Hip Hop Rádio

O Último Malmequer – Harold

A vida é uma flor: onde cada pétala representa um alto ou um baixo quase como quem brinca ao “bem me quer, mal me quer”.

É com esta metáfora que Harold nos apresenta O Último Malmequer, o seu terceiro álbum de estúdio. O rapper de Mem Martins, além de um memorável histórico como membro dos GROGNation, leva já na sua discografia dois álbuns: Indiana Jones, o seu álbum de estreia editado em 2016, e Tudo Tem Seu Tempo, editado em 2019, tendo surgido ainda em 2021, Mãe Um Dia Eu Ganho Um Diamante – um EP em colaboração com o produtor da Munnhouse, Lunn. 

O Último Malmequer é composto por 15 faixas e conta com a produção de Épico, Kidonov, noGrade, Lazuli, Migz e Ariel, passando ainda pelas mãos de Charlie Beats na mistura e masterização. Já no alinhamento do álbum, Laylizzy e Yang deixam marca como convidados nas músicas Durag e Pésnochão, respetivamente. Às novas músicas apresentadas no longa-duração, juntam-se ainda os singles Dourado, Palavras, De Caras e Rivais, lançados ao longo do último ano. Já durante o dia de ontem, 25 de junho, o rapper lançou a música Éder acompanhada de um videoclipe no seu canal do Youtube, antecedendo mais uma faixa do projeto. Do trap ao afro, e cruzando caminhos com influências do R&B, Harold vai se expressando entre ritmos agitados, como em Vento em Popa – uma faixa que eleva a voz do rapper contra a negatividade – ou Pésnochão, que contrastam com o tom melancólico de Vidrado ou as letras mais densas do projeto.

“À medida que fui fazendo o álbum estava a viajar muito entre dois polos: o positivo e o negativo. Quando estava com uma parte do álbum já mais avançada, senti que essa viagem procurava um lugar ideal, uma zona onde pudesse estar feliz e confortável. Aí percebi que as pétalas do malmequer simbolizavam todas as vezes que estava nessa viagem à procura do tal sítio ideal” – confessou o artista à Hip-Hop Rádio. 

Quando ouvimos o projeto, fica claro que a procura desse lugar ideal com que Harold ambicionava, deixou uma trilha de emoções que precisaram de ser superadas e compreendidas com ele mesmo. Pétala a pétala, vamos acompanhando temáticas raciais, políticas, de autoconhecimento e crescimento pessoal do rapper – temáticas essas que representam um “bem me quer” ou um “mal me quer”. Vamos percebendo que só se chega à tal zona feliz quando conseguimos ser honestos connosco próprios, percebendo que tudo tem uma força de resistência. De nada vale desfolhar o malmequer à procura de uma fuga, se nunca formos aceitar a verdade e tentar criar uma estabilidade nos altos e baixos. 

“Toda a minha dor aprendi a lidar / todo o meu suor fiz um novo lar” – Harold em Éder

De notar, por fim, a faixa Éder: um simbolismo da batalha com o ódio racial. O rapper utiliza o jogador português como uma analogia, para demonstrar que é necessário ser um Éder para ser bem visto na sociedade. A faixa serve também como uma homenagem ao seu pai, ex-combatente no exército português nas guerras coloniais – contou Harold à Hip-Hop Rádio. 

E se hoje, sobra apenas uma pétala no malmequer de Harold – o último mal me quer – não é porque se perdeu nas suas batalhas ou por ter deixado de as tentar superar, mas sim porque encontrou o seu lugar ideal. 

 

 

 

 

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