Hip Hop Rádio

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SLOW J AO VIVO NO MEO ARENA: A ASCENSÃO DESDE SEMPRE ANUNCIADA

Crônica por Daniel Pereira | Fotografia de Bruno Marques

A ascensão desde sempre anunciada

A primeira vez que vi Slow J ao vivo foi em 2016.

Estávamos entre “The Free Food Tape” e “The Art of Slowing Down” e o espaço era coincidentemente (ou não) o parque das nações. Acontecia o Super Bock Super Rock e o dia era histórico: Kendrick Lamar atuava no MEO Arena.

Mas, no 3º palco, lá fora, atuava o que na altura era um newcomer, e para mim este dia também seria histórico porque tinha visto, logo ali, o quão grande Slow J se iria tornar.

Senti muita coisa nesse dia, vi o mítico concerto de Kendrick Lamar mas o “pequeno” concerto que tinha visto antes não me saía da cabeça.

“Será que um dia vamos ter um rapper português a atuar na maior sala do país?” – era a pergunta que surgiu vezes sem conta na minha mente.

Porque na nossa cultura urbana também existem artistas únicos. Slow J sempre teve algo especial, musicalmente e não só. Existem pessoas e artistas que têm energias próprias e ele está nessa fina seleção: transmite sensações que por vezes não conseguimos compreender.

Naturalmente, essa raridade artística criou a ascensão desde sempre anunciada: passados 8 anos Slow J esgotou, em nome próprio, o MEO Arena, duas vezes.

E nada mudou, é o mesmo J de sempre. Claro que muita música nova foi lançada ao longo dos anos mas a essência continua lá:

Um artista completo com a intemporalidade de “Vida Boa”, a calmaria de “Cristalina”, a caneta afiada de “Fogo”, o sentimento de “Também Sonhar”, o sucesso astronómico de “Imagina”, e podia continuar ao longo de toda a discografia pois cada faixa é única.

Também, um artista que não esquece os seus e os leva ao longo do caminho. Estas duas datas não teriam sido a mesma coisa sem a comunhão e respeito recíprocos em palco com eu.clides (abriu sabiamente o concerto), Papillon, Goias, Ivandro, Richie Campbell, Teresa Salgueiros e principalmente Gson.

Slow J não termina sozinho o seu concerto histórico no MEO Arena. Fá-lo com duas faixas em conjunto com Gson, quase como que numa passagem de testemunho para os próximos grandes momentos no Hip-Hop tuga.

A realidade é que quando o Hip-Hop é unido, será sempre grande.

40.000 pessoas viram estes concertos.

Em 2016 poucos conheciam Slow J, em 2024 todos os conhecem. E ainda bem.

Sejamos humildes o suficiente para assumir que os artistas quando são de todos, não deixam de ser nossos.

SUPER BOCK EM STOCK 2023

O festival mais bonito do outono lisboeta está de regresso nos dias 24 e 25 de novembro.

O Super Bock Em Stock traz alguma da melhor música do momento distribuída pelos vários palcos espalhados pela Avenida da Liberdade e pela Baixa de Lisboa. Neste festival a paisagem urbana da capital entrelaça-se com a melhor música do momento numa experiência verdadeiramente inesquecível. 

Compra aqui o teu bilhete e faz o aquecimento para o Super Bock em Stock, recordando a nossa emissão especial dedicada ao festival:

Morad ao vivo no Coliseu dos Recreios – 21 outubro de 2023

Desliguem os Motorola e desfrutem da energia do fenómeno espanhol

Por Diogo Marchante | Fotografia de Bruno Marques

Foi no passado dia 21 de outubro que o fenómeno do Hip-Hop espanhol, Morad, regressou a Lisboa para dar, novamente, um espetáculo memorável para os seus fãs portugueses. Mas, desta feita, num Coliseu dos Recreios completamente esgotado e ao rubro para ver o rapper de Barcelona, que já tinha causado grande furor aquando da sua vinda a Portugal para o NOS Alive 2023.

