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Major: “Quero deixar de parte a ideia que o que eu faço tem que ser rap”

Major, nome artístico de Jorge Marques, começou por fazer música para acompanhar os desenhos que criava. Natural do norte, mais especificamente de Marco de Canaveses, começou a interessar-se pela cultura aos 14 anos, envolvendo-se nas suas vertentes pela mensagem que os rappers do Porto lhe transmitiam e tornando-se, mais tarde, elemento assíduo da primeiro fila de muitos concertos.

Desde aí, a paixão pela letra começou a crescer, levando-o ao estúdio do Mundo Segundo para gravar “Pleno“, o primeiro tema que compôs para dar som à sua arte, neste caso, o desenho.

Começaste pelo desenho e não pelo rap, propriamente. O que te levou a aventurares-te na música?

No secundário comecei a levar a sério o desenho, fiz inclusive muitos desenhos de rappers portugueses para praticar as minhas habilidades e ao mesmo tempo homenagear quem me inspirava. Na altura, a minha maior preocupação era a técnica e a capacidade de representar a realidade como ela é. Quando entrei para a faculdade, em 2017, comecei a perceber que arte pode ser muito mais que isso e que o curso me podia oferecer algo para além do visual: interessei-me por arte sonora, vídeo, graffiti e poesia. Apesar de não me considerar writer, a minha ligação prática com a linguagem do hip-hop partiu do graffiti, sendo que neste momento aproprio-me do handwriting próprio das tags nas minhas pinturas.

Depois, achei um bom desafio arranjar uma forma de me expressar para além das imagens. Primeiro comecei por escrever, por volta de finais de 2017, e comecei a aplicar a escrita ao rap em 2019. Percebi que no mundo contemporâneo a música está quase sempre associada a alguma imagem, no meu caso, pensei criar música para as minhas imagens, foi quando lancei a faixa “Pleno” em 2019, acompanhada de um dos meus autorretratos em óleo sobre tela. Foi um passo importante até porque tive a oportunidade de trabalhar pela primeira vez em estúdio com o Mundo Segundo no Segundo Piso e acabei por perceber como funciona a dinâmica num espaço destes e melhorei muitos aspetos técnicos desde aí. 

Quais as tuas maiores influências desde que começaste a conhecer a cultura hip-hop até agora?

Na fase inicial de descoberta foram, sem dúvida, os Dealema e Sam The Kid. Neste momento e para além destes, Blasph, com o seu estilo singular e descontraído de punchliner e Zé Menos, que lançou um excelente álbum em 2019, “O Chão do Parque,” que reflete, claramente, o nível artístico e conceptual a que quero chegar. Obviamente que existem muitas outras personalidades, tanto portugueses como internacionais, que acabam por me influenciar.

Para além da música, o graffiti é uma parte importante no meu percurso, não tenho um nome específico, mas como estudo no Porto e ando muito de comboio, passo por muitos graffs e acredito que isso me influencie artisticamente nas minhas pinturas e nos meus vídeos.

Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

Sem preocupações em relação a “gavetas”, quero deixar de parte a ideia que o que eu faço tem que ser Rap. Pode ser outra coisa qualquer, quem sabe um dia deixe de ser música. Para além disso, a relação imagem/som é algo importante no meu trabalho e espero descobrir boas formas de ligar estes dois mundos (penso que com o vídeo posso conseguir estes objetivos), tudo isto numa constante fuga ao óbvio e às interpretações fáceis.

Uma das minhas inquietações passa também por me conseguir expressar com clareza e ao mesmo tempo manter o meu registo mais introspetivo e codificado. Penso que a música é um ótimo meio para pensar também em quem ouve, tenho cada vez mais em conta que o que faço não é só para mim. Se possível, sedimentar a minha identidade e integridade artística enquanto alcanço várias pessoas.

Consegues revelar algum projeto que esteja para sair em breve?

Estou a trabalhar no projeto “Fuso Horário Luso”, que consiste num conjunto de videoclipes e um álbum/EP. Todas as faixas terão um vídeo associado feito também por mim. Quanto aos instrumentais, para já não está nos meus planos fazê-los eu, o foco é mesmo a escrita, a sonoridade e a forma como fluo neles. Todas as faixas/videoclipes conectam-se de alguma forma numa espécie de narrativa: a faixa “Aljube”, que lancei no meu canal no dia 25 de abril, produzida por B Noize, gravada, misturada e masterizada por Zé Menos, foi a primeira música e videoclipe que apresentei como parte deste projeto e é a última faixa (estou a começar pelo fim).

O Major foi o destaque desta semana do programa Radioativo, a emissão que destaca todos os talentos que andam escondidos na nossa caixa de entrada. Se também queres partilhar a tua música podes fazê-lo enviando um mail para divulgação@hiphopradio.pt

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