Hip Hop Rádio

Boss AC: 20 anos de carreira a solo

Com o EP “Patrão”, lançado em Abril de 2018, Boss AC aguça o apetite dos ouvintes para o álbum, lançado no início do ano como um “aviso”. Este trabalho é composto por cinco temas e conta com as participações do coletivo Black Company e DJ Ride.

Apesar dos anos que soma de carreira, contando com seis álbuns de originais, “Patrão” é o primeiro lançamento no formato de EP. Foi neste formato que Ângelo Firmino abriu o ano, fincando de novo o seu nome com o single “Queque foi”, que teve uma propagação enorme e cujo vídeo foi verdadeiramente inesperado. O tema, à semelhança das restantes faixas do EP e do próprio álbum no geral, remete-nos para a época de início da carreira do artista, onde se destaca o estilo mandachuva, no qual se inspirou.

Em Outubro, foi lançado o álbum “A Vida Continua”, seis anos após o lançamento de “AC para os amigos”. Este novo albúm conta com as participações de Matay, Supa Squad, Ella Nor, Black Company, DJ Ride, DJ Bernas e Ferro Gaita. Como se esperava, e tendo em conta as participações já listadas, além da faceta mais clássica, o álbum contém sonoridades que se podem associar ao R&B e influências cabo-verdianas.

De acordo com a Universal Music, e tal como podemos evidenciar ao analisar as faixas, o álbum baseia-se no conceito de “Ontem, hoje e amanhã”. Ontem, porque, como foi já referido, existem fortes elos de ligação ao Mandachuva (1998). Hoje, porque continua a fazer música com sucesso, sem perder a sua identidade. Amanhã porque o artista não deixa de pensar no futuro e no que poderá vir a fazer.

“É que o novo AC é o velho AC
Se não fosse assim eu nem tava aqui”

Algumas das faixas podem associar-se facilmente a um ou vários dos conceitos temporais já referidos. Por exemplo, o conceito “Ontem” é ligado facilmente à faixa “O verdadeiro”, não só pelas participações (Black Company e DJ Ride) serem nomes de longa data, mas também pelo ritmo boom bap dos anos 90 e acima de tudo pela mensagem que é transmitida, criando um tributo ao hip-hop. Nesta faixa o artista resume as suas origens, como começou a sua carreira e o gosto pelo movimento – “Eu não sabia o que era aquilo, mas sabia que adorava”, dando-nos a conhecer um pouco do seu percurso.

Este novo albúm é um trabalho muito pessoal, não só a nível de produção mas também a nível do trabalho introspectivo que foi realizado. Apesar da sua personalidade reservada – “Comigo está tudo bem e mesmo que não estivesse eu não contava a ninguém”, na música AC expõe as suas vivências, sejam boas ou más. Entre as várias experiências relatadas pelo músico, encontramos, na faixa “Bernas”, uma recordação do modo como reagiu à morte do seu amigo Dj Bernas, que faleceu em Dezembro de 2017. A faixa “A Vida (Ela Continua)” foi a última música que Boss AC fez com o dj. É também a faixa que acaba por dar nome ao álbum. “Quem ouvir a letra, sabendo da história, parece que a música foi escrita à posteriori mas não. Foi escrita antes. E a verdade é mesmo essa. A vida continua, a gente lambe as feridas e ela continua”; afirma em entrevista à Rimas e Batidas. Neste sentido, este álbum acaba também por seu um tributo ao Dj Bernas.

Outro aspecto que se destaca é o facto do artista lançar um álbum que vai de encontro ao início da sua carreira (anos 90) numa altura em que não se pode negar a inevitável tendência trap na atualidade. Seja ou não como um meio de afirmação, o artista deixa claro que ainda faz a música que quer, da forma que quer.

“Sou do tempo do boom bap
Hoje em dia tudo é trap”

2018 é sem dúvida um ano marcante para o artista. Com 42 anos de idade e 20 de carreira a solo, Ângelo Firmino apresenta um trabalho muito pessoal, bem conseguido e com  potencial para surpreender os fãs mais antigos ou cativar novas atenções.

Escrito por: Tiago Francisco

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