Hip Hop Rádio

Carolina Costa

Entrevista | DOTE

Estivemos à conversa com DOTE, um jovem apaixonado pela vida, genuíno e ambicioso, depois de assistirmos às gravações do seu novo videoclip.
Segundo o rapper de 21 anos, a melhor forma de o conhecer é através da sua música, ainda assim respondeu-nos a algumas perguntas:

Porquê DOTE?

Eu comecei com o pseudónimo de MC Fabinho. Era puto, todos me chamavam “Fabinho”, depois comecei a fazer Rap veio o “MC”. Quando amadureci e me encontrei musicalmente decidi mudar o nome para uma cena que representasse melhor a minha identidade como artista, e como para mim a música é um estado de espírito, surgiu o “Thought” que em inglês significa “pensamento”, pegando na fonética da palavra em português temos o “Dote” que também significa “dom” ou “talento”.

Como e porque é que começaste no mundo do hip-hop? Como é que surgiu na tua vida?

O meu primeiro contacto com o hip-hop directamente foi por volta dos 12 anos através da dança, foi através disso que comecei a ouvir Rap e imediatamente troquei o “jogo de cintura” pelo de palavras, sempre tive um bom domínio do português e uma boa comunicação pessoal, então foi quase intuitivo escrever as minhas ideias. Cheguei a gravar sozinho no mic da web do pc mas foi quando conheci o Formiga que ganhei as primeiras noções de como se gravava, de que havia uma estrutura no som, etc. Quando ouvia outros rappers sentia que também tinha algo para dizer, com o tempo vieram os flows, a métrica de escrita, os métodos de gravação… Mas a paixão e o feeling foi o que me fez querer enveredar neste meio.

Onde vais buscar inspiração para as tuas letras?

Eu não vou buscar inspiração, ela encontra-me.
É muito random, essencialmente baseio-me na minha vivência mas tanto posso estar a falar de alguma coisa que se passou comigo ou assisti em primeira pessoa, como posso pegar num tema que não faça parte da minha vida directamente mas que tenho algo a dizer sobre isso.
No meu caso a vibe define a linha do som… Alguns demoro dias, outros demoro horas, não tenho nenhum método definido.

Artistas que mais gostas e que são uma inspiração para ti?

Tenho imensas inspirações, gosto de ouvir Rap (Trap ou Boom Bap), RnB, Blues, Jazz, Liquid, Funk, Kuduro… Prefiro nomear os registos que ouço do que os artistas, porque gosto de tudo o que for “música para os meus ouvidos”.

Palco de sonho ?

Sinceramente não tenho um palco de sonho, tenho o sonho de estar no palco… Mas para responder à pergunta, todos os palcos grandes.


Como vês o panorama do hip-hop neste momento?

Muito bom! O crescimento de ano para ano tem sido notório, tem ganho muita força em Portugal, a aceitação a nível mediático já existe, têm surgido imensas caras novas, acho que está de boa saúde e recomenda-se.

Fala-nos dos teus novos projetos, deste videoclip e daquilo que estás a preparar para quem te segue.

De momento estou a trabalhar no meu EP que irá sair em formato físico este ano, lancei já uma música promocional produzida pela Easy Hits que está disponível no meu canal do YouTube. Quanto ao EP completo, ainda estou em estúdio mas já não demora muito!
Sobre este videoclip do tema “Tranquilo”, convidei o Kibigunz, um dos membros do colectivo “OG MOVE” do qual ambos fazemos parte e decidi lançar este single solto enquanto trabalho no meu projeto de originais.
A realização do vídeo ficou a cargo da 66 Media, sangue novo no meio audio-visual mas que está a dar cartas.

