Hip Hop Rádio

Rita Carvalho

TODOS LEVANTAMOS VOOS, MAS VIAJAMOS PARA LUGARES DIFERENTES

Todos levantamos voos, mas viajamos para lugares diferentes

 

Um bilhete com partida e sem regresso levou-nos ao Pavilhão Rosa Mota, no passado dia 8 de outubro. 

Foi um voo demasiado rápido – não quiséssemos nós que tivesse durado a noite toda – sem muita turbulência e com a melhor equipa a bordo: Sam the Kid e os do costume. Agora já não te imaginamos a pisar um palco  sem Orquestra e Orelha Negra, NBC, Mundo Segundo,  Dj Cruzfader , Paulo Aia nos moves, e porque já não faz sentido de outra maneira, Napoleão Mira. 

Abriste-nos o teu coração como quem abre uma caixa (quem sabe de ritmos): com intensidade e curiosidade pelo que há dentro. Sem saberes sabendo, foste andando de lado para lado, à descoberta, como se estivesses a pisar um palco pela primeira vez. 

Não é a primeira vez que nos presenteias com este momento tão confortável e sinergético acompanhado dessa grande equipa a que chamas família, mas tens a essência de tornar tudo tão especial como se fosse a primeira vez.

Foi um voo familiar: unes gerações e resistes a essa temporalidade. Desde os mais “cotas”, aos filhos e netos  dos cotas, todos lá para te ver cantar e cantar contigo. Parece que o bom gosto é mesmo Hereditário.

O momento foi único e antagónico: fizeste-nos sentir que partilhávamos o mesmo quarto, mas em que tu estavas num outro mundo…  só tu e a tua mesa, de olhos fechados, no teu íntimo, intenso, como se não existisse mais ninguém nesta tua – nossa –  viagem da vida. 

Os temas apresentados foram uma prova de que crias um eternamente hoje com a tua arte. É impossível ficar indiferente com aquilo que nos brindas. Viajamos entre bangers, clássicos, umas brincadeiras tuas com a tua drum pad,  porque, como disseste, “estávamos em família, estávamos à vontade”. 

 Este é um daqueles momentos que queremos recordar para sempre, como a nossa primeira viagem de avião.

Todos levantamos voos, mas viajamos para lugares diferentes.

Obrigado Samuel, obrigada pela viagem. 

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Na escola que é o Hard Club, os Grognation são os melhores professores

No sábado passado dia 14, tivemos encontro marcado no Hard Club com os Grognation para uma aula de anatomia.

Nada é por acaso, nem mesmo a escolha desta data que o grupo revelou ser especial. Neste que foi o primeiro concerto de apresentação do álbum “Anatomia De Grog “ não houve jogo sujo nem orelhas quentes, chapadas de luva branca.

O concerto foi uma viagem anatómica onde de música a música sentimos um upgrade na forma como estas eram cantadas. Assistimos a  um trabalho que mistura a sonoridade de Sam The Kid com as ideias do coletivo, mas também tivemos a oportunidade de viajar a sons mais antigos que o público ia pedindo. Estes professores da “nova” escola andam na via há mais de 10 anos e com eles não há o politicamente (in)correto: $em avisar, lá foram dando a sua aula, examinando o body desde a cara ao calcanhar.

No próximo sábado, dia 21, vamos ter a segunda vaga desta apresentação no Time Out Market. Deles podem esperar a máxima energia e máxima entrega porque nem faria sentido de outro modo.

Nós vamos lá estar, e tu? Vais mesmo perder a aula com os melhores professores de Portugal e arredores?

QUEIMA DAS FITAS PORTO 22: O lembrete que todos precisávamos

Passado tanto tempo desde a última edição da queima das fitas, não havia melhor maneira para voltar: uma semana cheia de Hip Hop.

O que para  muitos significava apenas o início do mês de maio, para os estudantes aquela noite de sábado a bater a 00h significava o início da melhor semana do ano. Loner Johnny foi o primeiro a estrear o palco principal do Queimódromo ( e deixem-me que vos diga que a tarefa não podia ter sido melhor entregue). A nave vai em tour e nós fomos com ela porque o verdadeiro Trapstar mostrou-nos  que nem o DAMN/SKY é o limite.