Se ainda havia dúvidas de se o sucesso dos últimos quatro anos de Morad em Espanha, também se tinha estendido ao nosso país, então todas as dúvidas acabaram com este enérgico espetáculo no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Morad chegou com tudo a Portugal, no início da sua “Eurotour”, e não podia ter sido de outra forma para poder estar ao nível dos seus fãs que o aclamaram efusivamente toda a noite.

Com concerto marcado para as 21h, às 20h a fila para o Coliseu já era bastante extensa e, quando finalmente, dentro da mítica sala de espetáculos lisboeta, se fecharam as luzes para se “bailar” ao som dos principais hits do rap, trap e drill de Morad, já todos os espetadores gritavam em uníssono pelo rapper, que veio do Hospitalet de Llobregat com um orgulho tremendo de poder voltar a atuar para os seus fãs “vizinhos”.

Ao longo de 1h30m, Morad presenteou os seus fãs com um pouco de tudo: os seus principais sucessos que o fizeram “explodir” por volta de 2020 e 2021 como “Yo No Voy”, “Motorola”, “Soñar” ou “Quando Ella Sale”; bem como sucessos mais recentes como “Mama Me Dice” e faixas do seu mais recente álbum Reinsertado (2023) como “Se Grita”. Foi uma verdadeira “viagem” por toda a carreira do rapper, mas fosse qual fosse o som, o público sabia as letras todas de cor e cantavam junto com Morad de forma efusiva deixando-o muitas vezes boquiaberto.

Morad foi retribuindo também todo o carinho e energia positiva que ia recebendo da parte dos portugueses, colocando, por exemplo, a bandeira portuguesa à sua volta enquanto cantava “Normal”, e cantando até de propósito uma música que não gosta muito de tocar ao vivo, mas que o fez por saber que os portugueses gostam muito dessa música.

Sempre muito interativo com o público, Morad teve ainda a audácia, de iniciar um debate futebolístico com o público do Coliseu, antes de começar a tocar a famosa “Como Están”, sobre qual era o melhor clube em Portugal e, sobretudo, qual era o melhor futebolista do mundo. Quanto a isso, apesar dos esforços portugueses para glorificar Cristiano Ronaldo naquele debate, entre CR7, Messi e Mbappé, a escolha do rapper espanhol, de origens marroquinas, recai sempre, pois claro, sobre o seu amigo da seleção marroquina, Achraf Hakimi.

Foi, portanto, um espetáculo que teve um pouco de tudo, uma energia vibrante e contagiante, momentos mais sentimentais, um pouco de humor à mistura também mas, sobretudo, a certeza de que Morad faz jus a toda a aura e carisma que transmite com as suas músicas e videoclips e, quando rodeado dos fãs corretos, transforma-se num grande artista de palco também.

a IGUALDADE DE ESTILOS DO MEO KALORAMA

Estivemos na segunda edição de um dos últimos festivais de verão que este ano teve mais uma vez um cartaz recheado de grandes nomes nacionais e internacionais. Apesar de uma presença modesta de artistas rap, o hip-hop fez-se sentir e muito no recinto. No Kalorama a união de estilos foi mais forte do que nunca.

Por Daniel Pereira | Fotografia de Bruno Frias e Francisco Soares

Os três dias de festival começaram cedo no parque da Bela Vista. A partir das 15h já as colunas disparavam nos vários palcos do recinto. Somos suspeitos mas gostámos sempre muito dos primeiros concertos em cartaz pois foram as sonoridades de Chelas as primeiras a subir a palco. Lá, vimos nomes que interessam aos Hip-Hop Heads, como Rato Chinês, Gui Aly, Necxo ou Snake GR mas temos a certeza que quem não os conhecia foi apanhado de surpresa pela qualidade dos mesmos. Foi sempre assim neste festival, a pluralidade na música era tanta que quem foi, foi preparado para se surpreender e “curtir” concertos fora da sua base musical.

