Hip Hop Rádio

Diana Reis

Queima Das Fitas’22 (Coimbra)

Mais um ano, mais uma voltinha pelo mundo do hip hop na Queima das Fitas de Coimbra. À boleia, de Lisabona a Coimbra, o calor veio ao pendura com Plutónio, o primeiro artista a abrir o palco principal na cidade dos estudantes em 2022. A presença do artista veio homenagear a partida precoce do presidente da Associação Académica de Coimbra, Cesário Silva, que teve um acidente fatal de carro este ano. O artista escolheu para uma despedida digna, não por acaso, a faixa “Meu Deus“, escrita num momento da vida do cantor onde este também sentiu uma perda dolorosa assim como a cidade que este ano vestiu o luto.

Este ano, Dillaz eleva o publico até ao Oitavo Céu assim que pisa o palco no conhecido Parque da Canção. O sucesso do seu último album fez se soar pelo público que se demonstrou apto ao lembrar-se de todas as frutas na cesta do artista. Não faltou nem Maçã, nem Papaia, nem uns beats mais antigos para trazer a Saudade.

A cidade dos estudantes teve, também direito a hip hop internacional. Das ruas de Barcelona até Coimbra, Morad traz as suas influências latinas nas suas batidas frenéticas e nos seus paços de dança aliciantes que metem qualquer plateia a mexer. Foi uma noite a que ninguém disse Yo No Voy, porque claramente o recinto estava cheio para sentir os ares do nosso país vizinho.

O Palco secundário também nos trouxe uma noite dedicada ao hip hop, trazendo Heartless e Holympo, que começaram as suas carreiras aqui na cidade de Coimbra. A noite levou-nos a um campo de Girassóis guiados pela voz de Benji Price. Este, acompanhado por xtinto, levam-nos por uma viagem didática até ao Éden. Só para que no final da noite, nos sentássemos todos a ter umas conversas de balcão com os Alcool Club que nem com problemas de som, nem à acapela, deixam as garrafas ou de ser Nasty. Mas vamos ser Honestos, já todos somos parte do clube.

Após a atuação de Dino D’Santiago, foi a altura do hip-hop chegar ao palco principal na última noite da Queima das Fitas’22. Com saudades de Coimbra, Lon3r Johny chega na sua nave para abrir um portal novo onde levará todo o público à loucura seja de nave ou de GT3, aqui ninguém esquecerá o Drip.

Momentos depois, Profjam de Corona na mão (a cerveja, claramente) pisa o palco, após tempos inesquecíveis de pandemia. Com Mike El Nite atrás da mesa de mistura e na back do artista, a duo maravilha continua a dar o espetáculo das suas vidas, seja no Capitólio ou na Queima.
O artista leva-nos a Malibu, com saudades do verão, os estudantes já quase que saboreiam a Água de Coco do artista. Para espanto de todos, o System foi abaixo assim que Benji Price sobe ao palco para nos trazer os grandes hits da dupla, como a Finais. Lon3r também sobe mais uma vez ao palco para nos presentear com a Damn/Sky.

E já depois de ter o público à Vontade, Mário Cotrim declara todo o amor aos seus pais a uma família que foi conquistando ao longo dos anos. Claramente que para um grande final este traz-nos os seus mais recentes sons que na promessa trazem um album novo no dia em que se fecha o recinto da Queima das Fitas de Coimbra.

[FOTO-GALERIA] OROCHI @ NB COIMBRA

O concerto de Orochi foi tão bom que pareceu mentira. 

Dia 1 de Abril é sempre marcado pela incerteza, este foi marcado pelas pegadas do artista brasileiro no palco do NB de Coimbra. 

Hits como “Celebridade”, “Acelarando” e “Acende o Isqueiro” fizeram parte do repertório da noite e o público lançou a chama para cada faixa recitada pelo rapper. 

A noite foi marcada pelo Hip Hop e mesmo já de palco vazio a sala ressoou os sets dos DJs TRILLSECO e STIFF. 