Sem adornos, banda ou qualquer tipo de “distração”, Profjam sobe ao palco apenas depois do espaço estar todo arrumado e só existir uma coisa no palco: ele próprio.  Na plateia, o pessoal estava eufórico.. Prontos para gritar WOUW. Prof, desta vez todo #000000 e não #FFFFFF, estava pronto para matar o game. Não estávamos em Malibu mas parecia: energia quente e intensa que só uma água de coco poderia fazer arrefecer o ambiente. 

Domingo é dia de família e o Julinho KSD e o Plutónio encarregaram-se de não falhar com a tradição.  Julinho trouxe as suas influências Cabo Verdianas ao palco do Queimódromo, pois só assim é que Sabi na Sabura.  Acompanhado do coletivo Instinto 26 e do seu mix cultural, atuam todos sincronizados como se o beat falasse com eles. Deste concerto só se podia esperar duas coisas: frescura e originalidade.  Plutónio é, tal como o Julinho, um artista que tem as suas origens vincadas onde procura sempre encontrar um equilíbrio entre o rap e o R&B, entre a dança e a vida de rua. 

A sua atuação teve toda uma preparação demorada não quisesse contar algumas Histórias da sua Life com o palco organizado visualmente.  A sua identidade é inconfundível no entanto pode confundir os mais sensíveis: Desde o rap cru, ao rap cantado, ao rap agressivo, ao rap emocional… Disse e repito,  Plutónio é assim que canta, é assim que atua e é assim que é – inconfundível. 

Quarta feira foi dia de Wet Bed Gang e Dillaz. Foi a primeira noite esgotada da queima, mas também, pudera não é? Por muito que já fossemos a meio da semana e isso pudesse significar algum cansaço, a cabeça só sabia dizer go, go, go. 

Não foi a primeira vez que Wet atuaram na queima das fitas, mas pareceu. Porque destes Filhos do Rossi, Malucos e Sem Juízo nunca se sabe o que se esperar. Não importa de onde éramos, naquele momento éramos todos do mesmo Bairro não querendo ninguém Voltar para Casa.  Selvagens, sem remorsos e imparáveis, são assim, inesquecíveis. Porque goste-se ou não se goste, é impossível ficar indiferente à vibe deste grupo. E isso foi, mais uma vez, comprovado. 

Quanto ao Dillaz, este nunca tinha pisado o palco mas parecia que se conheciam desde sempre. Diz-se por aí que a música é a oitava maravilha do mundo e o Dillaz não poderia ter arranjado melhor sítio para esta morar:  no Oitavo Céu

Se com ProfJam sentimos a vontade de beber água de coco, Dillaz abriu-nos o apetite para a salada de fruta mais exótica de sempre: Só com Maçãs, Mangos e Papaias.  Este protagonista mostrou-nos que não há caminho errado e que sonhar nesta vida não chega.  Entre as variações de sonoridades que prometem, vimos Dillaz, ou André como preferirem, a transcender e quebrar barreiras, finalizando da melhor maneira esta que foi a primeira noite esgotada da semana: com saudade. Infelizmente, a semana estava a chegar ao fim e a queima das fitas despedia-se do Hip Hop na penúltima noite (sexta feira) com Nenny.

A Nenny representa a jovialidade, a frescura e a wave da  música de hoje e de amanhã, mas tem em si também uma maturidade fora de série. Proporcionou-nos um dos  momentos mais emocionais da semana: chamou a sua mãe ao palco e juntas cantaram intensamente para todas as Donas Marias do Mundo. A ementa era sushi e uma boa dose de tequila à mistura. Nenny, com a sua aura jovem e cheia de energia, não deixou o público ficar indiferente tornando assim a segunda e última noite da semana esgotada inesquecível. 

Assim foi a queima muito esperada pelos estudantes que há 2 anos já não a viviam: intensa, cheia de música para todos os gostos, e acima de tudo, um lembrete de como é bom voltar à normalidade. 

