Hip Hop Rádio

Carolina Costa

Peculiar&Freak e Coast:”O Descontentamento Contente foi apenas a primeira peça de um projeto muito maior”

Diretamente de Faro, Peculiar&Freak e Coast agarram qualquer ouvido pela singularidade das melodias. “Descontentamento Contente” é o primeiro single que junta os dois depois da colaboração no cover de Lágrimas, de Slow J, lançado no início do mês de outubro. Fica a conhecê-los um pouco melhor e o que os inspira na criação de letras e sonoridades tão únicas.

Quando surgiu a paixão pelo hip-hop?

Peculiar&Freak (P&F) – O hip-hop não me conquistou de imediato. Ao longo dos anos fui apresentado ao hip-hop várias vezes, principalmente por amigos e pela minha geração, contudo, talvez por ser tão mainstream ou por não entender ainda a sua complexidade e profundidade, nunca foi algo que me chamasse a atenção.

De forma geral sempre gostei muito mais de cantar e dos estilos associados como R&B, Jazz, Indie, Pop do que propriamente Rap, no entanto, há cerca de um ano comecei a tropeçar no hip-hop através das minhas playlists do spotify, sendo que me interessei principalmente nos beats que tinham samplings de Jazz.

Fiquei viciado no embalo da métrica, fascinado pela fusão dos estilos Hip-Hop (novo) e Jazz (velho) e isso levou-me eventualmente ao hip-hop tuga, onde devido ao português começei a perceber a riqueza lírica de cada verso e a história por detrás de cada som. Desde então são raros os dias em que não tomo a minha dose de Slow J, Praso, Alcool Club, Capicua, etc…

Coast – Não me lembro em concreto de quando, mas a paixão surgiu em puto, embora tenha tido maior influência o ano em que fui morar para a Margem Sul, na altura tinha uns 13/14 anos e foi aí que comecei a ouvir mais.

O que te levou a aventurares-te na música?

P&F – A música sempre esteve presente na minha vida. As canções que o meu avô me entoava quando era pequenino, o coro da minha escola primária e principalmente o Conservatório onde in(conscientemente) ganhei a maior parte das minhas fundações musicais. Mas foi no 10º que compus a minha primeira música, tive uma ideia de uma melodia a meio de uma aula de Físico-Química e começei a escrever uns versos no caderno que eventualmente terminei em casa.

Na altura já cantava uns covers no Instagram mas nunca tinha feito algo original. Sempre adorei cantar e tocar guitarra, mas foi uma sensação completamente única criar algo tão pessoal e íntimo pela primeira vez. A excitação ao encaixar cada palavra no papel, ao encontrar aquele último acorde que só existia na minha imaginação e depois finalmente fundir todos aqueles elementos numa música só, foi “BRUTAL”.

Para mim as músicas estavam tão fixes que só as queria mostrar à minha família, aos meus amigos e eventualmente a toda a gente. Tive a sorte de conhecer outro pessoal da minha idade que também tinha a mesma paixão que eu e com uma ajuda aqui e ali consegui começar a gravar e colocar a minha arte cá fora. Desde então nunca parei.

Coast – O bichinho pela escrita apareceu mais tarde, quando voltei para o Algarve, mas na altura escrevia só por diversão mesmo, punha uns beats básicos e acabava por sair alguma cena. Só aos 16 é que decidi levar isto um pouco mais a sério. Falei com um amigo meu, Vicente Leal, que por acaso estava na mesma onda que eu e decidimos então criar um grupo, os Flowmen. Chegámos a dar uns concertos em festas e campanhas de listas. Entretanto ele foi estudar para Londres e a maioria dos nossos sons nunca chegaram a sair, mas posso dizer que teremos novidades em breve.

Como tem sido o feedback do pessoal à tua música?

P&F – Felizmente tem sido bom. Eu sinto que cada música que tenho é completamente diferente das outras, o que me deixa contente. Contudo tenho algum receio que, por não ser coerente e por transitar de géneros de forma tão fluída, acabe por não conseguir atrair um público estável. Até agora, no entanto, só tenho recebido elogios em relação a todas as minhas produções, por isso penso que devo estar a fazer algo bem.

Apesar de agradar às pessoas, sinto-me insatisfeito com o meu alcance. Oportunidades de divulgação são raras e difíceis de arranjar por isso gostaria desde já de agradecer-vos por esta!

