Hip Hop Rádio

Nuno Mina

Apaixonado por Hip Hop e cinema e apreciador profissional de cerveja.

Revival: Slim Shady está de volta!

 

É certamente um dos álbuns mais aguardados do ano e chega, já amanhã, dia 15 de dezembro.

Why, are expectations so high? / Is it the bar I set? – Walk On Water (feat. Beyoncé) 

“Revival”, 9º disco de Eminem, conta com participações como Beyoncé, Alicia Keys ou Ed Sheeran e com Dre e Rick Rubin como produtores executivos.
Com a bandeira dos EUA e o tapar da cara do rapper como capa, podemos esperar uma forte carga política neste álbum. Não só o tema “Trump”, como as questões raciais parecem estar novamente na baila.

And I admit, there have been times where it’s been embarrassin’ to be a… White boy, white boy (…) – Untouchable

Depois dos singles Walk on Water e Untouchable terem suscitado opiniões mistas por parte dos fãs,  ficamos todos à espera do resto do álbum do veterano de Detroit.

Fica com a tracklist oficial:

 

Lição nº1 “e um pouco de jazz”

O primeiro palco deste fim-de-semana é Coimbra. A cidade dos estudantes recebeu ontem, no primeiro dia de dezembro, o primeiro evento da Hip Hop Lessons. E se com a Velha Capital – emblemático coletivo conimbricense – ao volante da noite não são precisos professores, pode-se dizer que a primeira lição deu uma nova lufada de hip-hop à cidade com os Alcool Club em destaque no Avenue. Por Bruno Fidalgo de Sousa.

O registo do espaço à 1h da manhã não fazia sentido para a noite que se aproximava. A equipa da Hip Hop Rádio destacada no local chegou, curiosamente, à mesma hora que o coletivo de Sines, que ficaram “encostados ao balcão” a assistir às duas primeiras atuações. Curioso também foi que a pouca adesão que se viu na atuação de Juka se foi dissipando com a entrada de MC Ruze, do movimento 239 (movimento impulsionador do hip-hop em Coimbra), e o host desta lição.

Se o rapper de Coimbra viu o público chegar-se à frente para afirmar com ele que “na hora da verdade o rap pagou-me contas”, o coletivo de Sines, à hora marcada (3h15) lançou-se com “Honesto”. Acompanhados por um público participativo e boa-disposição em palco, deram seguimento ao entusiasmo da plateia e seguiram-se temas como “Conversas de Balcão”, “Atlantis” e “Equilíbrio.

Os acapella entre músicas adivinhavam o final e o beatbox e improviso de Sangue Bom foram visivelmente inesperados. Entusiasmados pelo ambiente geral da sala – que tão bem recebeu “Juicy” e “Qualquer coisa e um pouco de jazz” – Montana, Praso, Sangue Bom e Mass (Orteum)  foram os professores nesta lição de hip-hop. O sumário foi Club 120º, Rap Proibido e um toque de Artesanacto Vol. 2 e Alma & Perfil.

Enquanto há quem quer comprar, há quem quer vender” – repetiram vezes sem conta. Assistimos ontem, em Coimbra, a mais uma noite de hip-hop com respeito. Ruze e Juka (velha e nova escola) abriram uma cerimónia em que os Alcool Club prontamente se chegaram à frente sem apontamentos.

“Fora de Questão” encerrou a atuação – o grupo saiu sem encore e com o público a pedir mais. Enfim, “Alcool Club estraga festas”.

Fotografias por: Diana Reis

Crónica | Quem matou Ronald Opus?


“Eu nunca vou querer ganhar nada onde não há nada para ganhar”,

disse-nos ontem Holly Hood. Inicia assim a sua carta de suicídio. “Cala a Boca” e “Não Faz Isso” foram subtis crescendos de punchlines e abanões, e nas passadas duas semanas era esperada uma resposta no que deve – ou devia? – acabar por aqui.

Afinal, a primeira estrofe de uma grande música, assim como a primeira cena de um grande filme, tem uma importância intrínseca. O que seria o mundo sem a cena inicial do The Dark Knight onde nos é revelado o melhor vilão da sétima arte, o que seria o mundo sem a beleza de

“Pareceu-me que pretendias agradar-me embora não me conhecesses…”?