Mostramos-te hoje um pouco do que se pIassou através das fotografias de Diana Reis 

Queima das fitas ’21: O Retorno

Sexta-feira acabou com a primeira Queima das Fitas, em dois anos, e parece que com o fim do festival académico terminou também o bom tempo. Um último dia de Queima, onde São Pedro não foi nada amigo dos estudantes, mas em que Baco esteve ao lado dos boémios e a festa fez-se à chuva, ao vento e ao relento.

Quando as portas do recinto abriram pela primeira vez, já se ouvia hip-hop nas filas que chegavam até à ponte de Santa Clara. Rony Fuego e Wet Bed Gang foram os primeiros a estrear o palco pós-confinamento. O protagonismo da noite vai para a energia do grupo de Vialonga que deixaram o público de mão no coração a cantar o hino de Portugal. “Nós sentimos que, como artistas do povo, mais que a questão pandémica é que nós sentimos que tínhamos que devolver ao povo (…) Em relação a hoje, foi uma noite histórica, enquanto irmãos, estamos na estrada há relativamente pouco tempo, desde 2017, e depois isto parou na altura em que o nosso comboio estava na melhor fase. Foi uma altura muito complicada mas que superámos muito bem e esta noite deu para lavar as nossas almas e estamos muito contentes e à espera do próximo jogo.”, partilharam os Wet Bed Gang com a Hip Hop Rádio após a atuação.

No segundo dia da Queima das Fitas, a nave pousou sobre o Parque da Cidade e Lon3r Johny trazia todos os lugares preenchidos. O artista presenteou o público com convidados como Profjam, Lhast e Cripta, e do nada, todas as expectativas tornaram-se realidade. O concerto deu-nos tudo desde bom som a bons visuais e uma vibe aliciante que fez o público entoar até ao fecho das portas do recinto. O artista ainda nos adiantou que há um álbum a caminho e já começamos a magicar onde é que a nave nos vai levar.

Após dois dias repletos de boa música, domingo e segunda feira foram dias dedicados às tradições académicas confinadas durante dois anos. Mas, ao quarto dia, fez-se Chá de Camomila e recebemos Toy Toy T-Rex bem relaxados e de braços abertos. Tivemos a oportunidade de observar todas as influências do artista em palco, o mix de toda a cultura que inspirou cada nota de som do seu projeto musical. O artista já tinha sido convidado à cidade na semana em que se regeu o primeiro confinamento, após adios e cancelamentos, T-Rex chega a Coimbra e manifesta um misto de emoções pelo calor na sua receção por parte do público. No mesmo dia, a dose de hip-hop volta a ser dupla no palco principal do recinto, e Plutónio traz do Bairro da Cruz Vermelha até aos estudantes, começando com uma clara sátira a todas as notícias precedentes ao concerto. O artista entrou em palco de uniforme típico de prisioneiro, algemado e acompanhado por dois oficiais da polícia. Não foi só a entrada que marcou o concerto, mas sim um repertório muito bem conhecido pelo público e ainda com direito a convidados como Richie Campbell.

No quinto dia, o palco principal pareceu sofrer alguns contratempos, Nenny e Julinho KSD sendo os alvos de falhas técnicas e má propagação de som. Os artistas viram-se obrigados a trocar o microfone a meio da performance e mesmo assim, quem estava para lá da frontline sabia-lhe a pouco o que ouvia, mas quem sabia a letra juntou-se à festa e correu-se contra o contratempo. Já no palco secundário, contámos com a companhia de vários Dj’s sets de Stiff, TrillSeco e Nedved juntamente com alguns artistas da Andamento Records; a estrela, contudo, brilhou quando Xtinto sobe ao palco com a participação especial de Dez no tema “Sangue Novo”. Se a voz em algum tempo falhou, havia quem soubesse a melodia, a letra, os acordes, os beats.

Para a Hip Hop Rádio o último dia foi na quinta feira com a participação de artistas como Waze durante a atuação dos Karetus; Madman e Mitcha no palco secundário deram a conhecer um pouco de Ponte da Barca aos estudantes, e Sacik Brow trouxe-nos uma vibe mais old school junto com R&B: nada melhor para uma balada da despedida. Não fiquem tristes, a chuva trouxe algo bom. Em Maio, voltamos.