Destaque também para outros concertos de início de tarde: a energia infindável de Pongo, as rimas afiadas de BK e a sonoridade única de Eu.Clides. Temos aqui motivos mais que suficientes para dizer que a cultura urbana esteve bem representada no festival mas destacamos também as instalações da Underdogs que deram ainda mais cor a este Kalorama.

Avançando para um período mais tardio dos dias, tivemos atuações memoráveis. Rita Vian cativou todos os presentes com a sua sonoridade eclética, FKJ deu um concerto intimista mas que meteu todos a dançar e Dino D’Santiago proporcionou um dos concertos mais especiais da edição deste ano: dialogou muito com o público sobre a importância da nossa igualidade e respeito ao próximo. Um discurso cada vez mais necessário na nossa sociedade.

Igualdade é para nós a palavra-chave do MEO KALORAMA. Apesar de uma enorme variedade de estilos (não apenas musicais), o respeito e comunhão entre público fez-se sentir mais do que em qualquer outro festival em Portugal.

E se todos respeitarmos assim as nossas diferenças, seremos finalmente iguais.

MEO SUDOESTE 2023

De 9 a 12 de agosto 2023, o MEO Sudoeste volta a marcar presença na Herdade da Casa Branca!

Lembramos que o cartaz de 25ª edição já está fechado e garante estilos musicais para todos os gostos, estando o Hip-hop bastante presente.

Amigos, praia, campismo e boa música são os ingredientes perfeitos para um verão inesquecível, o que estás à espera para garantires o teu bilhete?

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SUMOL SUMMER FEST 2023

Festivaleiro.. ATENÇÂO! A 13ª edição do Sumol Summer Fest realiza-se no Parque de Campismo do Inatel, mesmo ao lado da Praia de São João na Costa da Caparica!

É esperado que esta seja a nova nova morada do festival nos próximos anos! O que estás à espera para fazer a festa? Garante a tua entrada nesta nova versão do festival aqui

SUPER BOCK SUPER ROCK 2023

O cartaz do Super Bock Super Rock 2023 já está completo! Este ano com edição garantida no Meco, promete ser inesquecível!

O que estás à espera para garantir o teu bilhete? Sabe mais aqui

NOS ALIVE 2023

O reencontro no Passeio Marítimo de Algés está quase a chegar! Nos dias 6,7 e 8 de Julho irá realizar-se a 15ª edição do NOS ALIVE!

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Fmm sines 2022: há tanto hip-hop por esse mundo fora

Passados dois anos estivemos de volta ao festival mais multicultural de Portugal. Para a HHR, o final de julho é sempre de descoberta porque vamos a Sines, onde tem lugar o Festival Músicas do Mundo. Vem connosco e descobre o Hip-Hop, em toda a sua extensão mundial. | Por Daniel Pereira

É um facto que neste ano não tivemos nenhum rapper português presente no cartaz do FMM no entanto o Hip-Hop e a cultura urbana estiveram bem presentes.

O dia 27 de julho trouxe-nos Flavia Coelho Soundsystem e a cantora brasileira prestou uma atuação bastante enérgica em que o fast flow foi imagem (ou som) de marca. Logo de seguida foi a palco Dubioza Kolektiv, grupo bósnio, cheio de pujança, que mistura o rock, o punk e o rap.

No dia seguinte tivemos o “dia do Hip-Hop” que contou logo às 18h com Bia Ferreira num concerto cheio de “barras” que nunca mais acabavam, no bom sentido. A partir das 22h atuou James BKS, que acompanhado por Gracy Hopkins e Anna Kova e tantos outros músicos, apresentou uma autêntica “Hip-Hop Party” em que não faltou o hit “New Breed”. Seguiu-se Ana Tijoux, rapper franco-chilena, que deu um concerto que tocou, e cativou, todo o público presente no palco do Castelo.

No último dia de FMM tivemos Pedro Mafama, artista emergente português, que entrevistámos, e que te conta abaixo, em primeira pessoa, como foi o seu concerto, e muito mais…

O cartaz fechou com a atuação de Batida B2B DJ Dolores que contaram com várias músicas de rap “mixadas” com tantas outras sonoridades.

