Hip Hop Rádio

F*ck you Corona! Quero as noites Hip-Hop de volta

Há meses que não vou ao sítio onde sou mais feliz. Nunca imaginei que o mundo virasse do avesso e que os únicos concertos que podia ver fossem através de LIVES de Instagram. O sentimento varia entre tristeza e raiva, mas é a esperança que tem de prevalecer. Pela cultura, pelo Hip-Hop.

Texto e fotografias por Daniel Pereira

Dia 21 de fevereiro foi a data da primeira Raia Sesh, mas também da última grande noite Hip-Hop a que fui este ano. Para quem vive na Grande Lisboa como eu vivia sabe que acaba quase por ser banal: todas as semanas (ou mesmo dias) há algo novo para ver, um concerto novo a cada esquina. Havia. É um lugar comum falar que a pandemia Covid-19 mudou a vida de todos, mas a realidade é que mudou mesmo. A cultura é ainda o setor mais afetado e talvez seja a imensa saudade dela que revela a sua importância para a sociedade. As atividades presenciais continuam suspensas, porém a cultura nunca deixou de existir, aliás, é ela que nos tem ajudado a superar esta crise. É uma forma de escape. Exige respeito, não podemos descurar algo sem o qual não conseguimos viver.

Aquela noite era especial. Os Orteum eram cabeça de cartaz de uma noite de, e para, a cultura Hip-Hop. Bdjoy, Tom, DJ Ketzal e muitos outros acompanharam a banda numa sala mítica: O Cine Incrível. Os grandes eventos estavam de volta a Almada e eu não podia estar mais contente pois apesar de não ter nascido na cidade, sinto-me um filho da terra – na altura vivia a minutos da sala de espetáculos. Pude presenciar de perto toda a envolvência daquela noite, os concertos, o público tipicamente Hip-Hop, o convívio dentro e fora da sala, antes, durante e após as atuações. Rap corrosivo, outras vezes mais melódico, improvisos, beatbox, dj sets e um público que estava lá não apenas para ver, mas para viver. Houve de tudo durante aqueles concertos e quanto mais escrevo aqui mais o sentimento de nostalgia se adensa. Não sei se isso é bom, ou mau.

Foi uma noite que não queria terminar, mas, infelizmente, acabou e mal sabia eu que não iria ter mais destas tão cedo. Passado um mês foi decretado estado de emergência. Entretanto ainda consegui ir a dois concertos, mas é esta que recordo como a última grande noite Hip-Hop deste ano. Atualmente, ainda não sei quando voltaremos aos concertos (tal como eram antes), e isso assusta-me. Os tempos são de adaptação e paciência e uma coisa é certa: a carga de tristeza presente neste desabafo é igual ao peso da esperança que tenho, e que todos devemos ter, de que um dia vai voltar tudo ao normal. Hustle, agora, mais do que nunca.

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