A música é para toda a vida, e este festival também!

Parece mentira mas é verdade, após 2 anos parados, os festivaleiros podem agora voltar a este que é o habitat natural da música: o Vodafone Paredes de Coura está de volta!

Localizado no sítio do costume, o Vodafone Paredes de Coura conta com mais de 25 anos de história! Nasceu pelas mãos de um grupo de amigos que apenas queriam passar “um bom bocado” e hoje é considerado um dos maiores festivais de Portugal sendo que já foi considerado como um dos cinco melhores festivais de verão da Europa. 

Além das boas paisagens e ambiente envolvente, a diversidade de artistas é sem dúvida o que torna este festival tão especial.

Entre Princess Nokia, Sam the Kid com Orquestra e Orelha Negra, Conjunto Corona e muito mais.. A verdade é que o Paredes de Coura não é o mesmo sem o melhor cabeça de cartaz: TU!

Não te esqueças de dar uma olhadela no cartaz, sabemos que não te vais arrepender! De dia 16 a 20 de Agosto temos encontro marcado na Praia Fluvial do Taboão. Nós vamos lá estar, e tu? Vais mesmo deixar escapar a oportunidade de viver este que é o habitat natural da música? 

Podes garantir o teu bilhete aqui.

Até já! 😉 

CHICO DA TINA AO VIVO NO SUPERBOCK ARENA

CHICO DA TINA AO VIVO NO SUPER BOCK ARENA

E agora como é que é? Dás-nos um concerto destes e agora só nos vemos dia 22 de Janeiro em Lisboa? É que há quem te oiça todo o dia e que olhe para ti como quem olha para o Ronaldo.

O público, desde os mais novos até aos mais velhos, gritavam e ansiavam o momento em que entrasse o verdadeiro trapstar do Alto Minho com o seu triangle chest.
Até podes ter deitado e acordado late mas o concerto começou a horas: Primeiro João Não & Lil Noon, Kenny Berig, Querido Líder, TripsyHell e Silvestre e por fim chegaste tu.

Já sabemos que do Rio lima para cima és tu quem faz a lei, mas no passado Sábado foi tudo teu desde VianaViceCity até ao Pavilhão Rosa Mota (ou como agora é chamado, Super Bock Arena).

A verdade é que não havia canção do adeus perfeita para te despedires de nós mas se de beber não podes deixar, nós também não podemos deixar de te ouvir. 

 

DEAU x 22.10 x Hard Club

Passaram 16 anos. Não desde a última vez que tocaste ao vivo, mas desde a primeira vez que
pisaste este palco. Portugal tem imensos recintos e ainda assim, de Norte a
Sul, existem poucos como o Hard Club. Aliás, como a mítica sala 1 que parece ter energia
própria e que ganha vida sempre que é preenchida. Por Rita Carvalho | Fotografia de kito

Dizes ser um livro aberto, mas eu cá te acho uma caixinha de surpresas.
Passaram 16 anos, mas continuas com o brilho dos olhos do puto de 17 que pisava este
palco primeira vez. O mesmo brilho nos olhos de quando eras “apenas” um menino da
primeira fila. Porque tu és mesmo assim: independentemente de onde a vida te levar, tu
continuas humilde, sem disfarce, transparente e genuíno. Enfim, continuas D.E.A.U sabendo
nós todo o significado que esse conceito carrega.

Vimos o anular a nossa cultura durante quase 2 anos. 2 anos sem música, sem abraços, sem
saber o quão gratificante é estar horas de pé a curtir e a suar até nos faltar a voz e
magicamente nos ser atirada uma garrafa de água do palco capaz de nos fazer aguentar mais
10 horas de espetáculo. Fomos obrigados a viver em casulos este tempo todo… Mas tu fizeste
a espera valer a pena, afinal, o nosso dia precisaria da tua cor.