Adoramos o FMM e a comunhão que só este festival sabe fazer entre estilos. Afinal de contas Hip-Hop é isso mesmo: é união, é mistura.

Fotografias por Daniel Pereira e Carlos Pfumo

Queima Das Fitas’22 (Coimbra)

Mais um ano, mais uma voltinha pelo mundo do hip hop na Queima das Fitas de Coimbra. À boleia, de Lisabona a Coimbra, o calor veio ao pendura com Plutónio, o primeiro artista a abrir o palco principal na cidade dos estudantes em 2022. A presença do artista veio homenagear a partida precoce do presidente da Associação Académica de Coimbra, Cesário Silva, que teve um acidente fatal de carro este ano. O artista escolheu para uma despedida digna, não por acaso, a faixa “Meu Deus“, escrita num momento da vida do cantor onde este também sentiu uma perda dolorosa assim como a cidade que este ano vestiu o luto.

Este ano, Dillaz eleva o publico até ao Oitavo Céu assim que pisa o palco no conhecido Parque da Canção. O sucesso do seu último album fez se soar pelo público que se demonstrou apto ao lembrar-se de todas as frutas na cesta do artista. Não faltou nem Maçã, nem Papaia, nem uns beats mais antigos para trazer a Saudade.

A cidade dos estudantes teve, também direito a hip hop internacional. Das ruas de Barcelona até Coimbra, Morad traz as suas influências latinas nas suas batidas frenéticas e nos seus paços de dança aliciantes que metem qualquer plateia a mexer. Foi uma noite a que ninguém disse Yo No Voy, porque claramente o recinto estava cheio para sentir os ares do nosso país vizinho.

O Palco secundário também nos trouxe uma noite dedicada ao hip hop, trazendo Heartless e Holympo, que começaram as suas carreiras aqui na cidade de Coimbra. A noite levou-nos a um campo de Girassóis guiados pela voz de Benji Price. Este, acompanhado por xtinto, levam-nos por uma viagem didática até ao Éden. Só para que no final da noite, nos sentássemos todos a ter umas conversas de balcão com os Alcool Club que nem com problemas de som, nem à acapela, deixam as garrafas ou de ser Nasty. Mas vamos ser Honestos, já todos somos parte do clube.

Após a atuação de Dino D’Santiago, foi a altura do hip-hop chegar ao palco principal na última noite da Queima das Fitas’22. Com saudades de Coimbra, Lon3r Johny chega na sua nave para abrir um portal novo onde levará todo o público à loucura seja de nave ou de GT3, aqui ninguém esquecerá o Drip.

Momentos depois, Profjam de Corona na mão (a cerveja, claramente) pisa o palco, após tempos inesquecíveis de pandemia. Com Mike El Nite atrás da mesa de mistura e na back do artista, a duo maravilha continua a dar o espetáculo das suas vidas, seja no Capitólio ou na Queima.
O artista leva-nos a Malibu, com saudades do verão, os estudantes já quase que saboreiam a Água de Coco do artista. Para espanto de todos, o System foi abaixo assim que Benji Price sobe ao palco para nos trazer os grandes hits da dupla, como a Finais. Lon3r também sobe mais uma vez ao palco para nos presentear com a Damn/Sky.

E já depois de ter o público à Vontade, Mário Cotrim declara todo o amor aos seus pais a uma família que foi conquistando ao longo dos anos. Claramente que para um grande final este traz-nos os seus mais recentes sons que na promessa trazem um album novo no dia em que se fecha o recinto da Queima das Fitas de Coimbra.

HHR no Festival Iminente ’21: Quatro dias na Disneyland da cultura Urbana

Depois de alguns avanços e recuos e toda uma pandemia pelo meio, um dos mais míticos eventos voltou em toda a sua glória, para nos agraciar com o melhor que sabe fazer: enaltecer a cultura urbana. A Hip Hop Rádio marcou presença na décima edição do Festival Iminente, que decorreu entre sete a dez de outubro de 2021, quatro dias repletos das mais orgânicas expressões de arte, oferecendo exposições, instalações, graffiti, dança, tatuagens, e música…muita música.