Não há melhor rima que aquela que apela à igualdade!

São dias estranhos os que decorrem, o mundo foi apanhado de surpresa ao ser submerso por uma nova doença e o nosso organismo fracassou em defender-se, porém uma velha pandemia manifesta-se de uma maneira tão ou mais agressiva que o Covid-19 e há séculos que o organismo da sociedade luta para arranjar defesas para o expulsar de vez. Era suposto estarmos mais juntos, querermo-nos mais uns aos outros depois de meses de isolamento social, não era suposto deixarmos irmãos a perder o ar por mãos racistas.

Hoje, dia 6 de Junho, Portugal juntou-se em várias ruas e praças, Portugal chorou por caras que nunca viram e pessoas que nunca tiveram o prazer de conhecer, Portugal fez-se ouvir por todos aqueles a quem roubaram a voz. Manifestantes invadem as estradas para gritar – “BASTA!” – para que em 2020 não tenham que lutar mais por direitos fundamentais que qualquer indivíduo deveria ter. Hoje luta-se no meio do caos, em condições que nunca nos imaginaríamos, para que as gerações futuras não o tenham que fazer, pelo menos, não por isto, não pela desigualdade que se manifesta através da cor da pele, pela cultura que se herda.

Se ao menos se se respeitasse todas as pessoas de outras etnias como respeitamos as suas culturas, pois se fosse tão exótico não passar para o outro lado da estrada quando uma pessoa de cor se cruza connosco fosse tão exótico como ir a África ou ao Brazil, se talvez fosse mais ajuda humanitária dar a mão a um vizinho que precise de ajuda do que doar 1 euro ao partilhar uma publicação numa rede social, se talvez se desse mais gostos ou mais dinheiro ou mais estatuto social o racismo não existisse.

Gerson Marta, um dos organizadores da manifestação que decorreu hoje em Coimbra, partilhou com a Hip Hop Rádio – “Eu não vou passar a minha vida a ser uma cor!”. Está na hora do “ser igual” deixar de ser areia para os olhos, a poeira assentou e os crimes de ódio são evidentes.

Hoje gritamos BASTA porque todas as vidas importam.

Profjam chegou de preto para enterrar 2019

Profjam atuou no espetáculo de passagem de ano da Figueira da Foz. “Estou vestido de preto para enterrar 2019” disse o rapper durante o seu concerto.

Profjam pisou o palco da Figueira da Foz para celebrar o ano novo com o cheiro a mar do outro lado do espectro e com a promessa de álbum em janeiro. 2020 começa de luto mas não começa triste.

Podes ver alguns momentos do concerto na foto-galeria por Diana Reis.

NOS Primavera Sound, último dia e muito hip hop

Último dia do festival que ocupou o Parque da Cidade do Porto no fim de semana passado teve como cabeça de cartaz, no palco principal, Erykah Badu.

A artista deixou o público à espera durante meia hora, contudo, ninguém deixou o lugar para a ver nas primeiras ou últimas filas. Incensos foram acendidos e passados de mão em mão para “dar boa sorte” e não haver a notícia de mais um cancelamento.

A cantora fez tremer a invicta ao entrar no palco com uma indumentária estrambólica, deixando o público ao rubro. Veste o espetáculo para o despir com a voz e foi isso que a rainha do afro assumiu no NOS Primavera Sound.

Mykki Blanco, ou se preferirem, Michael David Quattlebaun Jr, espalhou o terror sonoro pelo festival. A lírica explícita e viciante, que o distingue no underground do hip hop, foi o que o diferenciou no festival.

Já no Palco Pull&Bear, Neneh Cherry, que se provou aos vinte e cinco anos ao misturar pop com house, com trihop, com spoken word, subiu ao palco mais madura, mais ela mesma. A cantora que é jazz e jaimaca, anti-aborto e pro-armas, África e Europa, deixou claro que todos são omnipresentes tanto nas suas letras como no espetáculo em si.