Desconfinamos aos poucos, com medo. Na passada sexta feira dia 22 de outubro, o medo não
teve lugar no Hard Club: Uma energia sem igual, sem horários, só tu e o teu público a celebrar
o teu novo projeto, “Cabeça a prêmio”. Todos juntos por um propósito: Música. A Tua Música.
Amas tocá-la ao vivo, e nós amamos ouvir-te. A ti, à tua Teresinha, ao Keso, ao Bezegol, ao
Mundo, ao Expeão e claro, ao DJ D-One.

A noite foi memorável como era de esperar: Não havia horas certas ou certas horas para o
início. O ponto de partida foi quando tu quiseste e nós estávamos lá à tua espera. Mostraste-
nos o que tens de novo, relembraste o que tens de antigo e ainda tiveste tempo de voltar as
origens e fazer Freestyle. Sempre com uma sede de energia do público como se fosse esta que
te alimenta e te faz continuar. Uma sintonia tão bonita que se via no brilho dos teus olhos.

Romances de autocarro são passageiros, mas este que crias connosco, com o teu
público, é vitalício. Tocar no nosso íntimo sempre foi o teu palco preferido. E nesse não há
nada que apague o teu império de sentidos. Dás-nos parte de ti e levas parte de nós.

Nunca deixes de ser o menino dos subúrbios que nós nunca deixaremos de ser
meninos da primeira fila.
Despedes-te sempre da mesma maneira, mas desta vez quem bate palmas somos nós:

OBRIGADA Daniel, ESTAMOS JUNTOS. BAMBORA.

Jimmy P apresenta “Heartbreak”: um projeto experimental e terapêutico

No passado dia 24 de outubro, Jimmy P esteve no rooftop do Espaço Porto Cruz no Cais de Gaia a apresentar o seu novo EP Heartbreak numa listening party exclusiva a convidados.

O evento estava agendado para as 18 horas, mas como a vibe assim pedia não houve nem pressas nem horários rígidos, só a certeza de que o tempo ia ser bem passado a recordar aquilo de que tanto sentimos falta: música ao vivo com uma boa companhia.

Fotografias de Igor de Aboim (https://www.instagram.com/igordeaboim/)
Fotografias de Igor de Aboim (https://www.instagram.com/igordeaboim/)

Fotografias de Igor de Aboim (https://www.instagram.com/igordeaboim/)

Mais que a apresentação do novo EP, foi a paixão, união e identidade que se viveu naquele rooftop. Desde a apresentação de novos temas à recordação de temas antigos, Jimmy desvenda que a escolha do espaço não foi por acaso: O Espaço Porto Cruz é um espaço frequentado pelo artista e parte das ideias deste ep (que sai dia 01 de outubro, não se esqueçam) nasceram ali. Afinal de contas, o estúdio do MC fica bem perto deste espaço que acaba por ser um “escape” para alguns bloqueios criativos.

A energia sempre foi on fire: Mais que amigos, eramos todos amantes daquele pôr do sol, daquela música, daquela sinergia.  

Muito mais que esqueletos, todos estavam ali de corpo e alma: Jimmy, a sua banda, Syro (com quem apresentou ao vivo o seu novo tema Volta para ti”), Guga (ao qual o Jimmy se dirige com muito orgulho afirmando que o mesmo tem um futuro promissor no rap – vale a pena recordar que o jovem lançouAmor Antigo” recentemente com selo 808 Media) e Nelson Freitas (onde juntos se alinharam perfeitamente).

Segundo Jimmy, “há alturas na vida em que temos de saltar” e este novo EP é “um projeto experimental e terapêutico” como o mesmo diz. Desenvolvido durante o 2º confinamento, verificamos que a temática do amor está bem presente como é habitual, mas com uma sonoridade diferente, mais leve e melódica. 

Não sei se a vontade de dançar era gigante porque tivemos confinados este tempo todo ou se simplesmente é mesmo a energia do Jimmy que nos deixa assim. Sei que ficaríamos ali até de madrugada e que só um taxi nos levaria a casa.

O concerto não poderia ter acabado da melhor maneira: deixamos o ano velho e vamos viver o Ano Novo. Não em dezembro, mas em pleno setembro porque o público assim o quis e haviam motivos mais que suficientes para celebrar.

