Hip Hop Rádio

Daniel Pereira

a IGUALDADE DE ESTILOS DO MEO KALORAMA

Estivemos na segunda edição de um dos últimos festivais de verão que este ano teve mais uma vez um cartaz recheado de grandes nomes nacionais e internacionais. Apesar de uma presença modesta de artistas rap, o hip-hop fez-se sentir e muito no recinto. No Kalorama a união de estilos foi mais forte do que nunca.

Por Daniel Pereira | Fotografia de Bruno Frias e Francisco Soares

Os três dias de festival começaram cedo no parque da Bela Vista. A partir das 15h já as colunas disparavam nos vários palcos do recinto. Somos suspeitos mas gostámos sempre muito dos primeiros concertos em cartaz pois foram as sonoridades de Chelas as primeiras a subir a palco. Lá, vimos nomes que interessam aos Hip-Hop Heads, como Rato Chinês, Gui Aly, Necxo ou Snake GR mas temos a certeza que quem não os conhecia foi apanhado de surpresa pela qualidade dos mesmos. Foi sempre assim neste festival, a pluralidade na música era tanta que quem foi, foi preparado para se surpreender e “curtir” concertos fora da sua base musical.

Destaque também para outros concertos de início de tarde: a energia infindável de Pongo, as rimas afiadas de BK e a sonoridade única de Eu.Clides. Temos aqui motivos mais que suficientes para dizer que a cultura urbana esteve bem representada no festival mas destacamos também as instalações da Underdogs que deram ainda mais cor a este Kalorama.

Avançando para um período mais tardio dos dias, tivemos atuações memoráveis. Rita Vian cativou todos os presentes com a sua sonoridade eclética, FKJ deu um concerto intimista mas que meteu todos a dançar e Dino D’Santiago proporcionou um dos concertos mais especiais da edição deste ano: dialogou muito com o público sobre a importância da nossa igualidade e respeito ao próximo. Um discurso cada vez mais necessário na nossa sociedade.

Igualdade é para nós a palavra-chave do MEO KALORAMA. Apesar de uma enorme variedade de estilos (não apenas musicais), o respeito e comunhão entre público fez-se sentir mais do que em qualquer outro festival em Portugal.

E se todos respeitarmos assim as nossas diferenças, seremos finalmente iguais.

The weeknd em portugal: acima de tudo, um fenómeno musical

ARTIGO DE opinião por Daniel Pereira | FOTOGRAFIA: EVERYTHING IS NEW E dANIEL PEREIRA

Dia 6 de junho foi já há uma semana atrás e este artigo pode parecer um pouco fora de horas.

Juro que não tentei fazer aqui nenhum trocadilho com o nome da tour (Afterhours/ Till Dawn), a realidade é que precisei mesmo deste espaço de tempo para escrever umas linhas sobre o concerto de The Weeknd no Passeio Marítimo de Algés.

Muita coisa se tem passado nas últimas semanas relativamente a concertos de artistas internacionais no nosso país. Foram os incontáveis shows de Coldplay em Coimbra e ainda agora, no Porto, tivemos o Primavera Sound, com um cartaz cheio de grandes nomes. Espetáculos de encher o olho, boa música, público ao rubro e até a chuva, todos estes foram pontos de semelhança entre estes eventos e o concerto do artista canadiano.

No entanto houve algo que, para mim, Abel Tesfaye trouxe de diferente até Lisboa. Depois do concerto, em qualquer instagram “perto de si”, toda a gente viu a lua gigante, o palco que parecia uma cidade, a estátua monumental ou as pulseiras de luz (efeito giro que virou moda aparentemente) mas não são esses os fatores diferenciadores. The Weeknd conseguiu, sem qualquer conotação negativa, dar um concerto pequeno, num palco grande. O que quero dizer com isto é que apesar dorecinto enorme “à NOS ALIVE”, parecíamos estar perante uma atuação intimista, diria até, de um artista de rua que canta só para nós e nos toca de forma especial. The Weeknd nunca perdeu isto, apesar da sua ascensão estratosférica. A sua musicalidade vai-se mutando com o tempo mas a essência é igual do primeiro ao último álbum e a forma como interaje com o público também, como foi possível ver em todas as perfomances, fosse a música de 2018 ou 2023.

Talvez a prova mais “palpável” que corrobora este meu pensamento seja isto: The Weeknd passou maior parte da atuação fora do “palco principal”, longe do golden circle. Esteve quase sempre no mini palco estendido até ao centro do recinto, sentiu-se mais confortável junto do público colado às grades, que guardou “frontline” durante horas. Talvez este seja o aspeto mais hip-hop deste concerto.

