Entrando na Sala 2 do Hard Club, a primeira coisa que se vê é o DJ António Bandeiras. Por baixo, uma toalha com “Jesus nasceu” escrito a letras brancas num fundo vermelho, a pendurar da mesa de misturas. O DJ set pode bem ter sido tirado de uma emissão da M80 do dia 14 de Fevereiro e o público, marcadamente mais velho do que o de um concerto dos Conjunto Corona, não para de dançar.
Depois de uns vinis lançados e um copo de vinho tinto oferecido a quem se atreveu pedir, António Bandeiras abandona o palco para dar lugar a David Bruno e Marco Duarte. Entram ao som de cânticos de “Gondomar, Gondomar, Gondomar”.
O concerto começa com três temas de Último Tango em Mafamude, álbum do qual dB já se tinha despedido num concerto no Passeio das Virtudes em Junho. A terceira faixa, “Mesa para dois no Carpa” leva a um monólogo do músico, no qual pede aplausos pelas bandejas de alumínio daquele restaurante de Gaia. No entanto, David Bruno não canta só por Gaia. Canta por todas as terras, todos os subúrbios que, nas suas banalidades e personagens icónicas, encontram a sua identidade.
Por trás do produtor e do guitarrista, projetam-se imagens de Valentim Loureiro a cumprimentar Marco Paulo e, no meio de faixas sobre vigarismo e outras atividades manifestamente portuguesas encontra-se a verdadeira magia de David Bruno: tornar o foleiro romântico.
O Porto e especialmente os seus subúrbios não se distinguem pela sua riqueza arquitetónica ou pela beleza das suas paisagens, mas sim pelas pessoas que lá vivem. Pessoas como o Ninja de Gaia ou o Emplastro que parecem personagens saídas de um livro. E esses indivíduos merecem também ser celebrados.
Depois das primeiras três faixas, “Lamborghini na Roulotte” abre o apetite do público para Miramar Confidencial. Contrastando com a estética minimalista do concerto, os acordes de Marco Duarte são rasgos de energia sexual suficiente para aumentar a taxa de natalidade no país inteiro.
Mesmo sem Minus e Mike El Nite presentes – as duas features do álbum – a química entre o guitarrista e David Bruno foi suficiente para manter o interesse do público,mexendo o corpo ao som dos potentes snares, mesmo que as colunas nem sempre colaborassem perfeitamente. “Serenata em Enxo1000” foi a última faixa do LP tocada, mas depois da santola ainda houve tempo para “#150ml” de sopa. David despede-se com um pedido para que todos apoiem as suas terras, tal como ele faz com Vila Nova de Gaia.
Artigo escrito por João Norte com fotografias de Sofia Matos Silva.