Os anos passam, o brio permanece. Se por um lado se cimenta a maturidade de Dealema, por outro continuam bem vincadas a irreverência e ousadia que os acompanha desde 1996. O Expresso do Submundo atracou em Braga e o Lustre abriu portas a uma noite pautada por um ambiente familiar, onde foram várias as notas de humor que pintaram aquela que se tornou, por momentos, a nossa casa.
DJ Guze girava os primeiros discos e a porta de entrada não tinha descanso: era longa a fila de pessoas que esperava entrar já a pensar na abertura do concerto. Rato54 entra para aquecer e afinar as vozes da plateia, iniciando o bom ambiente da noite: foram excelentes minutos com o rapper portuense, que só souberam a pouco porque o tempo que lhe era destinado era curto.
Mundo Segundo põe o pé no palco e atrevidamente pica o público, “toda a gente já se tinha esquecido de Dealema?”. O último concerto pré-pandemia de Dealema tinha sido neste mesmo palco para onde agora subiam . “Bom dia”, emana alegria por todos os cantos do Lustre. Seguidamente, vamos até ao Fado Vadio e, posteriormente, Escola dos 90 traz-nos recordações de um tempo que metade do público viveu e a outra metade apenas agora experienciava.
A porta foi esquecidamente deixada aberta e tons encarnados começaram a entrar no recinto. Pedia-se que se levantassem as mãos, entoava-se a uma só voz “esta casa tem demónios”; mas não só, também amor. O tema de não violência e liberdade já iniciado por Rato54, tinha agora palco:a sala do Lustre transformava-se na “Sala 101“.
Mundo Segundo prepara o publico para o que advém dizendo sem merdas que é “um dos melhores temas de sempre”. DJ Guze engana-se no beat a lançar e o MC do Porto não perde a oportunidade para referir que muitas vezes “DJ Guze é mais DJ Gozo”. A sala ri-se, o engano é a prova viva que os temos ali.
Acertadas as agulhas, emana das colunas “Brilhantes Diamantes” de Maze. Seguidamente, a bússola gira para Mundo Segundo com “Bate Palmas”. Recua-se depois até 2003 para um álbum que vai a caminho das duas décadas, “Dealema”. Entre a viagem pelos melhores temas do grupo, Expeão distribui elogios pela escrita dos colegas e confessa que está farto do rap do “blim blim”, levando a casa a reagir euforicamente. O humor continua, a energia de Expeão é contagiante, e este está tão enérgico que até faz uma bola de espelho desprender-se do teto. Mundo atira que ele é “o último rockstar”. Algo que nunca caiu foi o concerto: de faixa a faixa, entre sorrisos e batidas, escrevia-se uma bela noite de Hip Hop.
Mas o tempo não para e antes de Verdadeiros Amigos encerrar a noite, Mundo refere que nunca se sabe o dia de amanhã. O melhor será aproveitar cada concerto do coletivo como se fosse o último, pois, como nos bem ensinaram e se entoava na penúltima música da noite, nada dura para sempre.