Coast – O feedback é geralmente positivo, claro que nunca está 100% bom, mas foram precisamente esses erros cometidos ao início que me permitiram evoluir até hoje, estou sempre a aprender, quer seja com os meus erros ou por influência de grandes nomes da cultura.

Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?

P&F – A cultura que me rodeia é principalmente musical, e é dela que eu retiro a maioria das minhas inspirações. O meu gosto tem evoluído com o tempo, mas há certos artistas que me marcaram. Alguns deles são Ella Fitzgerald, Fkj, Ashe, Rejjie Snow e Slow J.

Eu tento várias vezes ter uma sonoridade parecida a certos artistas que admiro, mas nunca consigo fazê-lo. Todavia ainda não consegui perceber se é algo bom, porque significa que já tenho a minha própria, ou se simplesmente significa que ainda não atingi esse patamar de produção.

Coast – É um bocado complicado dar nomes, mas alguns artistas que me inspiraram bastante ao longo do tempo e que me vêm agora à cabeça são o Papillon, Slow J, Profjam, Força Suprema, Mobb Deep, Tupac e Biggie, Dillaz.

Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

P&F – Estabelecido penso que não, mas gostava que a música fosse no futuro a minha principal ocupação, apesar de também querer trabalhar na área da rádio e noutras vertentes artísticas. Por agora foco-me em concluir um projeto de cada vez.

Coast – Sinceramente já levei a música mais a sério, quando criámos os Flowmen as ambições eram diferentes. Hoje em dia olho para a música como uma maneira de libertação, de expressar por vezes como me sinto ou até mesmo quando me sinto inspirado para escrever uma cena diferente. Nunca com altas expectativas, faço isto para me distrair e porque gosto, não para chegar a algum lado. Quero que as pessoas sintam a cena. O importante para mim é os sons saírem e o feedback que recebo.

Conseguem revelar algum projeto que esteja para sair, se é que estão a pensar nisso?

P&F – O Descontentamento Contente foi apenas a primeira peça de um projeto muito maior. Esta sexta-feira, dia 30 de outubro às 18h, vou lançar outro som em colaboração com um artista brasileiro (Samm Costa), em novembro vou lançar outras duas músicas, sendo uma delas também uma colaboração, e finalmente em dezembro sairá o meu primeiro EP composto por outras três músicas.

Coast – Como já referi anteriormente, tenho algumas cenas por gravar com o Vicente e mais alguns amigos meus. Mas ultimamente tenho trabalhado num som mais underground e o beat remete um pouco de trap, um bocado diferente do meu estilo que é o boom bap, e posso-vos dizer que estou bastante satisfeito com o resultado, é esperar para ver.

Kappatroys:”Quando estou a criar estou a divertir-me, é isso que me move”

Mais conhecido por Kappatroys, Bruno Riesenberger faz parte do duo XSHIT, juntamente com Boogiesteez. Enquanto ouvia alguns canais televisivos, como a MTV ou o Sol Música, o hip-hop começou a crescer dentro de si, tornando o ritmo das músicas cada vez mais contagiante. Mais tarde, entre brincadeiras de amigos, decidiu aventurar-se no mundo da música mais a sério, com o lançamento do primeiro EP em 2016.

Quando surgiu a paixão pelo hip-hop?

Comecei a comprar alguns CD’s quando recebia dinheiro de familiares e mais tarde, quando a internet facilitou o acesso, passava algumas tardes a pesquisar música dos artistas que mais me chamavam atenção. Na altura era só ouvinte e não me passava pela cabeça começar a rimar.

O que te levou a aventurares-te na música?

Comecei a cantar em 2015, numa altura em que vivia com 3 amigos em Londres. Um deles, o Fresh a.k.a Phunky Dee, já cantava e produzia na altura e montou o estúdio dele na sala. Fomos fazendo algumas brincadeiras até que decidi começar a levar a música mais a sério e criámos um EP em conjunto (Kappatroys X Fresh) que lançámos em 2016, sendo esse o meu primeiro projeto no mundo da música.

Como tem sido o feedback do pessoal à tua música?

Do feedback que me chega até tem sido positivo, as pessoas que tenho mais próximas de mim na música também estão sempre a motivar-me para fazer mais e melhor.

Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?

Sou uma pessoa que passa muito tempo a ouvir música e acho que fui influenciado por uma longa lista de artistas em diferentes fases da minha vida. Alguns dos nomes que me vêm a cabeça a nível internacional são: Wu-tang, Mobb Deep, Nas, Biggie, Jay-Z, Common, Mos Def, Benny the Butcher, Conway, Westside Gunn, Pusha T, Joey Badass, The Underachievers, Flatbush Zombies, Kendrick Lamar, Schoolboy Q e Asap Rocky. A nível nacional Sam the Kid e Regula.

Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

Acho que antes desta pergunta nunca tinha pensado onde gostaria de chegar com a música. Por norma quando estou a criar estou a divertir-me, é isso que me move. O único objetivo que tenho por agora é continuar a fazer música e a evoluir a minha sonoridade.

Consegues revelar algum projeto que esteja para sair, se é que estás a pensar nisso?

Para além do meu primeiro EP a solo “MVNG DFRNT”, que saiu no dia 4 de outubro, tenho vários singles da XSHIT a caminho nos próximos meses. Para quem não sabe, XSHIT é um duo do qual eu faço parte em conjunto com o Boogiesteez.

Franko:”O meu objetivo sempre foi fazer aquilo que me fazia sentir bem”

Franko aventurou-se no mundo do rap com apenas 16 anos, quando lançou a sua primeira mixtape em formato físico, que atualmente não se encontra disponível online. Desde então, já soma dois EP’s, 4 singles lançados só desde o início deste ano e continua ainda a dar cartas com a antecipação de um novo tema já para outubro. Natural da Covilhã, já passou pelas Caldas Rainha mas agora faz de Lisboa a sua casa.

Quando surgiu a paixão pelo hip-hop?

Sempre gostei de música, fosse Rock, House, Hip Hop ou até Jazz e desde novo que me “envolvi” com a música tendo aos 15 anos feito a minha primeira letra e posteriormente aos 16 lançado o meu primeiro tema. Posso dizer que foi por essa altura que me comecei a  dedicar muito mais ao hip-hop tendo desenvolvido essa paixão. 

O que te levou a aventurares-te na música?

Como referi, desde novo que me relaciono bastante bem com a música. Aos 14 anos tive o meu primeiro instrumento, uma guitarra elétrica e provavelmente foi o clique que precisava para entrar no “mundo da música”. Sempre tive muitas referências e senti ao longo dos anos uma necessidade de me expressar tendo encontrado no Rap o meu “escape”. 

Como tem sido o feedback do pessoal à tua música?

A minha malta apoia-me imenso e tem reagido bem, melhor do que esperava para ser honesto, tenho a certeza que estou rodeado das pessoas certas e sei que para o bem e para o mal eles estão lá. 

Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?

Tenho muitas referências. Para já não quero puxar à conversa nomes sonantes mas posso-vos dizer que uma das minhas maiores referências, tanto do lado musical como lado pessoal, é o Raúl Muta. Para quem não conhece aconselho vivamente uma breve pesquisa. Se passarmos para outras dimensões posso referir a nível nacional o Sam The Kid, Regula, Valete e a nível internacional Tech N9ne, Krs One e Eminem por exemplo.

Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

Sempre tive presente na minha mente que o meu objetivo sempre foi fazer aquilo que me fazia sentir bem. O facto de poder partilhar com outras pessoas e receber bons feedbacks sobre o meu trabalho já é algo fantástico e não escondo a vontade de vir a pisar grandes palcos e tornar-me uma referência para quem me ouve. 

Consegues revelar algum projeto que esteja para sair, se é que estás a pensar nisso?

De momento estou a trabalhar em alguns temas que pretendo colocar nas ruas mas posso antecipar que vou lançar um tema novo em meados de outubro com videoclip.

Danny:”A música para mim é a melhor terapia, poder ajudar alguém de certa forma é o meu maior objetivo”

Além de escrever, masterizar e produzir, Danny gosta de fazer também alguns projetos mais relacionados com a área da multimédia. A cultura hip-hop sempre o acompanhou, quer na parte do graffiti quer mesmo na dança, tomando agora uma importância ainda maior aventurando-se pelo mundo do rap.

Quando surgiu a paixão pelo hip-hop?