Anteriormente realizado em Oeiras e depois no famoso Miradouro Panorâmico de Monsanto, este festival criado por Vhils tem agora uma nova casa:  Matinha, localizada num dos mais recentes e prolíficos focos de cultura em Lisboa, em constante expansão, o Beato, perto da Underdogs Gallery.

Desta vez com um tema relacionado com feira popular, fazendo alusão à diversão efémera, fugaz e elétrica da qual sentimos tanta falta, foi-nos proporcionado um recreio de arte espalhada, paredes outrora abandonadas vestidas de graffiti e outras obras de arte ocupando os espaços por artistas como Mariana a Miserável, Pedro Podre, Pipoca e OpenField, honrando um dos principais conceitos do festival: pegar em algo abandonado e fazer dele uma enorme instalação de arte, como tão bem sabe Vhils fazer.

Depois de mais de um ano a conter a vontade de atender a um bom festival, com copos reutilizáveis, pó, espaços cheios de gente e a correria entre palcos na esperança de apanhar todos os preferidos, o retorno teria de ser épico: e foi. Com cabeças de cartaz de luxo como Slum Village e The Alchemist, capazes de fazer qualquer hip hop head largar tudo e ir, a vasta oferta de performances não ficou por aí, podendo contar com mais de 50 artistas distribuídos ao longo de quatro dias cheios de cultura, na sua maioria esgotados, não diferindo muito das edições anteriores.

A festa nunca parou, tomando lugar em três palcos, para além de todo o recinto que respirava arte: Palco Gasómetro, com maior capacidade, o Palco Choque, uma literal pista de carrinhos de choque e o Palco Cine Estúdio, que nos matou as saudades de uma boa estufa de calor humano e entusiasmo.

Começámos o primeiro dia logo com uma grande voltagem de energia, numa data que parece ter sido estipulada para dançar, como tanto tínhamos saudades. Honrando o sentimento, a primeira atuação vista foi uma batalha de breakdance no Palco Choque, que mais tarde continuou no Skate Park. Acontecendo duas vezes por dia, as batalhas de breakdance revelaram-se como uma das mais entusiasmantes performances a não perder, reunindo sempre uma grande e entusiasta multidão para as ver, sempre acompanhadas pelo host Wilson e thebboywannabedj.

Não abrandando na energia e adicionando-lhe mais uns quantos volts poderosos, dirigimo-nos ao Palco Gasómetro para ver Pongo, num concerto que incendiou o palco, a plateia e todos os que poderiam estar a ouvir, mesmo que de longe. Este concerto foi a personificação de tudo o que mais sentimos falta, a energia radiante e unida de todos os presentes, o cantar em uníssono, a dança desenfreada, os empurrões, coros e pó levantado; tudo isto coordenado pela artista, que dançou e cantou incansavelmente, levando-nos desde hits como “Bruxos” -que apresentou no A COLORS SHOW – a uma nova versão de “Kalemba (Wegue Wegue)“, não fosse ela uma exintegrante de Buraka Som Sistema. A artista chegou a saltar do palco e ir dançar para o meio da multidão, tal não era a energia sentida, naquele que foi um verdadeiro grito desafogado de liberdade em forma de concerto.

 Seguiu-se Herlander, artista lisboeta que espalhou magia para uma também considerável multidão, desta vez no Palco Choque, e voltámos para o palco principal para ver outra das cabeças de cartaz da noite, Plutónio.

Não se afastando muito da energia sentida em Pongo, Plutónio veio devolver algo há muito em falta: um moshpit, ao som de “Cafeína”, um dos seus mais conhecidos temas. Este concerto serviu para mostrar que o público nunca parou de ouvir as músicas que mais gosta, como o próprio agradeceu pelo feito, tendo como prova disso o coro de vozes em uníssono, que respondia a todas as músicas apresentadas. Este coro explodiu em “Lisabona”, validando os versos: “Depois do coliseu, a única coisa que bateu mais que eu foi o corona”.

