Crônica por Daniel Pereira | Fotografia de Bruno Marques
A ascensão desde sempre anunciada
A primeira vez que vi Slow J ao vivo foi em 2016.
Estávamos entre “The Free Food Tape” e “The Art of Slowing Down” e o espaço era coincidentemente (ou não) o parque das nações. Acontecia o Super Bock Super Rock e o dia era histórico: Kendrick Lamar atuava no MEO Arena.
Mas, no 3º palco, lá fora, atuava o que na altura era um newcomer, e para mim este dia também seria histórico porque tinha visto, logo ali, o quão grande Slow J se iria tornar.
Senti muita coisa nesse dia, vi o mítico concerto de Kendrick Lamar mas o “pequeno” concerto que tinha visto antes não me saía da cabeça.
“Será que um dia vamos ter um rapper português a atuar na maior sala do país?” – era a pergunta que surgiu vezes sem conta na minha mente.
Porque na nossa cultura urbana também existem artistas únicos. Slow J sempre teve algo especial, musicalmente e não só. Existem pessoas e artistas que têm energias próprias e ele está nessa fina seleção: transmite sensações que por vezes não conseguimos compreender.
Naturalmente, essa raridade artística criou a ascensão desde sempre anunciada: passados 8 anos Slow J esgotou, em nome próprio, o MEO Arena, duas vezes.
E nada mudou, é o mesmo J de sempre. Claro que muita música nova foi lançada ao longo dos anos mas a essência continua lá:
Um artista completo com a intemporalidade de “Vida Boa”, a calmaria de “Cristalina”, a caneta afiada de “Fogo”, o sentimento de “Também Sonhar”, o sucesso astronómico de “Imagina”, e podia continuar ao longo de toda a discografia pois cada faixa é única.
Também, um artista que não esquece os seus e os leva ao longo do caminho. Estas duas datas não teriam sido a mesma coisa sem a comunhão e respeito recíprocos em palco com eu.clides (abriu sabiamente o concerto), Papillon, Goias, Ivandro, Richie Campbell, Teresa Salgueiros e principalmente Gson.
Slow J não termina sozinho o seu concerto histórico no MEO Arena. Fá-lo com duas faixas em conjunto com Gson, quase como que numa passagem de testemunho para os próximos grandes momentos no Hip-Hop tuga.
A realidade é que quando o Hip-Hop é unido, será sempre grande.
40.000 pessoas viram estes concertos.
Em 2016 poucos conheciam Slow J, em 2024 todos os conhecem. E ainda bem.
Sejamos humildes o suficiente para assumir que os artistas quando são de todos, não deixam de ser nossos.