O Jimmy é um artista do mundo: nasceu no Barreiro, mas entre Paris, Angola e o Grande Porto desenvolveu os seus projetos “Momento da verdade”, “#1”, “Family First”, “Essência”, “Alcateia”, “Newborn”, “Abensonhado” e o mais recente em parceria com Carolina Deslandes “Mercúrio”. Em todos eles vemos as suas influências e raízes e apesar de num estilo diferente, o seu novo EP “Heartbreak” está recheado desta identidade tão característica do rapper.

Não sei quem é que tem o coração partido, mas sei que a música é – e será sempre – um ótimo meio para canalizarmos a dor e juntar todos os pedacinhos.

Não se esqueçam: dia 1 de outubro, o EP “Heartbreak” estará disponível em todas as plataformas.

A improbabilidade e o Hard Club

“Na vida não há impossíveis”, já dizia Piruka… 2020 tem sido a prova disso.

Por Rita Carvalho | Fotografias de Beatriz Dias

Os Quatro Cantos do Hard Club continuam os mesmos, a realidade é que não. As mudanças foram notáveis: o convívio, que começa logo à sua porta, já não é uma possibilidade. Agora a fluidez acalma quando temos de tirar a temperatura antes de entrar no estabelecimento.

As 1000 almas que em tempos eram uma certeza estarem dentro da mítica sala 1 passaram a 200, a energia frenética de quem fica cansado de pé, passou a ter o seu lugar sentado… Sem tempo para Preliminares, porque o tempo estava contado, Piruka acomodou-se como se estivesse em família. E a minha pergunta é: não será mesmo onde muitos artistas se sentem em casa? Simples assim: um sofá e um candeeiro. Como se não houvesse mais nada entre nós.

Não vimos o Piruka que costumamos ver: ele bem queria, entusiasmado, demonstrando que precisava de descarregar energia. Mas não era possível. Entre temas atuais, do seu álbum antigo e do mais recente – Iluminado (que ainda está para sair) – lá foi entretendo os presentes que, por muito que fossem muito menos do que aquilo que se está a espera, em termos de sinergia foram inalcançáveis.

Parece que estamos no Sudoeste“, dizia Piruka. “O Norte é raça” dizia Jimmy P que também esteve presente e nos envolveu com dois sons dele, não deixando de mostrar a gratidão que tem por André (ou Piruka, como lhe quiserem chamar). As realidades são diferentes, mas a emoção foi tão ou mais intensa do que num “ambiente normal”.

O concerto durou pouco, ainda não eram 23h quando acabou: o tempo estava contado e nem sequer houve espaço para “só mais uma”…. Sair do Hard Club sem ser de madrugada, suada, cansada e com a voz a tremer nem pareceu realidade. Mas é assim: 2020 é mesmo o ano da improbabilidade, não é? Há de chegar o dia que voltamos à realidade que gostamos, mas até lá, vamos sendo felizes assim. Obrigada André, obrigada por permitires isso.

Vê todas as fotografias do concerto aqui

Só vou por onde me levam os meus próprios passos: Coliseu foi o destino

Não havia silêncio que se ouvisse nas ruas do Porto. Quanto mais próxima do coliseu, mais adrenalina se sentia. Crónica de Rita Carvalho.

Passo despercebida no meio da multidão, na mente levo as letras que me criaram. Realidade urbana aquela que se caracteriza neste meu Porto, naquela que foi a tua noite.

A noite é dos poetas (não de karaoke), da Juventude e daqueles que vivem de amor. Tiveste o mundo à tua volta, concentrado naquelas paredes que compõe o Teu Quarto, o Meu Coliseu.

Hereditário és, e isso ninguém te tira: vi uma diversidade de idades, de visões presentes na noite em que fizeste história, na noite em que criaste o meu teu “eternamente hoje”. Só demonstra o quão és fruto de amor, o quão aproximas gerações e fazes parte da memória de Portugal.

A intemporalidade e universalidade que me proporcionaste foi algo bastante surreal e peculiar: Foi como se estivesse em Chelas a viajar no tempo. Estranha Forma de Vida esta que me faz viajar ao 7º Céu e voltar numa questão de segundos.