O ritmo não esmoreceu, passando desta vez para o palco Cine Estúdio com Scúru Fitchádu, numa performance de pura garra e calor humano, e seguiu-se o Palco Choque, que não estava menos cheio, onde uma multidão fez papel de carrinho, na área dos carrinhos de choque e se agrupou para ver DJ Glue. Este icónico DJ eletrizou todo o recinto, com remisturas de hinos do rap, do mais antigo ao mais recente, arrancando aplausos e gritos da plateia.

Em simultâneo estava a acontecer o concerto de DJ Shaka Lion no palco principal, numa onda mais reggae, naquele que foi um dia de triunfo para DJ’s. A noite acabou honrando este facto, de forma explosiva, com DJ Ride a causar estrago no palco Cine Estúdio, com uma destreza invejável, exibindo diversas técnicas de scratch e domínio da mesa de misturas.

Ainda a recuperar do dia um, seguiu-se o que considerámos o dia mais aceso do festival. Para além da promessa da enorme cabeça de cartaz reservada para este dia, The Alchemist, avizinhava-se um verdadeiro arraial de dança com nomes como Julinho KSD, Dino D´Santiago, Cintia e Holly.

Começando pelo concerto de Julinho KSD, naquela que foi a tão esperada apresentação ao vivo do seu primeiro álbum “Sabi na Sabura”, sentiu-se no ar toda a libertação após ano e meio de dançar em casa. Com convidados como Dino D´Santiago para cantar o tema “Kriolo” e Instinto 26 para cantar os hits “Gangsta”, “Sólido” e “Bandidas”, o público não parou um segundo, dançando ao som dos ritmos quentes e dançáveis de populares temas como “Mama Ta Xinti”, “Sentimento Safari” e “Hoji N´Ka ta Rola”. Este concerto terminou com uma roda, que levantou muita poeira ao som de “Stunka”.

De seguida dirigimo-nos ao Palco Choque para mais uma eletrizante performance, desta vez pela parte de Cíntia, que também fez uma multidão dançar ao som de populares temas como “Savana”, “African Queen”, “Grana” e um dos seus mais recentes singles “Je t’aime”. Este mesmo palco acolheria mais tarde HOLLY, que manteve em chamas todos os presentes, com ávidos remixes de obras como “Donda” de Kanye West, envergando uma sweat estampada com o nome e imagem de um dos grandes nomes do hip hop, DMX, falecido recentemente.

Este dia contou com uma das mais aguardadas e entusiasmantes performances: The Alchemist, uma verdadeira lenda no que toca a produção. Depois do aclamado álbum “Alfredo´s” que partilha com outro dos maiores nomes do hip hop atual, Freddie Gibbs, o artista preparava-se para atuar para um recinto cheio de pessoas que envergavam o merchandising da obra, em pulgas para ver um dos maiores produtores existentes, diretamente da Califórnia. The Alchemist encheu o recinto do Palco Gasómetro, onde fãs deliraram ao assistir a um puro espetáculo de mistura de poções, fazendo jus ao nome, obtendo as maiores manifestações de entusiasmo com a batida de “$500 Ounces”, ou qualquer outra faixa presente em “Alfredo´s” e beats que pareciam estar a ser cozinhados à nossa frente.

O penúltimo dia de festival não esmoreceu em termos de cabeças de cartaz de luxo, sendo o prato principal desta vez Slum Village, diretamente de Detroit.

A festa começou no palco Gasómetro com GHOYA, rapper criolo, que contou com leais fãs nas primeiras filas a cantarem os seus temas. Seguiu-se Tekilla no Palco Choque, que encantou mais uma vez com temas como “Sinónimos”, faixa que partilha com Sam The kid, “Love You”, uma das preferidas do público e mais canções do seu mais recente álbum “Olhos de Vidro”.