E este tipo de sensações, por mais que o espetáculo visual seja tremendo, apenas a música consegue proporcionar. “É melhor ao vivo que nas músicas de estúdio”, ouvi eu muitas vezes naquela noite e tive exatamente a mesma sensação. Não deixa de ser no mínimo irónico que numa altura em que estreia a série “The Idol”, o maior trunfo de Abel continue a ser a música.

Acima de tudo, um fenómeno musical.

EMISSÃO ESPECIAL | LATÊNCIA C/XTINTO

O novo álbum de Xtinto já saiu e podes ouvir aqui na tua Hip Hop Rádio!

Nesta emissão especial vamos passar todas as faixas de “Latência”, com a condução e explicado pelo próprio.
O processo criativo, inspirações, curiosidades e muito mais, tudo contado na primeira pessoa.

Ouve abaixo!
Vê também algumas fotografias da sessão de escuta, pela lente da Inês Franco.

rEPORT SDC: HHR À CONVERSA C/ BISPO | PLUTÓNIO | iVANDRO | AJAXX

Estivemos à conversa com BispoPlutónioIvandro e Ajaxx sobre as suas carreiras, a volta aos palcos, o panorama atual da cultura Hip-Hop e tantos outros temas, que aconteceram durante a nossa passagem no festival Sol da Caparica.

Ouve abaixo esta emissão conduzida por Daniel Pereira

Vê ainda fotografias de alguns momentos Hip-Hop que aconteceram na edição deste ano do festival, por Nayara Silva e Bruno Marques.

Fmm sines 2022: há tanto hip-hop por esse mundo fora

Passados dois anos estivemos de volta ao festival mais multicultural de Portugal. Para a HHR, o final de julho é sempre de descoberta porque vamos a Sines, onde tem lugar o Festival Músicas do Mundo. Vem connosco e descobre o Hip-Hop, em toda a sua extensão mundial. | Por Daniel Pereira

É um facto que neste ano não tivemos nenhum rapper português presente no cartaz do FMM no entanto o Hip-Hop e a cultura urbana estiveram bem presentes.

O dia 27 de julho trouxe-nos Flavia Coelho Soundsystem e a cantora brasileira prestou uma atuação bastante enérgica em que o fast flow foi imagem (ou som) de marca. Logo de seguida foi a palco Dubioza Kolektiv, grupo bósnio, cheio de pujança, que mistura o rock, o punk e o rap.

No dia seguinte tivemos o “dia do Hip-Hop” que contou logo às 18h com Bia Ferreira num concerto cheio de “barras” que nunca mais acabavam, no bom sentido. A partir das 22h atuou James BKS, que acompanhado por Gracy Hopkins e Anna Kova e tantos outros músicos, apresentou uma autêntica “Hip-Hop Party” em que não faltou o hit “New Breed”. Seguiu-se Ana Tijoux, rapper franco-chilena, que deu um concerto que tocou, e cativou, todo o público presente no palco do Castelo.

No último dia de FMM tivemos Pedro Mafama, artista emergente português, que entrevistámos, e que te conta abaixo, em primeira pessoa, como foi o seu concerto, e muito mais…

O cartaz fechou com a atuação de Batida B2B DJ Dolores que contaram com várias músicas de rap “mixadas” com tantas outras sonoridades.

Adoramos o FMM e a comunhão que só este festival sabe fazer entre estilos. Afinal de contas Hip-Hop é isso mesmo: é união, é mistura.

Fotografias por Daniel Pereira e Carlos Pfumo

“É sempre uma honra, e uma responsabilidade ao mesmo tempo, trabalhar com alguém do calibre de Don Gula” – Supa Squad

“Abranda” é o single que traz de volta os Supa Squad e desta vez com uma participação de luxo: Regula. Estivemos à conversa com a dupla sobre este novo lançamento e não só… sabe mais abaixo. | Por Daniel Pereira

Qual foi o processo de criação deste novo single e o que permitem transmitir com ele?
Este tema foi criado em 2020, durante a pandemia, ainda sem a participação do Regula, e é um misto de espontaneidade no estúdio com a vontade de voltar ao Dancehall, sendo essas as nossas raízes.
É um tema que tenta mostrar como chegámos onde estamos, o nosso « status quo”, como culminação do hustle ao longo dos anos. Não chegou a ser lançado porque sentíamos que o som tinha um certo potencial que poderia não ser alcançado naquela altura. Então ficou na “gaveta“, por assim dizer.


Como surgiu o feat com o Regula?
Já desde o “System Ovaload” dos nossos primeiros singles, houve uma conexão com o Regula, ele gostou da vibe e até chegámos a participar num concerto dele, portanto já havia uma abertura para uma futura parceria. Numa das conversas com ele, mostrámos o som e foi um click para ele! Achámos que fazia todo o sentido e o resto é história!