Entre Mil Razões e Mil Lágrimas, a verdade saiu da caixa, saíste tu, Samuel Mira. A noite foi tua, portanto. Foi da tua omnipresença. A noite foi de Sam the Kid no seu estado mais puro e genuíno. A noite foi de Mundo Segundo, foi de Dj Cruzfader, foi de Orelha Negra, foi de Orquestra, foi de Napoleão, de NBC, de Xeg, de Sunrise, de Sp, de Carlão… A noite foi tua e de TODOS. Foi noite de cada alma que habitava naquele coliseu naquela noite. Enfim, a noite é tua todas as noites e não faria sentido se fosse de outra forma.

Este pode não ter sido o primeiro dia do resto da minha vida, mas é como se tivesse sido: rejuvenesceu de igual forma.

Obrigada Samuel, Obrigada por me rejuvenesceres sempre que te ouço.

Fotogaleria de Beatriz Dias, completa aqui.

First Steps 2019: o Hip Hop no coração da Invicta

O First Steps voltou ao Museu Soares dos Reis, num dia de celebração do Hip-Hop. Este ano, a sétima edição contou com competições de dança e graffiti, workshops de Beatbox, DJing e Mcing e exposições de fotografia urbana. Por João Norte.

Durante a tarde, batalhas First Steps deram a oportunidade aos dançarinos mais jovens de mostrar o que valem. Com quatro competições diferentes, a irreverência dos mais novos entreteve o público e preparou-o para o que viria ser um resto de dia marcado pela dança urbana.

No entanto, nem todos os olhos do público estavam centrados no recinto de dança, porque o concurso de graffiti acontecia em simultâneo. Quatro writers ocuparam-se de desenhar murais, cada um deles uma ilustração de amor ao hip-hop. Já com a tinta seca, a pintura de Tiago de Carvalho foi considerada a melhor pelo júri.

O dia deu lugar à noite e os jovens dançarinos deram lugar aos mais experientes. As pré-eliminatórias das batalhas Pro Steps começaram de uma forma diferente: os concorrentes formaram uma roda gigante na qual estavam também escondidos os jurados.

No fim, foi revelado o júri que selecionou os 4 breakers e 4 dançarinos de top style que mais surpreenderam na cypher. De seguida, os confrontos das meias finais foram sorteados e, depois das finais, Bboy Rato e Dylex saíram do Museu Soares dos Reis como vencedores do Pro Steps 2019, nas categorias de Breaking e Top Style, respetivamente.

Continuando a tradição das outras edições, o First Steps 2019 apoiou causas solidárias através da recolha de bens e fundos e da venda de bilhetes. Este ano, os ganhos reverteram para o Centro Comunitário PRADO e para o Movimento com Abrigo.

Incorporando as quatro vertentes do Hip-Hop, o First Steps assume o seu lugar como um evento que, já na sua sétima edição, continua a ser um proporcionador da cultura urbana, especialmente para os mais novos.

Fotogaleria completa por Ana Rita Félix e João Norte disponível aqui.

A Sabedoria do Hip Hop num Copo de Vinho

O concerto começou Fora d’horas como era de esperar, mas os amantes de hip hop já sabiam que isso era condição e tradição para o espetáculo incrível que se avizinhava.

Com tempo para tal, o público facilmente se ambientou à sala 1 do Hard Club, prontos para a entrada de Dj Perez. Entrou logo a matar, com Poetas de Karaoke, e no meio de misturas sublimes e bem pensadas conseguiu pôr o público a vibrar com Boss Ac e Dillaz,como se se encarasse um “pré Spliff” digno da sua entrada!

Spliff Sabe Para Onde Vai, Vai Para o Hard Club.

Entra já honrado por estar de volta a casa, por estar de volta ao seu Porto de Abrigo onde connosco se Senta Na Lua, Sem Vertigens e Simplifica: “ Poucos Mas Maravilhosos”. Tanto Spliff como Vulto, por quem estava acompanhado, já tinham estado a pisar aquele palco, mas nunca o calor humano foi tão forte como no passado 14 de Junho.  A energia e garra transbordavam as portas da sala 1 do mítico Hard Club onde o Convívio tava fixe assim, propício à Mentalidade Free de Pedro Bispo.

