Hip Hop Rádio

Dose Diária

Dose diária | Dirty Bungalow – Fico-me Pelo Convite feat. Carlos

Dirty Bungalow convida Carlos para Fico-me Pelo Convite.

Com uma panóplia de estilos guardados no seu arsenal sonoro, o produtor de Leiria aproveita-se da melancolia para criar o instrumental ideal para quem “quer domingos a uma segunda”. Estes pensamentos idílicos, narrados num tom inquisitivo são obra de Carlos (uma personagem que parece ter tirado lugar a Fidbek) e esta sua primeira aparição deixa um cheirinho a mistério e vontade de ter acesso a mais versos seus.

Tal como a capa do álbum apresenta, Dirty Bungalow dá-nos a banda sonora para dias onde o robe se cola ao corpo e os cereais são a refeição da manhã, tarde e noite. 

Dose diária | shrapKnel – Dumile High

shrapKnel trazem catástrofe e comédia para Dumile High.

Se as referências a banda desenhada apanharem alguém de surpresa, bem, é apenas uma metade desta dupla (Curly Castro) empolgada a debitar versos numa linguagem que junta todas estas menções à sujidade do rap mais cru. Assim que saímos deste universo aparece PremRock com um flow de quem tem o assunto sob controle e atira-nos rimas confiançudas, originando uma antítese sonora entre os dois MC’s, tornando esta faixa numa colisão onde o resultado é tudo menos desastroso. 

Com Willie Green a trazer um instrumental mais domado do que aqueles o grupo tem por hábito usar, esta faixa é um pedaço de loucura que tenta a todo o custo manter-se sã.

Dose diária | J.Rocc – Fire Dance

J.Rocc usa Fire Dance para nos mostrar como é possível usar pouco para criar sonoridades gigantescas.

A começar o instrumental com uma harmonia doce, o fundador da célebre Crew de DJs “Beat Junkies” traz até às nossas colunas um ritmo de meter respeito a qualquer um através de samples que vão do espiritual ao assombroso, alcançando o poder de abanar com qualquer sistema de som que o desafie. 

Uma faixa que carrega nostalgia sem perder o swing sujo, tornando-se a trilha musical perfeita para viagens de carro com muita estrada pela frente.

Seja nos pratos ou a sequenciar sons, J.Rocc é exímio a captar todos os rascunhos que lhe passam pela cabeça.  

Dose diária | Psypiritual & The Lasso – Zodiac Cognac

Pypiritual e The Lasso trazem influências opostas para Zodiac Cognac.

O aroma a psicadelismo paira no ar assim que o duo se apresenta com a sua produção sinestésica, versos flutuantes e uma aura capaz de nos transportar para dentro deste universo alucinogénico. 

Talvez seja a cadência do rapper do Arizona ou a eletrónica que invade o instrumental sem qualquer tipo de remorsos, a faixa traz consigo a calma de um espetro do jazz onde as rimas caem de modo orgânico em cima de pedaço de percussão que vai batendo subtilmente. 

Mesmo sem tomarmos qualquer tipo de substância capaz de alterar o nosso sistema nervoso central, Psypiritual e The Lasso conseguem colocar-nos em dimensões pouco terrestres. 

Dose diária | YL + ZOOMO – Memory Bank

YL e ZOOMO vão até ao seu Memory Bank para nos levarem desde os seus inícios até às posições atuais.

O rapper Nova Iorquino, seja ao retratar o mundano ou situações mais excêntricas, aplica-lhes uma camada de nostalgia e de naturalidade através da sua entrega que, ao ouvirmos os seus versos, entendemos que é possível ir até ao passado sem perder características que só poderiam ser encontradas na atualidade.

Com o seu irmão de armas, ZOOMO, produtor da Carolina do Norte, o instrumental adocicado ajusta-se às rimas de um MC que consegue acolher a aura de Nova Iorque sem arrefecer qualquer parte da sua personalidade. 

Dose diária | Suff Daddy – One For Rawls

Suff Daddy junta gotas de nostalgia a cada um dos elementos de One For Rawls.

Seja o baixo rechonchudo, o piano com fisionomia clássica ou a percussão suja e saltitante, o produtor e DJ usa estes três recursos de uma forma tão distinta que cada um deles tem tanta personalidade que poderiam ser uma faixa por si só. No entanto, quando tudo se cola, ouvimos ensinamentos de J Dilla por todo o lado aliados ao toque singular do artista de Berlim. 