 O Palco Gasómetro foi ainda pisado por Chullage com o seu projeto Pretú, onde cativou toda a audiência com as suas letras carregadas de mensagem, sobre beats mordazes, alguns em colaboração com grandes nomes como Scúru Fitchádu e Cachupa Psicadélica.

 Mais tarde foi a vez de Nenny se estrear neste festival, para uma multidão enorme que ansiava a performance de temas como “Tequila” – também presente em A COLORS SHOW-, “Bússula” e “Sushi”. O principal destaque foi, no entanto, para a música “Dona Maria”, onde a artista chamou ao palco a sua mãe, acompanhada de vários familiares, para dedicar esta profunda canção, num momento que não deixou ninguém indiferente, em busca de lenços para toda a emoção sentida.

Sem grande tempo para recuperar de tanta emoção, seguiu-se um dos momentos mais altos da noite, Slum Village, que proporcionaram um concerto que ficará para sempre na história. A performance de conhecidos temas como “The Look of Love”, “Selfish” -que partilham com Kanye West- “Fall in Love” e inúmeras menções e homenagens a J Dilla vieram mostrar como se faz, num display assertivo de MCS old school, que sabem como levar uma plateia à euforia.

Seguimos para dar mais uma volta no Palco Choque onde atuou Carlitos Lagangz, rapper que deu uma aula de drill internacional aos ouvintes, colados a colunas que quase rebentaram com a agressividade das batidas.

A noite terminou com um DJ Set esgotado de Branko, que fez todo o recinto, na sua capacidade máxima, dançar ao som dos seus temas, não fosse também ele um ex-integrante de Buraka Som Sistema. A quem sobrasse dúvida, podia verificar por todo o merch, vestido pelos fãs presentes no recinto.

Não menos entusiasmante foi o quarto e último dia de festival, que arrancou com a performance de um dos mais icónicos gaienses, David Bruno, acompanhado pelos seus fiéis e talentosos comparsas, Marco Duarte e DJ António Bandeiras.

 Num trio apelidado por David Bruno como “Os power rangers de Rio Tinto”, com indumentária à altura, constituída por e somente um fato de treino, estes artistas brindaram-nos com as habituais histórias, interação com o público, crowd surf de António Bandeiras e o lançamento da regueifa e rosa de António Bandeiras, num concerto que nunca nos cansamos de ver, por ser sempre diferente, divertido e, especialmente, único.

A noite contou ainda com Pedro Mafama, na apresentação do seu novo disco “Pelo Rio Abaixo” e  Eu.Clides, que mostrou os seus dotes de cantor e produtor, tendo encantado todo o público do palco Cine Estúdio.

De destacar ainda a incrível e derradeira batalha de breakdance que ocorreu no Palco Choque, onde nem o público esteve a salvo. Os moves apresentados numa que foi uma das mais e impressionantes exibições de talento em todo o festival, acompanhados da reação efusiva de todos os que viram, vieram relembrar a relevância desta arte e a importância de se dar mais atenção à mesma. Um verdadeiro bónus em pontos de nostalgia, para quem cresceu a ver America´s Best Dance Crew, vidrado no ecrã.

Terminou assim mais uma edição de um dos mais importantes festivais para a nossa tão adorada cultura. Este festival de cariz nómada consegue ser pioneiro na sua essência e conceito, sendo assim importante enaltecer a excelente plataforma que oferece a um grande número de artistas, nas mais variadas vertentes. Depois de todos os contratempos sofridos com a pandemia e a ressacar há mais e um ano sem festivais, Vhils montou uma verdadeira Disneyland para a cultura urbana, onde certamente todos nos sentimos crianças livres e felizes outra vez, rodeadas de arte na sua forma mais pura e crua, durante quatro dias onde só apetecia gritar “finalmente”.

Mafia73 estão de regresso

“Nuvem” é o nome do tema que marca o regresso do grupo.

Mafia73 é composto por Demme, Pimp, Kush, Dvk e T-Rex. Este último teve a cargo a produção do novo tema.

O videoclipe é assinado por Smyle Mamudo Baldé.