“Nesta Odisseia não parte um, partem dois”, e partiram, “beat tape no bote, mix feita no spot“, “pastéis de bacalhau com salsa”. DEZ e xtinto eram newcomers do rap nacional quando, em 2016, disponibilizaram Odisseia, mixtape que estreia os dois MC’s de Ourém nas edições digitais, sob a orientação de benji price, fundador da extinta Andromeda Records. Seguiram-se posteriormente alguns temas soltos, mas Odisseia revelar-se-ia a primeira pedra a alicerçar a ainda curta carreira dos dois rappers que, sobre beats da net, delinearam uma viagem “hiphopcondríaca”, digna de Ulisses (ou de Odisseu), onde as rimas de DEZ e de xtinto se vão enlaçando a seu bem-prazer, alternando entre os refrões cativantes e os diálagos samplados que destacam o realismo e a crueza da mixtape, apoiados pelas rimas de Fella, Split ou pelas dezasseis barras (“escondidas”) de benji price em “Psicotrópicos”. Temas como “Íntimo” ou “4’33 à John Cage” alcançaram certa popularidade, mas nada que se compare a singles mais recentes. Ainda assim, “Odisseia” é uma obra fundamental para entender o percurso – e a evolução – de DEZ e xtinto, rappers que a cada dia se afirmam um pouco mais no futuro (e presente) do rap nacional. O pen game da dupla lima-se em aliterações e jogos de palavras, sem nunca se perder no flow ou na dicção. É uma viagem agradável, com o vigor das rimas compreensivelmente a sobrepor-se à base instrumental. Uma Odisseia de rap que, numa reviravolta da História, chegou primeira que a Ilíada de DEZ e xtinto. E “os pastéis de bacalhau ‘tavam muito bons”.