Uma faixa tributo a J Rawls (como dita o título), Suff Daddy pega nas suas influências e constrói uma personalidade musical onde a elasticidade rítmica é a ordem do dia.

Dose diária | Ransom & Nicholas Craven – Eyes Wide Shut

Ransom e Nicholas Craven presenteiam-nos com os negativos das suas vidas em Eyes Wide Shut. 

Pronto para nos mostrar todos os demónios que circulam à sua volta, o rapper de New Jersey junta-se ao produtor Canadiano e trazem-nos as “Deleted Scenes” que, mesmo que não entrem no filme, são integrais para o som que os dois artistas desenvolvem em conjunto. 

A força de ambos culmina numa faixa onde, através de um sample que poderia ter sido retirado do final do “Shawshank Redemption”, o MC aproveita o título de Stanley Kubrick para oferecer aprendizagens embrulhadas em rimas largadas por cadências que absorvemos imediatamente.

Assim que a claquete bate, Ransom e Nicholas Craven entregam performances de grande qualidade. 

Dose diária | Guilty Simpson X Madlib – Cali Hills

Guilty Simpson e Madlib formam a dupla OJ Simpson e dedicam Cali Hills ao amigo J Dilla.

Com versos que relatam o apreço do rapper de Detroit pelo falecido Jay Dee, a faixa canaliza ritmos e melodias xamanicas e dá espaço a uma introdução que nos mostra a sua influência, que até hoje ainda é imitada e inigualável.

O MC não esconde as suas mágoas e encontros com o seu amigo, deixando-nos um faixa com um testemunho carinhoso criado por dois artistas que, até ao fim, irão carregar o nome de Dilla às costas e cada vez erguê-lo mais.

Dose diária | DJ Krush – What’s Behind Darkness?

DJ Krush leva-nos para o lado negro e desacelarado da música com What’s Behind Darkness?.

Distinto a criar atmosfera assoladoras e igualmente belas, o Produtor e DJ Japonês percorre o hip hop e todas as suas ramificações eletrónicas sombrias para nos trazer um instrumental que engole os 90’s de Nova Iorque, caindo num poço de experimentação de onde só saem as frequências onde o abstrato reina.

A facilidade em pegar nas mesmas ferramentas que qualquer outro companheiro das batidas e transfigurar os samples para outro estado de espírito é uma habilidade que consegue exercer sem grandes dificuldades.

Os arranjos de DJ Krush trazem uma aura que dificilmente é replicada, tornando cada uma das suas faixas num quadro único.

Dose diária | Jonwayne – Passing Fancies

Jonwayne prova em Passing Fancies que a complexidade e aleatoriedade dos seus versos são fruto de um cérebro equivalente.

Enquanto que um coro dá o mote para a mensagem do rapper e produtor Californiano, esta faixa mostra-nos a capacidade de alguém se agarrar ao que tem para nada ir por água abaixo, aconselhando-nos a fazer o mesmo. O instrumental guiado pelas The Mcguire Sisters torna-se melaço quando o MC lhe adiciona uma batida minimal, tornando-se um beat tão doce para os nossos ouvidos que torna-se difícil descolar os fones. 

Jonwayne abraça a sua peculiaridade desde o primeiro verso mesmo que, por vezes, não lhe agrade, e esse traço singular é que o destaca de tudo o resto. 

Dose diária | Exile – Lu Lu Bye

Exile mostra-nos a feitiçaria que é a sua relação com a arte de fazer beats.

O rapper e produtor de Los Angeles conhece a sua MPC 2000 até às entranhas e demonstra-nos o seu à vontade com o corte e costura de samples, montando ritmos que fazem tudo menos embalar-nos. Com melodias soluçadas infeciosas, o jazz e o funk correm nas pontas dos seus dedos e assim que o hip hop se mistura a consequência é divinal. 

Prolífico e multifacetado, Exile é um caleidoscópio musical que nos mostra fragmentos novos em cada projeto que lança.

Dose diária | El-P – Drones Over Bklyn

El-P com Drones Over Bklyn mostra-nos uma realidade que, pode parecer distópica, mas no fundo está bem presente no nosso dia a dia. 

Como se de uma “Guerra dos Mundos” se tratasse mas em vez de marcianos temos aeronaves, o MC e produtor Nova Iorquino narra a história de um sistema opressivo e degenerado onde o sci-fi colide de frente com a realidade. 

O instrumental abrasivo com a sua génese bizarra e de fusão mostra-nos que El-P é um mestre a desenvolver conceitos e a presentear-nos com paisagens sonoras belamente caóticas.