NOS Primavera chama Peggy ao Sound

O dia começou bem, com sol, cheiro a primavera e uma lição do professor da nova escola. Profjam subiu ao palco com Mike El Nite na back e Gui na bateria. O rapper veio limpar o roupeiro às cinco da tarde onde há três anos assistiu ao concerto de Kendrick Lamar para concretizar o sonho de atuar no NOS Primavera Sound. Finix juntou-se ao fundador da Think Music para nos deixar à vontade. Um espetáculo delirante, em plena luz do dia, só faltava ser em Malibu. Mário Cotrim ainda teve direito a concerto do público para lhe dar os parabéns atrasados.

Barrington Hendricks aka JPEGMAFIA chegou ao Primavera para fazer soundcheck agressivo já com plateia delirante. Na espera incessante, Peggy é chamado ao palco. Uma mistura agressiva talvez derivada pela experiência do rapper americano na Força Aérea e a crítica social da sua veia de jornalista é notória nas suas letras. A forte presença do artista traz o impacto social necessário, sozinho no palco não tem medo das palavras, muito menos de se atirar para o público e fazer parte dele. Moshpits constantes e uma energia delirante, “I can fucking wait until Morrissey Dies”, tema que o cantor já não presencia o público norte americano, levou o Palco Pull&Bear ao limite. “I might vote 4 Donald Trump” também foi um dos temas que Peggy fez questão de partilhar com os portugueses, a crítica ao presidente dos Estados Unidos foi uma variável constante num discurso radical e sem filtros.

Já o concerto de Mura Masa foi cancelado devido ao problema com o radar no aeroporto do Porto. A organização do festival afirma que o avião do cantor sobrevoou a cidade durante cinco horas porém foi impossível a sua aterragem, consequentemente o concerto.

Foto de Hugo Lima: www.fb.me/hugolimaphotography

NOS Primavera Sound abre as portas do recinto com hip-hop

Primeiro dia do NOS Primavera Sound e, este ano, o concerto que abriu o festival foi português. O rapper Dino D’Santiago subiu ao placo do Parque da Cidade para descer dele e juntar-se aos primeiros participantes do festival, um concerto íntimo e glorioso que chamou o sol num dia prometido de tempestade. Parece que o artista deu muito mais dele e que palcos grandes só mesmo entre quem o abraça para o ouvir.

Do mesmo modo, entre dois palcos, duas entidades distintas atuaram: Allen Halloween no Palco da Pull&Bear e Danny Brown no palco principal. O rapper luso-guineense foi a bonança depois da tempestade, o criador da Youth Kriminals traz ao fim da primavera letras intensas dançadas em flows lentos. Apesar das ameaças de depressão temporal o público juntou-se, porque afinal se alguém ficar doente já se sabe que o doutor dá drunfos.

No Palco Nos, Danny Brown transmitia uma energia frenética, uma mistura de hip hop e música electrónica. O rapper fez questão de transmitir ao público a sua energia, ninguém conseguia estar parado nem só que fosse para bater o pezinho pelos beats insanos e interferências sonoras, a marca do artista.

Neste primeiro dia, destaque também para a ação de consciência para com a pegada ecológica é notória. À entrada do recinto encontra-se uma estrutura de gradeamento com vários computadores antigos e um ecrã a passar informação sobre resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos.

O NOS Primavera continua hoje, com Profjam, J Balvin, JPEGMAFIA e Mura Masa na programação.

O rap também é delas

Hoje, dia 8 de março, celebra-se o Dia Internacional da Mulher – uma celebração da luta feminina ao longo dos anos, depois de séculos de opressão, sem direito ao voto, com fracas ou nenhumas condições de vida e de trabalho. No que toca ao hip-hop, nomeadamente no início do movimento, uma das premissas seria algo como “boy’s club, no girls allowed”, mas obviamente que assim não foi por muito tempo. Neste dia especial, onde, acima de tudo, se deve manifestar a igualdade e o respeito, delineámos uma pequeno cronologia com alguns dos nomes que deram forma – e nome – ao rap feminino ao longo dos anos | Por Diana Reis.

