Hip Hop Rádio

QUANDO PEGAVA NAS LATAS, ERA SÓ EU E A PAREDE

 A vida é uma folha em branco, à espera do primeiro “rabisco” que nos trace um destino. E, no caso dele, não foi diferente. Somos alvo incessante das nossas influências, mas é uma escolha nossa o caminho que vamos percorrer e foi, ainda cedo, no trilho da vida, que nasceu um artista. Muitos são os que deixam “marcas” nas paredes, desenhos aleatórios ou com um significado específico, mas arte … arte é história, é paixão, é sentimento.

Foi no desabafo que o miúdo dos subúrbios, Francisco Alves, deu os primeiros passos no graffiti: “quando moras num sitio como o meu não há grande coisa para fazer, digamos que pintar era como um refúgio para mim, era como um desabafo, porque quando pegava nas latas era só eu e a parede”.

Às vezes somos arrastados pela maré e foi ainda em criança, num bairro onde morava no Porto, que se envolveu na onda do rap. Por arrasto, começou por ouvir Dealema, Mind da Gap e percebeu que tinha ali um “lar”! O hip-hop era ” traficado” em CD´s e cassetes vindas do Sul pelo pessoal que conheceu ao longo da caminhada, “o acesso à internet não era fácil, eu nem computador tinha, ouvia música num Discman e as cassetes num rádio muito antigo da minha mãe.”

No país à beira mar plantado ninguém julga mais que a sociedade, o rótulo de bandido era inevitável e ser acusado de vandalismo era certo, embora “quem pinta não pense dessa forma”. Fiel foi quem nunca desistiu, pois poucos entendiam a “arte do crime” e o respeito que prevalecia naqueles riscos, naquelas mensagens – “quanto mais perigoso é o sitio, mais nós queremos pintar lá”!

De repente, o movimento ganha força, “passou a ser visto mais como uma arte do que propriamente vandalismo”, e o hip-hop virou moda,”está a bater como bateram outros movimentos no passado”, o que se revela uma vitória para quem nunca perdeu a fé, para todos os ” bandidos” que acreditaram que um dia teriam o seu lugar!

Nos dias de hoje, “O Hip Hop esta no topo, não só em Portugal, mas no mundo inteiro” e embora já esteja um pouco “afastado do graffiti”, vê com bons olhos que já haja “lugares próprios para pintar” acreditando “que com o tempo esses sítios vão aumentar”, até porque “assim ninguém se chateia, nós pintamos e as pessoas apreciam”.

Fazem da rua obras de arte e das cidades museu: “o graffiti tem a mesma função que o rap: passar uma mensagem”. Tudo isto podia ser só mais uma história, se não tocasse na alma de tantos outros que se revêm nestas palavras…O hip-hop é tão grande que qualquer palco se torna pequeno.

Foi sobre as consequências das influências que sofreu na vida que os rabiscos na folha em branco foram aparecendo, um atrás do outro, num caminho que fez da parede psicóloga e do graffiti terapia.

Escrito por: Cláudia Pinto

 

 

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