No passado sábado dia 6 de março de 2020, Nerve saiu das sombras para nos agraciar com a sua presença no famoso bar do Cais, Sabotage Club ; numa noite que prometia convidados e surpresas, o público certamente não ficou desiludido. Sendo este o seu primeiro concerto em 2020 – tendo no entanto já marcado presença este ano não só em Lisboa como no Porto com o seu projeto de poesia apelidado de Purga – Nerve, que afirma que sobe ao palco e tem um monólogo, provou ser um Monstro Social arrancando várias gargalhadas – através de saídas de humor negro- assim como fortes entoações das suas letras cativando a audiência para um espetáculo imersivo de batidas obscuras e lírica complexa, tão características da sua persona.
Il- Brutto, produtor em ascensão, ficou encarregue da primeira parte do concerto, pintando uma atmosfera para o que se avizinhava, com os seus beats sombrios e pesados perante uma sala escura com apontamentos de luz vermelha que combinavam perfeitamente com Nerve, o artista principal da noite, que apareceu de seguida – sorrateiro, mas firme – e pisou o palco ao som de Queimar Pontes – faixa do seu EP “Água do Bongo”- criando uma enorme e prevista exaltação pela parte do público, ansioso com a sua chegada. Seguiu-se a faixa Lápide e, não perdendo o ritmo perante um Sabotage completamente esgotado para ouvir o autor de Auto -Sabotagem, levou-nos numa viagem por faixas dos seus outros projetos como ´98 e Água do Bongo e parcerias como Ingrato, tema que partilha com Stereossauro e Dj Ride, a sua parte em Umbilical, com Colónia Calúnia – desta vez sobre um beat diferente – e ainda Funeral, pareceria com Mike El Nite.
Como grande surpresa da noite tivemos a presença de Tilt que foi chamado ao palco para ambos o destruírem com o tema Eliminação, o que levou os fãs ao rubro. No fim foi ainda anunciado o projeto que aí vem e que se adivinha que vá incendiar a tuga – “Escalpe”, que, nas palavras de Nerve, é nada mais, nada menos que um álbum do próprio em pareceria com Tilt e com instrumentais de IL- Brutto.
Depois deste grande momento, o artista voltou a entusiasmar o público recitando a sua emblemática canção Loba à cappela antes de fazer a plateia explodir de novo apresentando pela primeira vez ao vivo a sua mais recente faixa, Tríptico – música produzida por IL-Brutto que conta com três instrumentais diferentes. Este era um dos mais esperados momentos da noite que fez o público vibrar e gritar ,a plenos pulmões, a frase : “esqueci o teu nome, acho que vou chamar-te …um táxi “.
Após essa impressionante atuação e não dando sequer tempo aos fãs de recuperarem surpreendeu-nos, de novo, com outra obra de arte de três partes. Novamente sobre um beat de IL – Brutto, apresentou-nos um medley de músicas suas : Fumigajas do seu projeto “Palha, paus e pérolas” lançado em 2014, a emotiva Pobre de Mim do EP “Água do Bongo” e por último, como golpada final, presenteou-nos com um novo tema de cariz extremamente emotivo e vulnerável mostrando, novamente, no caso de ter restado qualquer tipo de dúvida, o talento raro que o artista possui no que toca à escrita – e também à maneira como a apresenta.
Com o culminar de um concerto em chamas – figurativa e quase literalmente, dado o calor humano que se fazia sentir – e num segundo momento à cappela recitou a sua parte em Às vezes – famosa faixa na qual participou com Slow j – fazendo assim transição para a penúltima música, a aclamada Nós e Laços. Em tom de despedida cantou Chibo, poupando assim os fãs ao suspense de um encore.
Após esta noite de puro sucesso perante uma casa a abarrotar para o ver, Nerve veio deste modo relembrar o artista completo que é – o que faz com que seja difícil nos cansarmos de o ver ao vivo. Acompanhado pelos endiabrantes instrumentais de IL- Brutto não restam dúvidas de que este génio lírico manda “linhas que linhagens hão-de ouvir nas aulas”, por enquanto, podem ir-se ouvindo as mesmas, em memoráveis concertos como este.
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Texto por Beatriz Freitas. Fotografias por Beatriz Dias.