MC Lyte

Mc Lyte lançou o seu primeiro álbum a solo, Lyte as a Rock, em 1988. No início da sua carreira nenhuma promotora queria pagar o valor da sua música, pouca atenção por parte dos promotores teve e, contudo, unca se deixou afetar e continuou com a sua paixão. 

Em 1993, “Ruffneck” foi nomeado para o Grammy de Melhor Single de Rap. Foi a primeira MC com uma canção nomeada ao prémio – e sempre defendeu que era destrutivo para a cultura do hip hop não ter a perspectiva de uma mulher. 

Queen Latifah

Queen Latifah foi das primeiras mulheres do hip hop a abordar temas como violência doméstica, o assédio constante nas ruas e a necessidade de uma ligação entre todas as mulheres – como por exemplo nas faixas “U.N.I.T.Y.” e “Ladies first”.

O seu álbum de estreia, All Heil The Queen, editado em 1989, vendeu mais de 150.000 cópias.

Salt-N-Pepa

Em 1985, nasce o famoso trio Salt-N-Pepa. Ainda como dupla, com o nome “Super Nature”, Cheryl James e Sandra Denton lançam a faixa “The Showstopper”, em resposta ao “The Show” de Doug E Fresh. O coletivo – posteriormente com a DJ Spinderella – rimava abertamente sobre os seus desejos e a sua sexualidade em músicas como “Push It”, “Let’s talk about sex” e “Shoop”

Bahamadia

Bahamadia, rapper de Filadélfia, lança em 1996 “Kollage”, o primeiro LP a ser coproduzido e totalmente escrito por uma MC feminina, com muitas influências de jazz e soul

Um marco na história da cultura e um dos mais aclamados discos de estreia de sempre.

Foxy Brown

A novaiorquina Foxy Brown começou a sua carreira aos 15 anos, quando apareceu no álbum de LL Cool J, “Mr. Smith” no remix da faixa “I Shot Ya”.

Posteriormente, estreou-se na editora do rapper com o seu álbum III Na Na.

Lauryn Hill

Lauryn Hill tornou-se uma das maiores influências do hip hop internacional em 1998, quando lançou “The Miseducation of Lauren Hill”, um mix de temas neo-soul, repleto de letras feministas e hits como “Doo Woop (That Thing)” ou “Everything is Everything”. 

Dotada de uma rima astuciosa e de uma voz melodiosa, a rapper tornou-se um exemplo para o hip-hop no feminino e o disco é, certamente, um clássico. E, se não a reconhecerem à primeira, podem sempre ouvi-la cantar o icónico “Killing me Softly“.

Lil' Kim

A mulher que disse “got buffons eatin’ my pussy while I watch cartoons” nem precisa de introdução. Lil’ Kim não lança um álbum desde 2003 e ainda hoje se mantém no cânone do hip hop. 

Missy Elliot

Missy Elliot, depois de anos em colaborações, decidiu fazer o seu próprio álbum, intitulado de Supa Dupa Fly, que continha o hit “The rain”… “i sit on Hills like Lauryn”, um jogo de palavras num sample de um single de Ann Peebles de 1973. O videoclip foi considerado um dos vídeos musicais mais criativos para a altura.

Mas foi o terceiro álbum, Miss E… So Addictive, que nos serviu um dos maiores hinos do hip hop para todas as mulheres: “Get Ur Freak Out”

A nivel internacional, ao longo dos anos, tem se vindo a manifestar a presença de cada vez mais mulheres na industria da música e no hip hop: Nicky Minaj mantém a sua carreira desde 2009, Cardi B tem feito furor no último ano com o seu primeiro álbum e, mais recentemente, a luso-descendente IAMDDB (ou I am Diana de Brito) tem-se mostrado capaz de fazer música com muita qualidade. E, como estas, muitas mais virão, para além de várias artistas pop que têm tentado entrar no beat e na história do hip hop. 

 

Em Portugal, o cânone feminino do hip hop já é mais reduzido, mas há quem lhe dê forma:

 

Dama Bete foi apresentada como a primeira MC portuguesa, ou, pelo menos, a primeira com um contrato com editora. Em 2008 alcançou alguma fama com o álbum De Igual para Igual, com os singles “Cala-te” e “Definição do Amor”. Ambos fizeram para da banda sonora da novela juvenil Morangos com Açúcar – tudo começou num despique com o seu irmão Macaco Simão, que na altura já era nome no hip hop português. Como ele tinha um grupo de amigos, a então jovem decidiu criar o dela, chamando-lhe Blacksytem, onde acabou por conhecer Blaya.

Por outro lado, Ana Fernandes, natural do Porto, mais conhecida como Capicua, manifesta-se ainda hoje no hip hop e em grande escala, assim como Eva RapDiva, natural de Angola. Contudo, nos últimos anos têm surgido cada vez mais raparigas no ramo, embora, infelizmente, só alguns nomes perdurem: Mynda GuevaraLendáriaRussa, M7, Amaura, MaryM ou Fábia Maia têm dado cartas, seja em colaborações ou a solo, e muito se espera da sua presença no hip-hop português.

Para finalizar, duas jovens promessas: esta semana nasceu a filha dos filhos do Rossi, Nenny, com a faixa “Sushi” e que só com três minutos nos deixou a querer muito mais; e Pi, que traz consigo a poesia do boombap com o tema “Jardim Ilógico”:

Phoenix RDC: “Filho da Indústria” sai “Vencedor” de Coimbra

Para quem entrou no Look às quatro da manhã, a noite começou com umas explosões de fitas, um bom banho de espumante e uma entrada triunfante e agressiva ao som de “Coc&Weed”, tema de Phoenix RDC, que ainda não tinha pisado qualquer palco da cidade universitária e que o espaço, através do conceito “Gangsters À Sexta-Feira”, convidou para se juntar aos estudantes. A energia que enchia a discoteca era de louvar e, portanto, o MC de Vialonga achou por bem eternizar o momento com um vídeo gravado e publicado na hora na sua conta oficial do Instagram: “Disseram que eu nunca ia bater e é verdade”, surgindo um mar de luzes e berros delirantes da plateia como suporte ao rapper. Com o Melhor Álbum de Hip-Hop Português editado este ano, as expetativas estavam em alta.

Em Coimbra, Phoenix RDC “Renasceu das Cinzas” para vir dar uma lição aos académicos, mas os estudantes fizeram o trabalho de casa e vieram com as letras na ponta da língua para dar coro ao “Professor”. Por momentos, deu o palco a Tekilla para se despir das letras agressivas e festivas e regressar depois, acompanhado apenas por um microfone para dar voz ao seu rap consciente – deixando o público de lágrima no canto do olho, abraçados uns aos outros com a “Dureza” de um “Vencedor” – dando ainda mais significado à frase “eu não renasci, renascemos todos”. Porque, se o artista parava, havia ainda assim quem continuasse a cantar em uníssono.

Anunciado o fim do concerto, o público queria mais e iniciou um encore com a “Bla Bla Bla”. Phoenix RDC cedeu à vontade do público e deu o espetáculo que os estudantes tanto pediram. Para finalizar, pela segunda vez, o “Homem da Pizza” terminou com a família no palco e uma casa cheia de emoções e corações cheios de um concerto que esperamos não ser o último na cidade.

Foto-galeria de Diana Reis aqui.

TrappinHell, à boleia num Jurássico Barco

Os rumores eram que uma promotora de festas de trap não iria durar na cidade dos estudantes, mas a verdade é que a Andamento Records excedeu-se no que se trata infiltrar este género musical nas noites académicas de Coimbra. | Por Diana Reis

A festa desta passada sexta-feira, dia 1 de fevereiro, estava esperada começar há meia noite e meia. Contudo, o sistema informático do estabelecimento do Look esteve com vários problemas técnicos durante uma hora e meia. Era de esperar que durante esse tempo todo as pessoas que esperavam impacientes à porta da discoteca se fossem embora, mas faça chuva, faça vento, faz-se a festa. À porta do Look instalaram-se os fãs e os curiosos para verem Yvng Cirius e xtinto e não sairam de lá sem a satisfação de ver os grandes num pequeno palco. 