Como se sentem em fazer um feat com um dos nomes maiores do rap nacional?
É sempre uma honra, e uma responsabilidade ao mesmo tempo, trabalhar com alguém do calibre de Don Gula. Mas sentimos que estivemos à altura e estamos todos contentes com o resultado final.


Podemos esperar novos feats com artistas hip-hop?
O hip-hop sempre se enquadrou bem nos estilos variados que apresentamos ao público, e sempre esteve presente ao longo dos anos no nosso repertório, portanto será sempre uma possibilidade, novas colaborações com artistas hip-hop!


Como será o futuro próximo dos Supa Squad?
Num período pós-pandemia, o objetivo é ir voltar à estrada e vincular os novos singles lançados assim como “recuperar o tempo perdido” com o nosso público. Preparamos também para lançar o nosso EP “Patrões”, cujo “Abranda” conta como quarto single do EP, e que irá incluir diferentes tipos de sonoridades e outras colaborações.

ENTREVISTAS ROCK IN RIO C/ BEATRIZ FREITAS & DANIEL PEREIRA

A HHR esteve nos quatro dias de Rock In Rio, maioritariamente no Palco Yorn da Chelas é o Sítio, que foi repleto de Hip-Hop.

Lá, a Beatriz Freitas e o Daniel Pereira estiveram à conversa com Valete, Kappa Jotta, 9 Miller, GROGNATION, Ary Rafeiro, Phoenix RDC, Vado, Eva RapDiva, G Fema e Malabá.

São dez entrevistas numa única edição imperdível que podes ouvir abaixo:

Fotografias por Daniel Guerreiro

o Super bock em stock está de volta e traz o hip-hop consigo

Nos dias 19 e 20 de novembro Lisboa enche-se de vida mais uma vez para ver grandes concertos.

Substituído pelo SBSR FM em Sintonia no ano passado, devido (e adaptado) à pandemia por COVID-19, o Super Bock em Stock volta este ano ao seu formato normal. Este é um festival único que foi ganhando cada vez mais fãs no nosso país, afinal são mais de 10 salas e mais de 50 artistas para ver em dois dias. A escolha é muita e não haveria melhor festival para terminar o ano.

Para os nossos ouvintes, e hip-hop heads em geral, acreditamos que nomes como Sam The Kid & Mundo Segundo, T-Rex ou David & Miguel, entre tantos outros a descobrir no cartaz completo, serão concertos obrigatórios para ver.

Em breve serão anunciados os horários oficiais.

Podes comprar o teu bilhete aqui.

Mais Um Tom de Azul – Cálculo apresentou “Royale” em Lisboa

Estávamos em pleno Halloween e a noite estava chuvosa, mas, fosse qual fosse o cenário, um concerto de Cálculo é sempre bom. O palco escolhido foi o Musicbox e a receção na capital não podia ter sido melhor.

Por Daniel Pereira \ Fotografia de Beatriz Dias

22h00 – portas abertas e uma casa (ainda) modesta – inicialmente o espetáculo seria na Casa do Capitão e dois dias antes, sendo a alteração por motivos meteorológicos. Passados dez minutos começa o concerto e a cena muda de figura. A música chama o público e o público chama a música. Quem foi, foi para ver, todos estavam à espera de ver apresentado ao vivo um dos álbuns mais melódicos (senão mesmo o mais) deste ano do rap tuga.

Cálculo percorreu todo o álbum como seria de esperar. Começou com “Quadro”, primeira faixa do disco que conta com a participação de Macaia que não esteve presente. Sem esquecer as sempre açucaradas intervenções de Steve September, houve sempre uma forte luz azul royale a iluminar o concerto. No fundo era possível ver uma alusão à “Royale Radio” e uma bela camisa azul que, confessamos, adoraríamos que Cálculo a tivesse vestido durante faixas como “Conflit$” ou “Mobile” para estas ganharem ainda mais groove.

Houve também algumas participações especiais como Nasty Factor para os temas “Boo” e “Bandida”, onde nesta última também entrou em palco Mace. Numa altura em que foram tocadas faixas de “A zul” e “Tour Quesa” como “Hugo” e “Não Paro”, Harold apareceu para “Iguais”, uma das faixas de maior sucesso do rapper de Barcelos.

“Caixinha” encerrou o concerto e o público presente foi fiel ao lema artístico de Cálculo: desprovido de (pre)conceitos e sem nunca colocar a música em gavetas, ou neste caso, em caixas.

Duas breves notas: em breve poderemos encontrar “Royale” em formato Vinil e há mais uma data de apresentação do álbum: 5 de novembro, no Hardclub.