Para terminar esta conversa, DOTE deixou uma mensagem a todos os que nos seguem:

“Continuem, ou comecem, a acompanhar o meu trabalho, dependendo de quem esteja desse lado! Um grande Big up à Hip Hop Radio, estamos aí a fazer acontecer!”

https://www.youtube.com/watch?v=0_1GhLn1rTM

Entrevista por: Inês Cruz

O Hip-Hop deu à Costa | 2ºdia de Festival

Depois de um primeiro dia em que o hip-hop esteve em peso na Costa da Caparica, o segundo dia do festival trouxe-nos ainda uma presença mais reforçada. O hip-hop tuga está de boa saúde e recomenda-se, o Sol da Caparica teve isso em conta e decidiu “contratar” nomes tanto da nova escola como da velha. Uma coisa já se sabia: o público iria sempre corresponder, e bem.

Eram 18 horas quando se começaram a ouvir os primeiros beats no palco secundário que dava pelo nome de palco Blitz. O homem que víamos atrás da mesa de DJ era Fumaxa sendo que, claro está, a primeira atuação da tarde era de Bispo. “2725” era o que mais entoava neste início de concerto. O público era muito e bom, sendo que a dada altura da atuação Bispo agradeceu à sua audiência por “estarem aqui debaixo deste sol”.

Ao longo do concerto foram ouvidos maioritariamente temas do EP “Fora D’Horas”, sendo que um dos momentos altos foi a chamada ao palco de Gson para cantar o tema “Como Dá”. Para o final Bispo deixou o tema “Lembra-te”, o que levou os seus fãs à apoteose e deixou o rapper sem muito trabalho pois o público cantou o tema por ele. Espaço ainda para dizer que a mãe de Bispo assistiu orgulhosamente ao concerto do seu filho a partir do palco e o rapper fez questão de informar o seu público disso. Mais uma grande performance de um dos rappers em melhor forma na atualidade.

A tarde já tinha começado bem e iria continuar…

O público não arredou pé e Holly Hood foi o senhor que se seguiu. O rapper entrou em palco às 19 horas e com a pujança a que já nos habituou. Ao longo do concerto foi tocado quase na integra o EP “O Dread Que Matou o Golias”. Alguns dos momentos mais marcantes da atuação foram a chamada ao palco de No Money para cantar o tema “Cartas da Justiça” e a dedicatória por parte de Holly Hood do tema “Spotlight” à sua mãe que, pela primeira vez, estava a ver um concerto do filho ao vivo. Sim, a tarde na Costa da Caparica estava a ser dedicada à família. O rapper cantou ainda “Ignorante”, tema que irá fazer parte do seu novo EP a lançar e que foi das mais celebradas pelo público. Holly Hood deu um concerto coeso e cheio de vitalidade que só pecou por escasso (30 min. de duração).

Estávamos a caminho do terceiro e último concerto no que diz respeito ao hip-hop, no palco Blitz, e era difícil não terminar de melhor forma pois quem se seguia era o mítico coletivo de Gaia, Dealema. A tarde já puxava para a noite nesta altura e, talvez devido ao aproximar da hora de jantar, o público estava mais despido do que nos outros concertos. Apesar disso, Dj Guze solta o beat de “Mais Uma Sessão”, os Dealema apresentam-se (como se precisassem de apresentações) um a um como é habitual nesse tema e mais pessoas começam a juntar-se à festa.

O grupo percorreu a sua discografia ao longo do concerto e seguem-se temas como “Bom Dia”, “sala 101” ou “Escola dos 90”. Houve ainda espaço para tocar temas em nome individual: Mundo Segundo com “Sou do tempo”, Maze com “Brilhantes Diamantes” e Fuse que dedicou um dos seus temas ao seu filho que estava na plateia e via um concerto ao vivo do seu pai pela primeira vez (já falámos do quanto este dia foi dedicado à família?). O coletivo Dealemático despediu-se com “Nada Dura Para Sempre” com o público completamente rendido à experiência e qualidade do grupo.

Eram 23h15m e passámos do palco Blitz para o palco principal, o denominado palco SIC. Era o momento de Carlão subir a palco. Quando o fez foi com toda força e personalidade a que já estamos habituados. Foram ouvidos vários temas como “Colarinho Branco”, “Hardcore” ou “Viver Para Sempre”. A dada altura do concerto, o artista, residente em Almada, perguntou ao seu público: “Hoje sinto-me em casa, estou ou não em casa?” a resposta do público foi um claro e bastante audível “sim” tendo em conta a enorme quantidade de pessoas que estavam presentes para ver o concerto de Carlão.

