeiro LP a ser coproduzido e totalmente escrito por uma MC feminina, com muitas influências de jazz e soul

Um marco na história da cultura e um dos mais aclamados discos de estreia de sempre.

Foxy Brown

A novaiorquina Foxy Brown começou a sua carreira aos 15 anos, quando apareceu no álbum de LL Cool J, “Mr. Smith” no remix da faixa “I Shot Ya”.

Posteriormente, estreou-se na editora do rapper com o seu álbum III Na Na.

Lauryn Hill

Lauryn Hill tornou-se uma das maiores influências do hip hop internacional em 1998, quando lançou “The Miseducation of Lauren Hill”, um mix de temas neo-soul, repleto de letras feministas e hits como “Doo Woop (That Thing)” ou “Everything is Everything”. 

Dotada de uma rima astuciosa e de uma voz melodiosa, a rapper tornou-se um exemplo para o hip-hop no feminino e o disco é, certamente, um clássico. E, se não a reconhecerem à primeira, podem sempre ouvi-la cantar o icónico “Killing me Softly“.

Lil' Kim

A mulher que disse “got buffons eatin’ my pussy while I watch cartoons” nem precisa de introdução. Lil’ Kim não lança um álbum desde 2003 e ainda hoje se mantém no cânone do hip hop. 

Missy Elliot

Missy Elliot, depois de anos em colaborações, decidiu fazer o seu próprio álbum, intitulado de Supa Dupa Fly, que continha o hit “The rain”… “i sit on Hills like Lauryn”, um jogo de palavras num sample de um single de Ann Peebles de 1973. O videoclip foi considerado um dos vídeos musicais mais criativos para a altura.

Mas foi o terceiro álbum, Miss E… So Addictive, que nos serviu um dos maiores hinos do hip hop para todas as mulheres: “Get Ur Freak Out”

A nivel internacional, ao longo dos anos, tem se vindo a manifestar a presença de cada vez mais mulheres na industria da música e no hip hop: Nicky Minaj mantém a sua carreira desde 2009, Cardi B tem feito furor no último ano com o seu primeiro álbum e, mais recentemente, a luso-descendente IAMDDB (ou I am Diana de Brito) tem-se mostrado capaz de fazer música com muita qualidade. E, como estas, muitas mais virão, para além de várias artistas pop que têm tentado entrar no beat e na história do hip hop. 

 

Em Portugal, o cânone feminino do hip hop já é mais reduzido, mas há quem lhe dê forma:

 

Dama Bete foi apresentada como a primeira MC portuguesa, ou, pelo menos, a primeira com um contrato com editora. Em 2008 alcançou alguma fama com o álbum De Igual para Igual, com os singles “Cala-te” e “Definição do Amor”. Ambos fizeram para da banda sonora da novela juvenil Morangos com Açúcar – tudo começou num despique com o seu irmão Macaco Simão, que na altura já era nome no hip hop português. Como ele tinha um grupo de amigos, a então jovem decidiu criar o dela, chamando-lhe Blacksytem, onde acabou por conhecer Blaya.

Por outro lado, Ana Fernandes, natural do Porto, mais conhecida como Capicua, manifesta-se ainda hoje no hip hop e em grande escala, assim como Eva RapDiva, natural de Angola. Contudo, nos últimos anos têm surgido cada vez mais raparigas no ramo, embora, infelizmente, só alguns nomes perdurem: Mynda GuevaraLendáriaRussa, M7, Amaura, MaryM ou Fábia Maia têm dado cartas, seja em colaborações ou a solo, e muito se espera da sua presença no hip-hop português.

Para finalizar, duas jovens promessas: esta semana nasceu a filha dos filhos do Rossi, Nenny, com a faixa “Sushi” e que só com três minutos nos deixou a querer muito mais; e Pi, que traz consigo a poesia do boombap com o tema “Jardim Ilógico”: