Passava pouco das 22:30h quando o nome de Slow J foi anunciado para encerrar não só a noite do passado sábado, 29 de maio, mas também a segunda edição do Festival do Maio 2021, onde esteve presente a Hip Hop Rádio. Organizado pela Câmara Municipal do Seixal, o Parque Urbano do Seixal foi o palco escolhido para receber este evento, que nasceu com o intuito de divulgar trabalhos musicais centrados no discurso de intervenção político-social.
Conforme o artista setubalense já havia revelado nas suas redes sociais, aguardava-se para a noite de sábado um concerto acústico – um pouco diferente do habitual, não admira o que o próprio revelou, logo após interpretar “Teu Eternamente”: “Nós hoje decidimos arriscar tudo e não trazer o computador, mas tocar pela primeira vez em acústico… acho que até nos estamos a safar até agora”. Porque “diferente” não tem de ser algo negativo, este risco foi bem tomado desde o início, quando o espetáculo abriu com um agradável solo de cordas, com Nuno Cacho na guitarra portuguesa e Francis Dale na guitarra acústica. A noite já parecia prometer com estes dois instrumentos, que enriqueceram depois as interpretações e tornaram-nas mais íntimas, ao serem acompanhadas pela voz de Slow J.

Mesmo com as limitações impostas pela atual pandemia, Slow J foi sempre acarinhado pelo público ao longo da noite e o êxtase fez-se sentir assim que subiu ao palco. “FAM” foi a faixa escolhida para o arranque do concerto, que era o seu primeiro do ano, como revelou o artista no fim da música. Não parecia.
Seguiram-se “Também Sonhar” e depois “Pagar as Contas”, cujo calor do público se notou logo, merecendo o agradecimento do setubalense: “Tão lindo, Seixal”, uma frase que Slow J foi repetindo várias vezes ao longo da noite. A atual pandemia e as dificuldades sentidas pelos profissionais das artes não foram esquecidas: “Graças a Deus, como artista, tenho uma vida privilegiada mesmo nestes tempos em que todos estamos a passar tantas dificuldades”, seguindo-se um pedido do músico para que se aplaudisse em nome dos técnicos.
Chegou a vez de “Pagar as Contas” e “Cristalina”, seguida de “Muros”. O público gradualmente se fazia manifestar mais e “Muros” teve um aplauso suficientemente merecido para esta interpretação que mostrou estar superior à versão original, mas o melhor ainda estava para vir: não bastava a qualidade da interpretação deste tema, quando o músico cantou a seguir “Onde É Que Estás” e “Às Vezes”, esta última, pessoalmente, uma das mais sentidas e arrebatadoras atuações da noite.
Nem as máscaras de segurança colocadas pelo público impediram de se fazer ouvir em harmonia os versos de “Water”, em que a voz do público se misturava com a do artista logo desde o início. Como já se calculava de certa forma, esta foi uma das músicas que recebeu um dos maiores aplausos no final.
“Esta aqui não me safo”, dizia Slow J antes da faixa seguinte, “Imagina”. Possivelmente, o próprio é que não imaginava que esta seria uma das mais aclamadas da noite. Se já foi assim apenas com o artista oriundo de Setúbal em palco, então imaginemos se lá estivessem também os restantes protagonistas do tema – FRANKIEONTHEGUITAR e Ivandro…
Foi vez de chegar a grande novidade do alinhamento: Slow J cantou “Nada a Esconder” pela primeira vez ao vivo. Slow J fez jus ao título da canção e não deixou “nada a esconder” sobre as suas qualidades; aliás, foi uma das interpretações onde se notou mais segurança. Sem surpresas e tratando-se da estreia deste single em palco, o músico voltou a receber um dos mais fortes aplausos da noite. Merecido.
Depois de cantar 3,14 – tema em parceria com Gson e Sam The Kid –, o setubalense afastou-se do palco dando vez a mais um solo final de cordas por parte de Nuno Cacho e Francis Dale, que a seguir abandonaram o palco, deixando apenas Slow J em cena. Já enquanto único protagonista ali, foi vez de o músico pegar numa guitarra e interpretar ele mesmo o tema “Vida Boa”, mostrando também ele os seus dotes instrumentais sem se notar que era a primeira música tocada por si naquela noite.

À medida que o espetáculo se aproximava do fim, a noite começava cada vez mais a arrefecer, mas isso não impediu Slow J de aquecer o público com “Serenata”, com uma excelente interpretação, que contou com a ajuda do público logo desde o inicio.
Por fim, ironicamente o espetáculo fechou com “Silêncio”. Este foi um dos temas mais impactantes no público e que, aparentemente, mostrou não ter limites quanto às faixas etárias que as músicas de Slow J fascina: enquanto o músico interpretava um dos versos “Voltar a ouvir o silêncio” no início da faixa, ouve-se, algures na plateia, uma criança a replicar a palavra “Voltar” com a voz suficientemente alta para que pudesse ter sido ouvida nas proximidades e de ter também gerado reações no público que se encontrava lá perto, o qual certamente não esperava por este momento – um pormenor de ouro para fechar o alinhamento.

Terminou assim a segunda edição do Festival do Maio da melhor forma, com um concerto incrível de Slow J, onde esteve irrepreensível em geral e seguro nas suas interpretações. Tratando-se do primeiro concerto de Slow J em 2021, o próprio alinhamento escolhido para este regresso aos palcos também merece destaque, por se ter encaixado bem entre si, não deixando escapar nenhuma faixa que pudesse deixar saudades por não ter sido tocada. O público, muito reativo, aplaudiu de pé no final e foram muitas as palmas, bem como também os agradecimentos vindos do outro lado, expressados nas palavras genuínas de Slow J.