Um dos momentos altos da atuação foi a chamada a palco de Manel Cruz, voz incontornável dos Ornatos Violeta, para cantar o tema “Casa”. Carlão despediu-se do seu público com uma versão remixada de um tema clássico dos Da Weasel, “Dialetos De Ternura”, que, claro está, meteu toda a gente a cantar com ele.

Em todos os concertos pudemos presenciar momentos curiosos de cariz familiar e neste também não poderia faltar… Apesar do momento não ser diretamente relacionado com a atuação de Carlão em si, decidimos partilhá-lo com vocês: encontrámos Fuse e a sua família a verem o concerto de Carlão, mais uma prova de que hip-hop não escolhe idades.

Sol da Caparica, vemo-nos para o ano!

Artigo por: Daniel Pereira
Fotografias por: Carolina Costa, Daniel Pereira e Mariana Marques

O Hip-Hop deu à Costa | 1ºdia do Festival

O Sol da Caparica recebeu o Hip-Hop de braços abertos, com um cartaz poderoso que celebra, acima de tudo, a língua portuguesa.

Mas ainda antes do Hip-Hop entrar em palco já ele andava pelo recinto.

No skate park do festival, os skaters deslizavam ao som de vários artistas de hip-hop nacional como Slow J, Sam the Kid ou Boss AC. Ao lado, Smile e Robô, numa enorme parede, fizeram surgir Carlão das suas latas de spray. O mote estava dado: o Hip-Hop veio para ficar.

Criolo foi o primeiro rapper a subir ao palco. O público recebeu com calor o artista brasileiro que fez uma viagem pela sua discografia, apresentando músicas desde o seu novo álbum até aos singles mais antigos, passando pelo disco “Convoque Seu Buda” onde pediu, ao som de “Duas de Cinco”, “mais respeito pelos professores.”

Num concerto tanto eufórico como emotivo, Criolo pediu várias vezes “mais amor e menos desigualdade” apelando à luta contra o preconceito e contra a repressão porque essas são realidades que “só nos trazem tristeza.”

O Criolo acabou o concerto emocionado com o público a acompanhar as suas palavras. O artista Paulistano diz que “não existe amor em SP” mas na Caparica existe e houve muito amor para ele.

Criolo deu lugar a Regula para um concerto como já nos habituou. Sem muitas palavras mas com muita energia, Regula sobe ao palco para apresentar as suas músicas e divertir o público.

O MC português trouxe os seus temas mais badalados e aqueles que, obviamente, o público gosta de ouvir quando vai a um concerto de Regula.

Desde “Tarzan”, passando por “Pay Day” e “Wake N’ Bake”, o artista fez questão que toda a gente cantasse em uníssono “Kara Davis” mas foi com “Genuino” que Regula levou o público à loucura.

Regula deu um concerto animado, agradecendo ao público a energia e ao Sol da Caparica pelo facto de ser o terceiro ano consecutivo que integra o cartaz do festival.

O tema “Solteiro” não podia ter ficado de fora, sendo um dos momentos da noite, quando a multidão em frente a Regula cantou o refrão da música acapella.

Artigo por: Mariana Marques
Fotografias por: Carolina Costa e Mariana Marques

Sumol Summer Fest 2017

Num país onde  a cultura hip hop está a crescer de dia para dia, seria lógico nomes de rap virem a ser cabeças de cartaz em festivais que antigamente talvez nem integrassem tanto este estilo de música.

O Sumol Summer Fest foi o anfitrião perfeito para contar a História do Hip Hop Tuga, unindo os artistas nacionais mais aclamados desde 1994 até à atualidade. Desde Black Company com o famoso “Não sabe nadar” até artistas e coletivos mais recentes como GrogNation, de Norte a Sul, não faltaram detalhes nesta história pois mesmo os que não puderam estar presentes foram bem representados.

