Hip Hop Rádio

O Festival Iminente É Incontornável

Apesar de esta ter sido apenas a 3ª edição (em Portugal), existe já alguma antecipação ao festival de música e arte urbana, que, por de arte urbana se tratar, nos traz o hip-hop em todas as suas representações: Grafitti, DJ, Breakdance e MCs.

Artigo por: Daniela Silva

Fotografias: Christian Ferreira

Chegámos na altura em que os Bateu Matou acompanhavam na percussão a Drop it like It’s Hot, em jeito de prenúncio. Dadas as voltas da praxe, dirigimo-nos ao palco Cave para assistir a Preto Live Set, onde somos presenteados com o rap interventivo de Chullage, que começa num registo pesado, sério, acompanhado na mesa por Tayob Juskow, ao qual se seguem vários convidados como Scúru Fitchádu e Cachupa Psicadélica, repetentes no festival como o próprio Sr. Preto, que termina a atuação já no público, com todos os convidados no palco e em clima festivaleiro.

Saímos para ver luz e apanhar ar, já que a Cave é fiel ao seu nome, e voltamos para assistir ao concerto de Yuzi.

O trapper da Think Music (como somos constantemente lembrados pelo tag sonoro rodado entre cada música), apresentou-se para um público nitidamente mais jovem que com ele vibrou. Acompanhado de Yellow Xannies, foi o maestro de mosh e circle pits num concerto cheio de energia. Yuzi informou que Prof Jam não pôde comparecer para acompanhá-lo em Gwapo, mas tivemos ainda a visita de Fínix Mg e Lon3r Johny, que após a atuação voaram (certamente) para Coimbra onde a Hip Hop Rádio também os acompanhou.

Papillon foi, sem qualquer margem para dúvida, o concerto mais cheio e com a média de idade mais baixa (provavelmente devido à atuação quase simultânea de Omar Souleyman no palco Outdoor) do primeiro dia desta Cave. O rapper dos Grog Nation não desilude, apresentou-nos um concerto sem falhas e com a vantagem da maior proximidade que este tipo de palcos nos oferece. Acompanhado por Vasco Ruivo no baixo e Luís Logrado na bateria, com Slow J (mais um repetente) em Imbecis/Íman e com a voz do público em sons como o Impasse, foi um excelente fecho para a (nossa) primeira noite no Iminente.

Quem fica recebe ainda a surpresa da atuação de Fat Boy Slim.

 

 

O segundo dia deste festival fez-nos correr para conseguir assistir a todos os concertos.

Tal como no dia anterior, a primeira atuação do palco principal demorou a encher. Com Loreta KBA a iniciar-nos com o seu rap crioulo que, nas palavras do próprio passou “d’o Loreta interventivo” para “partir”, ajudado por Avelino na MPC, com o qual fomos deixados até Loreta vir, também ele, cumprir com o dito.

Num salto rápido à Cave, assistimos a Fumaxa, com a actualidade do hip-hop nacional e internacional. Pediu barulho para Grog Nation e nós acedemos, claro.

Segue-se Keso no palco outdoor, com a introdução feita pelo Dj Spot que nos deixa no embalo certo para assistir ao rapper da Invicta, visivelmente emocionado com a multidão que se reuniu para vê-lo. Apesar dos nervos que, pela primeira vez, não pode acalmar com tabaco, não nos falhou, tendo dedicado a “Rooftops” a todos os writers e chamado a palco um (ainda que ele quisesse mais) Bboy que aprimorou o espectáculo.

Descemos e voltámos a encontrar Fumaxa, agora nas backs de Landim. O rapper de Matarraque deu ao público que enchia o espaço um concerto memorável em que lembrou que “temos de ganhar todos, se não, não há futuro”.

 

Valete apresentou-se no seu habitual formato e interpretou tanto clássicos como Johnny Walker, Subúrbios e Roleta Russa ,como a homenagem a Sam the Kid, intitulada com o nome do próprio, Samuel Mira e partes d’O Primeiro MC Português, ambas lançadas este ano. Surpreendeu com a cover de Feels like Summer de Childish Gambino por Dino, e terminou com a mensagem impactante de Rap Consciente, para aquele que foi o maior público do Iminente.

Na cave temos Vado, o último repetente da noite e o último a trazer o rap falado em crioulo ao festival. Com um concerto bem preenchido, o rapper do clã Mas Ki Ás colocou-nos todos a gritar este nome – mesmo num horário ingrato, uma vez que temos ao mesmo tempo Dj Maseo no palco Outdoor.

Vincent Mason, rapper, produtor e DJ, apresenta-se no Iminente nesta última vertente e é assim que o membro dos De La Soul nos põe a mexer, com uma playlist carregada de clássicos interrompida apenas pelas suas odes à marijuana e respetiva legalização.

Segue-se Kool G Rap – o rapper de Queens que, acompanhado por 38 Spesh, demonstrou ao público do Iminente que não é só um dos pioneiros do gangster rap, como um MC cheio de skill e os seus mais de 20 anos de carreira fazem com que já não tenha nada a provar a ninguém.

Big Noyd dá início ao concerto de Havoc. Com um excelente crowd work e energia, deixa-nos mergulhados noutra época do rap.

A atuação do membro sobrevivente dos Mobb Deep é uma homenagem constante ao seu companheiro Albert Johnson e ao legado de ambos, numa viagem visual por registos fotográficos de Prodigy, do grupo, e imagens dos seus álbuns. Survival of the Fittest deixou o público ao rubro e pudemos ainda contar com a participação de Kool G Rap.

Depois do fartote de Hip-Hop na cave, a noite segue com os DJ’s da editora Príncipe.

 

 

O terceiro e último dia do festival contou com a atuação de Napoleão Mira. O poeta fez-se acompanhar de Reflect, rapper do colectivo Kimahera para a interpretação de alguns temas do projeto de ambos 12 Canções Faladas e 1 Poema Desesperado, o clima era intimista, naquele que foi visivelmente o dia mais vazio do festival.

No palco Outdoor, Carlão introduziu-se com uma canção de #Entretenimento?, o seu mais recente álbum e de seguida lembrou Marielle Franco, assassinada há 6 meses, cuja petição para encontrar justiça em seu nome decorreu no festival. Sempre acompanhado na voz pelo talentoso Bruno Ribeiro e não menos talentosa banda, trouxe-nos ainda DJ Glue que mostrou como se mexe nos pratos e introduziu o remix de Buraka Som Sistema da Dialectos de Ternura com que Pac… ops, Carlão, terminou o concerto.

 

Foram 3 dias em que se respirou cultura no pulmão de Lisboa, 3 dias de expansão de horizontes no Panorâmico de Monsanto, que nos deixaram expectantes pela próxima edição do festival.

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