Durante essa hora e meia haviam colunas, guardas-chuvas, pessoas a cantar os temas e a gritar o nome dos artistas… a festa começou na rua.

Quando finalmente a festa passou para dentro do estabelecimento, o dj set de Stiff já estava a bombar para começar em grande. Quem gostava de trap claramente se sentiu em casa. 

Os concertos começaram por volta das duas da manhã com os artistas da Andamento Records a cuspir umas barras acabadas de sair do estúdio, novos e velhos temas entre amigos e conhecidos da cidade. Entre estes nomes estavam Palazzi, Holympo, Heartless, Shunky, trappers da nova escola mas futuros promissores.

Contudo, por muito bons que estes artistas pudessem ser, o público chamava por xtinto, rapper de Ourém, e assim que este pisou o palco como se estivesse a entrar em casa a festa atingiu o auge. Apesar do artista ter apenas vingado em popularidade este ano, as letras da sua primeira mixtape Odisseia já eram conhecidas do público. O artista provou que tinha potencial como Quentin Milller e o seu Jurássico Barco já não é uma viagem solitária mas sim abarrotada e com direito a coro. Xtinto fez-se acompanhar com Dez, amigo de infância e parceiro na música para cantar a “Íntimo” e ainda nos deu a hipótese de ver Prettieboyjohnson sem que ninguém estivesse à espera. 

Infelizmente, na hora em que Yvng Cirius subiu ao palco, meia multidão deu a festa por terminada, porém o artista marcou a sua presença com uma atuação energética e em família, com dois dos seus companheiros. Quem não conhecia, passou a conhecer mas quem ficou só estava à espera do dj set de TrillSeco para acabar a noite na companhia de um bom beat

A$AP ROCKY no NOS PRIMAVERA SOUND – LIVE, LOVE, A$AP e um bom caos organizado

Pela primeira vez em território português, o nome A$AP Rocky foi um dos que mais puxou a multidão à beira da loucura, inclusivé os fãs mais devotos que se mantiveram agarrados às grades desde a primeira nota de som esbarrada pelo vento apenas para ver o rapper e produtor num campo de visão mais aproximado da possibilidade de lhe tocar. O artista deu ontem, há meia noite e quarenta e cinco minutos, um novo significado ao que julgamos ser um caos organizado, sentiu-se paz e destruição simultaneamente, puro entretenimento, por outras palavras, “I’m ridin’ ‘round with my system pumpin’ LSD”, é uma definição perfeita do sentimento que se sente quando se ouve um concerto assim.

O concerto começou com três músicas, as três que se esperavam, previsível porém incrível – “Distorced Records”, “A$AP Forever” e “Kids Turned Out Fine”. Contudo, teremos todos que admitir que a música que deixou o público num estado trance foi L$D, tornando-se assim o clímax de um concerto onde o artista deu tudo e mesmo assim soube a pouco. Porém, acaba por haver um empate e talvez tenha havido mais que um orgasmo perante a playlist, pois “Fuckin’ Problems” trouxe memórias a várias gerações num único espaço, sendo um dos maiores hits da carreira de A$AP. O público português tem a fama de ser exigente, caloroso e, sendo o artista o quebra-corações do mundo do hip hop, não foi ao acaso que se atirou roupa interior para o palco e há quem vá ter pena de lavar as mãos depois do rapper se ter atirado para a multidão, pois tocar-lhe acaba por ser um luxo assim como tudo em torno dele.

Um concerto memorável que deixa uma breve nota: o hip hop tem todo e mais algum impacto, seja num cartaz de luxo, num palco secundário ou mesmo nas vozes frenéticas das pessoas que anseiam a sua chegada e, esperamos nós, mais para o ano.

Escrito por Diana Reis