Hip Hop Rádio

Landim e Progvid apresentam “Programa” ao vivo no Village Underground

No passado sábado, dia cinco de fevereiro, o Village Underground recebeu uma das maiores lendas vivas do rap crioulo, Landim. Acompanhado por Progvid, que incendiou o local momentos antes com um DJ set, onde o trap e o drill foram estrelas, a dupla fez-se ouvir ao longo de quase duas horas de puro “rap da street”.

Num concerto que se anunciou com sendo uma apresentação do álbum “Programa”, editado em 2021, os presentes não puderam ficar desiludidos; de “Intro” a “Outro”, passando por temas como “Sauce”, “Tempu Pouko”, “#1”, “Lenda” e “Tévez”,  Landim, acompanhado dos pesados instrumentais de Progvid, encheu o palco de atitude e barras, mostrando ser, verdadeiramente, um real og do rap crioulo.

O artista aproveitou os vários momentos entre as músicas para dar ênfase a mensagens importantes de forte conteúdo social, o que contribuiu para uma maior interação com o público, sentida em toda a sala. Para além de ter aludido ao facto de alguns dos seus rapazes estarem presos e aproveitado o momento para passar uma mensagem de apelo à liberdade dos seus irmãos, destacamos o comentário relacionado a “Beija-Flor”, que explicou ser uma das mais importantes faixas para si, onde é feita uma homenagem a TWA; uma das suas grandes influências, assim como Allen Halloween, presente na casa nessa noite, que recebeu igualmente uma menção honrosa.

Houve também espaço para um especial comentário que procedeu “Blood”,- tema partilhado com Minigod, que também marcou presença em palco-, onde Landim proferiu um discurso sobre a importância de se manter fiel às suas origens e de propagar uma mensagem de autenticidade: “De onde eu venho são poucas as chances, ou és real, ou vais morrer a tentar ser real. Nós somos real n*****, respeito acima de tudo.”

A apresentação da música “Keeper” também não passou despercebida, com uma especial dedicatória do rapper a todas as mulheres: “Esta é para as minhas soldadas, mulheres guerreiras, ‘tou convosco.”

O artista contou ainda um episódio caricato sobre “Núvens”, antes da sua performance, relembrando o momento em que o seu “mano” Psyco Pdz, com quem partilha esta faixa, estava a dormir no estúdio e acordou quando ouviu o beat para a mesma. Nas palavras de Landim: “Não se dorme no estúdio”.

Numa segunda parte do concerto, o público foi brindado com faixas mais antigas, o que arrancou um elevado estado de euforia por parte do mesmo. Começando com o tema “Agrada só bó” e, logo de seguida, “Real Dimás”, Landim nunca abrandou o ritmo, impressionando com o seu flow e garra, sem nunca deixar de dar destaque às mensagens trazidas pelas sua letras, que reforçam a importância de nos relembrarmos da essência do rap e da sua cultura, como é o caso da letra desta última música mencionada, onde o artista frisa: “rap é uni tropas” e faz alusão a serem filhos de Ghoya, sobrinhos de Praga – constituinte do grupo Nigga Poison- netos de Halloween e sobrinhos de Primero G. Com esta afirmação é reforçada uma homenagem ao facto de Landim e talvez todas as suas maiores influências serem “produto di street”, assim como o rap, de uma maneira autêntica e que não deve alguma vez ser esquecida.

O rapper cantou ainda temas como “Digra”, “10 anu” e “Kruel” e terminou com “Na mó di Diós”, agradecendo ao público “maravilhoso” e deixando algumas palavras de incentivo: “Nunca desistam dos vossos sonhos. Não parem por ninguém, não deixem ninguém vos atrapalhar, sejam boas pessoas, sejam humanos, sejam bem-educados, que isso é que importa.”

Terminou assim um concerto de pura celebração do rap crioulo, da sua expressão, cultura e valores, num ambiente de lealdade ao género. A atmosfera sentida naquela sala é de realçar, pela entrega, não só por parte de Landim e Progvid e pela interação bem-humorada e quase familiar em palco, mas também pelo público, que não desapontou no que toca a apoiar e interagir com aquela que foi a apresentação do seu “primeiro álbum a sério”, como proferido por Landim – talvez por esta ser a estreia em longas-durações para ambos os artistas. Foi um real espetáculo para quem sente o rap na alma e no corpo, fielmente e desde as suas raízes.

O álbum “Programa” encontra-se disponível em todas as plataformas digitais.

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