Hip Hop Rádio

Praso sobre a reedição de “Alma & Perfil”:

Fotografia de Alícia Mota

A data é 28 de dezembro. O local escolhido é o Titanic Sur Mer, em Lisboa. A ocasião? Daniel Jones, conhecido no meio por Praso, rapper e produtor do coletivo Alcool Club, reedita Alma & Perfil e apresenta-o num concerto único, ao qual se juntam as apresentações dos álbuns de Subtil e Fred Mineiro, Aquém-Mar Identifique-se, respetivamente. | Entrevista por Bruno Fidalgo de Sousa

Alma & Perfil foi inicialmente editado em 2009, destacando-se como um dos projetos com mais sucesso de Daniel Jones, que desde cedo marcou o panorama musical com os seus instrumentais dedicados, muitos skits, melodias jazzísticas e soul, samples inovadoras e muito detalhe. Para além da “Intro”, que “salta fora” nesta reedição, Alma & Perfil tem três instrumentais: “Blue”, “Esquecimento” e “Sem Ressentimentos”, algumas das faixas mais icónicas da bagagem de Praso, “Qualquer coisa e um pouco de jazz” ou “1,86 do céu” e é, indiscutivelmente, um marco para uma camada de hip-hop heads que cresceu a ouvir as fantásticas melodias nascidas no quarto do artista, marcadas com o selo ARTESANACTO: o reportório de projetos editados é vasto: a solo, Praso editou Assistência Vol. 1, Prelúdio, Cofre Nocturno, Focus 360º, a primeira edição do Alma & Perfil e o seu último álbum a solo, Caçador de Sonhos, para além dos títulos de Alcool Club, coletivo sineense onde divide o protagonismo com o irmão, Montana. Agora, para além deste concerto e reedição, prepara-se para lançar às ruas L.E.V., datado para 25 de abril de 2019.

De “livre e espontânea vontade”, Daniel Jones, numa pequena conversa com a Hip-Hop Rádio, fala sobre a evolução e maturação do álbum, o seu processo de construção musical, o que muda nesta nova edição ou a presença de Subtil na label ARTESANACTO:

Dez anos de “Alma e Perfil”. Como descreves o amadurecimento do disco? Qual a tua opinião, dez anos depois, sobre o álbum, produzido “artesanalmente”, desde capa ao próprio CD?
Parece que foi ontem, o facto do álbum continuar vivo e em constante rotação faz com que nunca chegue a ser uma memória remota e pelo facto de me “ter dado ao trabalho” de, neste disco, apostar em conceito, Alma & Perfil (as ruínas, o fato e a gravata), para além do tempo que levei a aprimorar as batidas, acabei por pôr de parte o investimento maior que seria a edição do disco. Ver que dez anos depois o que realmente é identificável são a música e o conceito faz-me acreditar que, como o Common deu de título a um dos discos dele, “one day it all make sense”, então, dez anos depois, o Alma & Perfil merece uma edição de fábrica e, neste caso, especial.

Consideras o disco como um dos trabalhos que te catapultou a ti – e, consequentemente, aos Alcool Club – para palcos maiores e uma nova camada de ouvintes?
Directamente, não. Acredito mais que o que nos catapultou para outro tipo de eventos e espaços foi mesmo a nossa constante actividade e o facto de continuarmos a editar álbuns, EP’s e singles.

Este é um dos primeiros discos com selo ARTESANACTO, gravado e produzido por ti. Tentando fazer um pequeno balanço: quais as maiores diferenças na produção e crescimento entre, por exemplo, Praso – Prelúdio ou Focus 360º?
As maiores diferenças acabam por ser as inspirações que nunca serão as mesmas, continuo a usar muitos drumkits da altura e samples com a mesma idade em programa diferentes: FLStudio, MPC2500 e BEATMAKER2 fazem a combinação eleita perfeita.

Da mesma forma, o que destacas no processo de quatro anos (oito, no total), entre o Alma e Perfil, para o Caçador de Sonhos, até ao, ainda por sair, L.E.V.?
O que destaco é que continuo a fazer o que gosto, porque gosto e agora ainda tenho o prazer de poder tocar ao vivo coisas que vieram totalmente da minha livre e espontânea vontade.
Ao mesmo tempo que os beats têm a tua imagem de marca, muitos temas do álbum se tornaram bastante conhecidos (“Qualquer coisa e um pouco de jazz” ou “1,86 do céu” e ainda, preferência pessoal, “Naquele Hotel” e “Se este amor fosse errado”). Acreditas que alguns destas temas se tornarão intemporais?
Acredito que sim, quem passa pelo mesmo ou se identifica com o que depositei naquele álbum acaba por fazê-lo renascer e dar lhe o significado que eu lhe dei.

Tens expetativas em esgotar rapidamente esta segunda edição? Vai ser uma edição “especial”, tendo em conta que vais acrescentar temas inéditas e conta com outra roupagem, ou mantiveste-te fiel ao que é o disco?
Nesta edição especial decidi acrescentar faixas bónus, não inéditas, do meu reportório, para que quem compre esta edição conheça mais um pouco de como e com quem já trabalhei. Retirei o “Intro” e os instrumentais na perspectiva que, ao acrescentar o outro material extra a “experiência” seja melhor ainda.

A par da reedição do Alma & Perfil, “apadrinhaste” o Subtil com o seu álbum de estreia, apresentado no mesmo dia. Que tens a dizer sobre um álbum para o qual tanto colaboraste, e sobre um artista que tanto ajudaste a vingar?
“Mermão” Subtil! Se não fosse a minha aposta nele e no seu disco, não acreditava tanto no que faço também, por vezes o feedback ou a vontade que temos não chega para nos inspirar, precisamos de ver, ouvir e nos sentir estimulados a fazer melhor que alguém ou por alguém, dás por ti a evoluir numa competição saudável ou numa ajuda que te ajuda a ti mesmo.

L.E.V. está “anunciado”, através da ReB, para 25 de abril. O que podemos aguardar deste álbum?
Algumas participações diferentes e… um lado B com instrumentais que não constam no lado A… BAM! L.E.V.

Dia 28 de dezembro, todos os caminhos vão dar ao Titanic Sur Mer. E, para iniciar 2019 em grande, as cópias físicas da reedição de Alma & Perfil estarão à venda no local. Até lá, o álbum de 2009 encontra-se a rodar na emissão da Hip-Hop Rádio – e na íntegra no canal de  YouTube da label ARTESANACTO.

Entrevista de Bruno Fidalgo de Sousa, com fotografia de Alícia Mota. 

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