Grandes estrofes abrem grandes músicas. Neste “R.I.P” “não há nada para ganhar”. Encerra-se assim este caso, como o caso fictício do suicida Ronald Opus, num justo desenlace e momento iluminado do médico legista. É o fim?

Se – e é – difícil rimar contra a mais recente faixa do assassino de Golias, quero e espero que pelo menos se tente. Porque, e no fim, é esta cultura que se agita e aplaude, que faz o hip-hop vivo. E que vontade tinha a tuga de um bife à portuguesa…  O suicídio, mesmo que descargo de consciência, deve ser evitado pelo bem do hip-hop português. É bom ver boa música, é bom ver novo hip-hop todos os dias. Respostas e diss tracks? Que bem que soa esta rivalidade.

(aguardemos para que seja uma justa competição, agora que a fasquia subiu a pique)

Ontem, os cães ladraram e a caravana pode nem vir a passar. Holly Hood não é Ronald Opus. Piruka não é o homem com a arma. Quem é o suicida, afinal? Metam mais carne no assador.

Texto escrito por: Bruno Fidalgo de Sousa

Vodafone Mexefest 2017 – A música que mexe com a cidade está de volta!

O Vodafone Mexefest regressa a Lisboa nos dias 24 e 25 de novembro, transformando umas das principais artérias da capital na montra perfeita para ouvir e descobrir alguns dos artistas mais entusiasmantes do momento.

A Hip Hop Radio vai estar presente nesta que é já a sétima edição. Depois de Valete ser um dos primeiros a ser confirmados, Allen Halloween, Karlon, Statik Selektah, Oddisse, Orelha Negra, entre muitos outros, juntam-se ao cartaz para representar a cultura Hip Hop e prometem incendiar o coração de Lisboa.

A Avenida da Liberdade vai ser palco de muita música e emoção e, com tantos artistas já confirmados para apenas dois dias, promete não desiludir! Não tens desculpa para faltar. A música que mexe com a cidade está de volta… e vai estar à tua espera!

Como é belo o fado de Coimbra

“São nossas as mãos que constroem a utopia”,

estava escrito na faixa de entrada do recinto da Festa das Latas e Imposição de Insígnias, certame de receção aos novos alunos de Coimbra – que este ano sofreu algumas alterações quando comparado com os anos anteriores. O que mais se destaca é o cartaz recheado unicamente de nomes nacionais. Se o hip-hop se faz ouvir em todo o país, também faz sentido a sua presença na cidade da sabedoria e do fado.

Desta vez, Coimbra abriu a portas a novos e velhos alunos. De quinta a sábado,  Slow J, Valete, Bezegol. Daqui, partimos para o que esta geração de hip-hop nacional vai construindo: o direito de ser único, de criar arte, de se expressar. O direito de construir a utopia, como escrevem os estudantes. O direito de ter “uma vida boa”.

Lento demais para toda a gente, Slow J

Slow J abriu as hostilidades no que toca ao hip-hop em Coimbra. Sem Nerve, Gson ou Papillon no bakcup, trouxe consigo a humildade que lhe é característica.

“Arte” abriu o concerto, que rapidamente foi espelhando o The Art of Slowing Down, com os habituais Francis Dale e Fred reinventando melodias. “Comida” e “Serenata” foram algumas das músicas mais aplaudidas, mas é um facto que a forma como o recinto vibrou com “Cristalina” prova a intemporalidade do The Free Food Tape, primeiro EP do músico português.

E foi-se, assim, iniciando a construção da utopia. Porque também Slow J apresenta “o seu fado”, em “Casa”, como os estudantes o fazem em Coimbra.

Em “Fome”, música que foi muito bem-recebida pelo público, Slow J reafirmou, mais uma vez, o seu estatuto no rap. E, para fechar, Slow J reafirmou o seu estatuto na música com a sua cover bem conhecida de “Não me mintas”, de Rui Veloso, antes de sair de palco e dar um abraço coletivo aos fãs que o viam junto às grades.

Hora de ligar o Canal 115.

Valete foi trunfo nas Festas das Latas em Coimbra.

Duas e trinta da manhã. As luzes começam a chamar pelo público, a batida de Poder começa a fazer-se ouvir e a multidão a juntar-se. O general entra em campo, vestido a rigor e pronto a marchar por mais uma noite de rap consciente.