Bem sereno, com um sorriso contagiante acompanhado pela sua banda e Ivandro, Bispo pediu com licença e pisa o palco criando uma dualidade conectada, criando um Nós2 que desde a origem sempre foi sincero. Mais que reconfortável pelo copo de vinho que trazia na mão, estava pelo povo caloroso por quem foi recebido.  

Lembrou-nos de todos os pormenores com a ajuda de um dos fãs chamando-o ao palco para personificar Sam the Kid. Quem foi mais felizardo? “Fresh” por ter subido ao palco, ou nós por termos assistido à sua maneira tão timidamente genuína e de estar ali, a pisar o palco que todos os rappers têm o sonho de pisar?

Bispo não deixou de tocar o público com as suas palavras: a necessidade é ser dinâmico. Foi tudo como Deus quis, corremos todos como deu e fomos todos testemunhas do que não é um sonho parvo. 

Um sonho parvo não permitiria estar ali, não permitiria brindar connosco: brinde este com a mão esquerda porque o lado esquerdo é que é o lado do coração.

Reportagem por Rita Carvalho com foto-galeria por Cristina Costa para ver aqui.

The World Battle: registos dos dias 1 e 2

Dia 1: M.O.M.E.N.T.U.M nos Aliados

29 de Abril de 2019. Dia Mundial Da Dança. São 19 horas em ponto, e o topo da Avenida dos Aliados ganha um movimento especial. Ganha cor, intensidade, espirito e genuinidade. Por Rita Carvalho.

Seria possível um grupo de não mais de 10 pessoas provocar tamanha emoção? A resposta é fácil, é: The Momentum Crew. Um grupo bastante versátil, que nos presentearam com histórias e emoções diferentes: desde a intensidade que subia pelas cutículas do nosso corpo, à gargalhada mais espontânea e sincera.

Sem prioridade em impressionar, e por isso com a maior genuinidade possível, o grupo trabalhou e cativou o público de maneiras imagináveis.

Dizer que dançar não é difícil é fácil, fazê-lo tão bem como The Momentum Crew é que se torna mais difícil.

Como se o misto de emoções já não fosse suficiente, quem esteve presente teve a oportunidade de ouvir umas palavras proferidas por Max, palavras estas que carregavam uma brisa de simplicidade, motivação e emoção.

Tanto a vocês, The MomentumCrew, como a vocês público (porque sem vocês também não era possível):um “genuíno sincero e escasso obrigado”.

Haveria melhor maneira de comemorar esta dia tão especial?

Dia 2: ”Todos” no Coliseu

O segundo dia do The World Battle acabou com espetáculo que juntou os Jovens do Bairro do Cerco do Porto e os Momentum Crew. O palco foi o Coliseu do Porto. Por Ana Rita Félix.

Ouvem-se as primeiras batidas e as portas do Coliseu fecham uma por uma. No palco redondo, no centro da plateia, vê-se uma figura feminina que pinta os pés com tintas de diversas cores. A ela junta-se outra. De súbito, o ressoar do saxofone de Francisco Reis invade o Coliseu.

É assim que ‘’Todos: Sonhos em Movimento’’ se inicia. O espetáculo resulta do projeto ‘’Arte para Todos’’, promovido pela Câmara Municipal do Porto, que tem como objetivo principal a inclusão social. A direção artística é de Max Oliveira, líder dos Momentum Crew, campeões mundiais em diversos eventos de breaking.

Durante 10 meses, os participantes uniram-se em torno da arte e dança urbanas para conceber e ensaiar a performance, constituída por membros da Ginástica do Cerco do Porto, pelos MXM Crew e pelos Momentum Crew. O espetáculo foi acompanhado pelo DJ Godzi e pelo baterista Bruno Oliveira.

Fotografias por Ana Rita Félix.

Fotogaleria do primeiro dia por Rita Carvalho disponível aqui.