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Masego ao vivo no Coliseu dos Recreios: UM espetáculo de magia COM O MAgo DO SAXOFONE

Uma das coisas mais bonitas de se experienciar em termos de concertos ao vivo no Coliseu dos Recreios é olhar em redor da cúpula, mesmo que por apenas uns momentos, e ver como as luzes se projetam nas extremidades da sala, enchendo a atmosfera de cor, contrastando com os vultos de mãos no ar de um mar de gente, como se de uma pintura se tratasse. Após uma espera -que pareceu infindável- para voltar a ver um coliseu cheio e mais leve de restrições, na passada terça-feira foi-nos devolvida essa poética visão, pelo encantador de multidões, Masego, que pisou este mítico palco acompanhado pelo seu saxofone mágico, pronto para contribuir para a pintura daquele quadro, num concerto que foi, de facto, arte em movimento.

A primeira estrela a iluminar o palco foi Mereba, que surpreendeu (e foi surpreendida) ao ter toda uma plateia que, embora ansiasse por Masego, estava de olhos postos nela, enquanto acompanhava algumas das suas mais conhecidas músicas e obedecia, com entusiasmo, a tudo o que a cantora propunha. Com um conjunto vermelho deslumbrante de mangas de rosa em todo o seu esplendor, a condizer com o seu cabelo em ilustre coroa e acompanhada da sua banda, a sua voz melódica, mas versátil, ia enchendo a atmosfera de antecipação.

Após este concerto, seguiu-se um compasso de espera que foi preenchido com algumas das canções mais populares que se ouvem tipicamente em saídas noturnas, o que fez os presentes parar de gritar “Masego” -apenas por breves momentos- e cantar as letras das mesmas, a plenos pulmões. E eis que o tão aguardado momento aconteceu: enquanto a banda presente em palco começava a tocar, ouvia-se um medley de algumas das músicas mais conhecidas de Masego, acompanhadas por um jogo de luzes que se mesclava com um fumo quase místico, de onde sairia em breve a presença mais desejada.

Masego desbravou, finalmente, o nevoeiro num macacão vermelho e chapéu a condizer, pronto para encantar qualquer um, ao som de uma multidão em êxtase que nunca esmoreceu. O artista não perdeu tempo e, assim que pisou o palco, procedeu a cantar algumas das favoritas do público, começando com “Navajo“, passando para “Queen Tings” – perfeita para homenagear as mulheres, neste que era o dia delas- e continuando com “Old Age” e “Lady Lady” até chegar a “Mystery Lady“, uma das suas mais conhecidas e atuais, que partilha com Don Toliver. Num dos únicos intervalos feitos entre esta entrega de hits, o artista aproveitou para dizer o quão bonitas eram as mulheres em Portugal e como andava a comer pão e queijo sem parar há dias.

Seguiu-se um conjunto de provas -como o próprio enuncia na sua canção, não apresentada nessa noite, “I do Everything”- de que o seu talento para tocar instrumentos não se estende apenas ao saxofone. Embora tenha encantado o público logo de início com solos deste mesmo instrumento, de fazer a alma querer sair do corpo, o artista de origem jamaicana mostrou dar fortes cartas no órgão, em temas como “Good & Plenty” e “Yamz”, onde fez uma especial demostração ao tocar de joelhos e com os pés, arrancando os mais sentidos gritos de apoio pela parte da plateia.

Houve vários momentos caricatos durante o espetáculo, que atribuíram um toque especial há muito não sentido. Fazendo-se acompanhar de um elevado número de adereços, o artista deleitou os fãs com momentos de diversão, destinados precisamente a entreter a plateia -não estivessem já entretidos o suficiente. Assim, fomos presenteados com malabarismo de frutas, que antecedeu o tema “Veg Out”e falhou na última parte, despertando o bom humor de Masego, o lançamento de rosas -já esperado- para o mar de pessoas aquando do tema “Passport” e um desfile de bengala enquanto bebia chá. Não satisfeito, o artista colocou ainda uma coroa, muito apropriada para cantar o tema “King´s Rant” e apresentou-nos também uma performance, na qual mostrou os seus dotes para a dança, envergando um avental de cozinha, para dançar ao som do remix do próprio da música já cantada “Mystery Lady”, que começa exatamente com a frase “Fetch me my apron, I’m finna cook” ou seja, “Tragam-me o meu avental, que eu vou cozinhar”. Neste caso, não “cozinhando” batidas, cozinhou um momento que certamente ficará na memória de quem assistiu. O artista incentivou ainda todas as pessoas a acenarem e a cantarem com ele o tema “Bye Felicia”, um tema algo empoderador.

Foram momentos como este que mostraram realmente o amor que o artista tem por atuar, algo que adiciona muito à experiência, do ponto de vista do público.

Destacamos ainda as músicas que mais agitaram os presentes, tendo em comum as batidas dançáveis e ritmos mais quentes: “Yebo/Sema”, “Prone” e a conhecida “Silver Tongue Devil”. Houve ainda um encore onde foi tocada a tão esperada “Tadow”, a música que pode ser considerada como a que atribuiu a Masego este nível de popularidade; podia ver-se inclusive um cartaz de uma fã, presente na fila da frente, que tentava informar que possuía uma tatuagem dedicada a essa música, enaltecendo o impacto da mesma. Este tema celebrizou o saxofone de Masego e a sua habilidade para o tocar de tal maneira, que a qualquer ponto do concerto a euforia subia de imediato, só de ver o artista dirigir-se ao instrumento; e também não é para menos.

Somos da opinião de que os solos de saxofone foram talvez a melhor parte de todo o espetáculo, tendo realçado o extraordinário talento deste multifacetado artista. Os solos deste instrumento em temas como “Bliss Abroad” e “Sides of Me”, onde o divinal som do saxofonerematou a a sua harmoniosa voz – e ainda alguns dotes de MC-, assim como em tantas outras músicas -destacando, claro, a “Tadow”- foram realmente a estrela do show, fazendo com que saíssemos do concerto a acreditar que se o espetáculo fosse “apenas” isso, o sucesso do mesmo seria semelhante.

Este foi um concerto onde parecia ser obrigatório levar um sorriso estampado no rosto e uma enorme vontade de dançar, indicações seguidas à risca por todos os participantes. Para além de talentoso, este artista é extremamente carismático, o que permitiu uma enorme sintonia com o público no decorrer de todo o espetáculo.

Masego expressou o seu amor por Portugal e prometeu voltar, deixando o público na expectativa de um regresso, mas a julgar pelas palavras do artista não há mesmo duas sem três e já foi anunciada uma nova data para o retorno de Masego a Portugal.

Todas as fotos são da autoria de Ana Antunes.

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