Por várias vezes, Valete profere a frase “um só caminho”. Antes de ser um rapper, Valete é hiphoper e este quer “que o movimento siga a formação original – é para afetar as pessoas, para as levar para um novo caminho, para dar a volta”, revela-nos o artista na conferência de imprensa que deu no final do concerto.

Este continua e clássicos como “Roleta Russa” ou “Não pára” agitam o público. São vários os momentos em que Keidje nem precisa de cantar, pois a assistência sabe as letras de cor. Em uníssono, gritam-se versos desde “Os Melhores Anos” até “Fim da Ditadura”.

O tempo passa rapidamente e é com grande entusiasmo que a plateia recebe a última música. “Rap Consciente” começa a entranhar-se, as mãos erguem-se ao ritmo da batida e a mensagem que o general quer fazer passar é cumprida.

“O Hip Hop tem mesmo de crescer e de se misturar. O de 2005 não pode ser o de 2016.” Contudo, não deve perder a matriz com que foi criado. O Hip Hop incomoda. E neste momento não está para incomodar”, afirmou o rapper.

Valete não teve medo de se erguer, nem de dar o peito às balas. O concerto espelhou muito bem tanto os melhores anos da sua carreira como os períodos mais difíceis em que Johnny Walker eram o seu refúgio. Contudo, passados tantos anos, continua a ser um anti-herói e esta passagem pela cidade dos estudantes vai deixar saudade.

Bezegol, o fora-da-lei

Ao quarto dia de Latada, terceiro dia de hip-hop em palco, foi a vez de assistir ao concerto elétrico de Bezegol. O MC português juntou a sua voz tão característica às vozes de um público bem constituído que acompanhou bastante bem todo o concerto, já enamorado pela guitarra de Rui Veloso – que atuou e que levou Bezegol ao palco para embalar os estudantes com “Maria”.

Entre músicas como “Tempo” e “Era Tão Bom”, constrói também ele a sua própria identidade, muito singular. Seja em “Monstro”, seja em “Fora da Lei”, o MC evoca sempre a crítica social e política e abstrai-se de ser como os outros (“Esforço-me por descobrir a forma de fugir à norma/ de ser o monstro que a vida nos torna”, canta). Em Coimbra, não foi exceção, dando brilho a um espetáculo muito bem acompanhado.

Entre “Beijos”, Bezegol meteu o hip-hop da Festa das Latas e levou-o para casa.
Afinal, é belo o fado de Coimbra. E “as mãos que constroem a utopia”.

Escrito por: Bruno Sousa e Nuno Mina

Avante pela Língua Portuguesa!

Emicida e Rael atravessaram o Atlântico para se juntarem a Capicua e Valete, e juntos encerraram a 41º edição da Festa do Avante.

Os Língua Franca entraram em palco auxiliados por D-One nos pratos, Vítor Ferreira nas ilustrações e Fred na bateria. O público recebeu com calor o grupo luso-brasileiro que abriu o concerto com “Génios Invisíveis”, prometendo um concerto dinâmico e animado, mas com espaço para falar sobre “coisas importantes”.

O concerto prosseguiu com “Ela”, o tema de estreia do grupo que homenageia a música e a importância que “Ela” tem na vida dos quatro MC’s.

A atuação de Língua Franca na Festa do Avante foi uma viagem entre o disco do grupo e as discografias dos seus membros, começando com “Rap Consciente” o tema mais recente de Valete que colocou o público em êxtase e que o rapper português interpretou com a crueza e a intensidade que o caracterizam, produzindo assim um momento poderosíssimo e uma atmosfera de revolta e ao mesmo tempo de celebração – porque é bom vê-lo de volta às músicas e aos palcos e porque todos sentimos a sua falta.

Valete  participou ainda, ao lado de Capicua em “Medusa”, o tema que dá nome ao terceiro álbum da rapper portuense e que retrata as inúmeras formas de violência que continuam a afetar e vitimar as mulheres, uma realidade nunca esquecida que Capicua relembra ainda com alguns versos de “Alfazema” numa versão partilhada com Emicida e Rael de “Rua Augusta”.

Além dos seus refrões mágicos, Rael brindou o público com “Caminho” e com “Minha Lei”, tema que pôs a plateia a cantar em uníssono “O rap é minha lei!” e que encerrou o concerto em que quem ganhou não foi só o rap, não foi só a música, foi sobretudo a língua portuguesa.

Escrito por: Mariana Marques
Fotos por: Daniel Pereira e Mariana Marques