A iniciativa de Sensi deu origem a duas horas de nostalgia e veio confirmar que o hip hop nacional continua vivo e a evoluir cada vez mais. Após este acontecimento memorável o palco do festival acolheu Fat Joe, artista norte-americano que contou com o público para entoar temas como “All The Way Up” ou o remix de “All I Do Is Win”.

Com o mote dado na primeira noite, o segundo dia começou com Valas a representar o hip hop nacional. O rapper, antigamente entitulado de Johnny Valas, foi uma surpresa devido à sua presença em palco e aos temas escolhidos para interpretar. De “Raíz” até “Alma Velha” ou “As Coisas”, o alinhamento contou com os singles mais recentes, não esquecendo os que o levaram até à Ericeira e que já contam com mais alguns meses.

De seguida, Post Malone foi o escolhido para manter a boa disposição, entre afirmações como “I’m too fat for this sh*t” e as suas idas até à frontline para cumprimentar a plateia, não restaram dúvidas de que o rapper tenta estabelecer uma relação muito próxima com os fãs. Para fechar o festival, o DJ Slimcutz garantiu que o hip hop reinou neste fim de semana, contando com Mike el Nite e Deau como convidados surpresa.

Quem não conseguiu estar presente nesta edição do Sumol Summer Fest pode ficar com a nossa reportagem fotográfica exclusiva aqui no site.

Texto escrito por: Carolina Costa
Fotografias por: Daniel Pereira e Carolina Costa

Um “funeral” na FCSH

Intimista, pessoal, “um monólogo” como descreve o rapper num verso de Lenda. Estas são algumas das palavras que poderão resumir brevemente o que ontem se sucedeu na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.

Numa entrada sem grandes surpresas, Nerve aparece como quem quer dar início à cerimónia o mais rapidamente possível. “Dá p’ra ver que acabei de chegar” foi o mote escolhido para abrir o concerto, verso que pertence à sua mais recente faixa Deserto. Depois desta preparação para o que viria, Nerve prossegue com Água de Bongo, música mais antiga e que o rapper, em tom de brincadeira ou talvez ironia, desconfia que o público a conheça.

Depois de algumas conversas com os presentes e um acapella a anteceder um futuro lançamento, solta mais faixas do álbum de 2015: Trabalho & Conhaque,  entre elas uma das mais conhecidas, Monstro Social. Entre as músicas surgem “shoutouts” aos produtores dos instrumentais e, numa delas em particular, também  ao pai do produtor que foi o arquitecto que desenhou a FCSH.  Nerve recorre a um discurso minucioso que, de certo modo, mantém a sua faceta de homem misterioso e junta factos curiosos que captam a nossa atenção.

Um regresso ao passado com Pobre de Mim mostrou que a maior parte do público já é fã de longa data. Após algumas palavras, entramos na fase “lamechas” do concerto, avisou o artista, antecedendo Gainsbourg que foi entoado por quase todos os presentes. Nerve serve-se desta atmosfera mais calma para perguntar quem realmente gosta do trabalho que faz e, entre risos,  solta a faixa Trabalho, como já se estava a adivinhar.

O fim estava próximo e ouve-se Nós e Laços, música que se insere perfeitamente neste “cortejo fúnebre” que presenciámos na sexta-feira à noite. Sem grandes rodeios, Nerve anuncia que a próxima será a última do concerto e dá licença ao instrumental mórbido de Subtítulo que deixou a faculdade em êxtase. Entre “versos de fidalgo” encerra esta cerimónia e deixa-nos com curiosidade de ouvir a continuação dos acapellas com que nos presenteou.

Um concerto num estilo simples, em que foi viável pedir, humildemente, que ninguém gravasse os acapellas que avançam com versos de um trabalho a ser lançado futuramente. Este é um exemplo da proximidade que Nerve estabelece com os ouvintes, em que por vezes até responde a comentários vindos da audiência com o seu sarcasmo do costume.

Artigo escrito por: Carolina Costa