David & Miguel aqueceram os nossos corações

Na passada quinta-feira fomos até ao Teatro Tivoli BBVA para ver David Bruno e Mike El Nite apresentarem o seu álbum conjunto “Palavras Cruzadas”. O espetáculo “David & Miguel” começou com um pequeno set de António Bandeiras no qual pudemos ouvir temas de Rita Guerra, Lucas & Matheus, entre outros clássicos da música romântica. De seguida, começou então a apresentação do álbum que percorreu faixa a faixa e onde se ouviu (e sentiu) tudo o que se esperava: romantismo, boa-disposição, sedução, desilusão amorosa e tantos outros sentimentos que chegaram até nós através das vozes de David & Miguel, da guitarra de Marco Duarte e dos pratos e (excelentes) movimentos de António Bandeiras. A última faixa do espetáculo foi “Interveniente Acidental”, música que de certa forma originou este álbum. Houve ainda encore com “Sónia” e “Inatel” e no fim, já de corações aquecidos, o público aplaudiu de pé.

Vê como foi o concerto na foto-galeria por Lucas Coelho.

“3,14” – É este amor pela cultura que me faz amar esta cultura

Há muito tempo que os dias são todos iguais. Sei que esta é já uma frase muito ouvida, mas desta vez não é necessariamente sobre estes tempos pandémicos. Tenho contacto com a cultura Hip-Hop desde que me lembro e sempre que existe um dia diferente, é um dia que fica para a história. No passado dia 17 foi assim.

Por Daniel Pereira | Fotografia de Sebas Ferreiras

Um sábado que estava a ser como todos os outros, eu nem ligava a Internet desde a hora de almoço, mas decidi ficar online por volta das 17h quando vi que o dia tinha mudado. Gson, Sam The Kid, Slow J eram os nomes do momento e 3,14, o número. Nesse momento, já o dia de tanta gente tinha mudado, e eu, naquela altura, nem tinha ouvido, nem visto, mas estava já a antecipar o que iria sentir. Meti os fones, selecionei os 2160p de resolução e carreguei play sem pausa durante todos os 5:24.

“Para tudo, som novo”, “O game tá fechado”, “Acabamos de presenciar a SANTÍSSIMA TRINDADE do hip-hop português” .

Isto não é uma análise a uma música, nem me sinto dotado para tal exercício, só gostava de partilhar o que significou para mim. Desde o sentimento na voz do refrão de Gson, às lições de vida nas rimas de Sam The Kid e Slow J, acompanhados do instrumental de Charlie beats que me levou para todo o lado, sem sair daquele coliseu. Talvez seja isso, também, o infinito.

Mais do que um lançamento que junta muitos dos melhores artistas nacionais, esta é uma música que para mim simboliza tudo o que o Hip-Hop significa. O intuito aqui não foi juntar nomes para juntar números, foi prestar um tributo a esta cultura. Mostrar que pode ser mais fácil elogiar do que criticar, que as homenagens devem ser feitas em vida.

“Não vou esperar o fim para te dizer que a tua voz importa. Não há campa com jardim, dá-me em vida uma rosa morta”.

Numa altura em que estamos todos tão distantes, fisicamente (e não só), ouvir, e ver este trabalho, fez-me acreditar que os próximos tempos poderão mesmo ser melhores. Para mim, naquela altura, os minutos seguintes foram de debate sobre o que tinha ouvido, maioritariamente com a equipa aqui da Hip Hop Rádio. Todos nos lembrámos do porquê de gostarmos tanto de Hip-Hop. Foi isto que fez mudar o meu dia.

Se 3,14 arredonda o que não tem fim, esta música aproxima-nos do infinito.

Para sempre, é este o amor pela cultura que me faz amar esta cultura.

Isto não é um throwback: muito hip-hop ao vivo com a Lume Sessions.

Foi na semana passada que estivemos no Museu da Água para algo raro nos dias de hoje: concertos aos vivo.

Tratou-se na mais nada menos que as novas edições da Lisbon Underground Music & Entertainment (LUME), produtora de eventos e curadora musical de vários estilos, com grande incidência na cultura urbana. A premissa já é conhecida: oferecer espectáculos inovadores que dão exposição a talentos portugueses, com qualidade e liberdade artística.

Desta vez, e escusado será dizer que todas as medidas de proteção adequadas as estes tempos complicados foram cumpridas, muitos foram os concertos que pudemos ver: entre outros, tivemos Lázaro, Benny B (num concerto diferente que se fez acompanhar de guitarra), Avan Gra, Mura e Young Stud.

Não queremos levantar muito o véu sobre como foram estes concertos, até porque vão poder vê-los em breve, na íntegra, no canal de YouTube da LUME SESSIONS. Podemos sim, revelar, que foi muito bom voltar a sentir estes momentos e consequentemente a gratidão para com estas produções que mantêm o movimento… em movimento.

A cultura não pode parar.

Fotografias por Lucas Coelho.