Desde os dez anos que o hip-hop está presente na minha vida, consumo diariamente. Tudo começou nas aulas de português, sempre gostei de brincar com a rima e com trocadilhos, sendo um miúdo tímido usei as prosas como escudo e de certa forma isto ajudou-me a ser quem eu hoje sou.

O que te levou a aventurares-te na música?   

Sendo gago, não de um nível extremo mas tendo tendência a encravar na fala, nunca fui de dar a minha opinião. Escrevia sempre, lembro-me em várias aulas dos professores darem a sua opinião e haver debates e tinha sempre receio de levantar o dedo devido à minha falha na fala, mas escrevia sempre.

Ainda hoje tenho um caderno cheio de opiniões sobre variados temas, comecei a esculpir esses meus pontos de vista em prosa e vi que até tinha um certo jeito, e lá está, quem canta não é gago. Falo então através da minha música e com isso espero ser um exemplo para quem partilhe deste mesmo fator menos bom.

Como tem sido o feedback do pessoal à tua música?

O feedback tem sido muito bom, tenho recebido imenso apoio das pessoas que me ouvem e que, felizmente, vou tendo cada vez mais. É importante para mim este apoio todo que me têm dado porque tudo o que faço, desde a letra, muitos dos beats, até à masterização, incluindo videoclipe, sou eu que faço tudo, em casa, no meu pequeno estúdio. Isso dá alento e força para continuar a trabalhar para a minha música chegar a mais pessoas.

Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?

Consumo bastantes estilos de diversos sítios. Tenho um mix de vários estilos de música, não fico apenas pelo hip-hop mas a mensagem tem de estar lá sempre então, querendo ou não, o hip-hop está sempre presente em cada música que faço.

Diria que fora de Portugal ouço Joyner Lucas, Kendrick, J Cole, Billie Eilish, Eminem, FKJ, entre outros mais underground do UK e dos EUA. Em Portugal ouço WBG, NeJah, Dino d’Santiago, Halloween, Chullage, Valete, Dillaz, Regula e sem esquecer o grande e para mim rei do hip-hop Sam the Kid.

Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

Acho que como a maioria dos artistas ambiciono sempre mais e mais e que a música chegue ao maior número possível de pessoas. O meu objetivo principal é passar a mensagem, passar emoção, a música para mim é a melhor terapia então poder ajudar alguém de certa forma é o meu maior objetivo e, claro, chegar a palcos ao lado de grandes nomes e deixar a minha marca na cultura hip-hop.

Consegues revelar algum projeto que esteja para sair, se é que estás a pensar nisso?

Ando a trabalhar numas coisas engraçadas que futuramente vão ser fruto de um álbum que estou a pensar fazer há bastante tempo mas um álbum diferente do comum, é apenas o que posso dizer neste momento.

Aranha:”O principal ouvinte que quero agradar sou eu”

Enquanto acaba a licenciatura em Som e Imagem, Aranha conjuga os estudos e o trabalho para sustentar a sua grande paixão, a música. Relembra os tempos em que, a caminho da escola, o irmão mais velho começou a pôr aos altos berros um CD que dizia “Represálias Chullage”. Aquilo soava diferente de tudo o que já tinha ouvido, no meio de bandas como Nirvana ou Pearl Jam, e ficou logo interessado em ouvir mais do estilo.

O que te levou a aventurares-te na música?   

Quando a vontade de ouvir rap se juntou à vontade de escrever que eu sempre tive, comecei a tentar gravar-me num gravador de cassetes antigo e foi aí que começou tudo. Depois foi uma cena progressiva, passei do gravador para o mic da webcam que tinha, os sons começaram a circular pela minha zona até que chegou a um people que me quis levar a estúdio. Então a partir daí quis começar a pôr os sons na net e as coisas foram acontecendo.

Como tem sido o feedback do pessoal à tua música?

O feedback é muito fixe, veres que o people reage à tua cena e que há pessoas que apoiam genuinamente o teu trabalho é uma grande massagem no ego, mas acho que é uma cena que não pode influenciar a música que quero fazer porque o principal ouvinte que quero agradar sou eu.

Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?

As minhas principais influências são sem dúvida vindas da tuga, porque eu já sou um filho do hip-hop tuga. 99% dos rappers em Portugal diriam Sam logo à partida e eu não vou fugir à regra. Depois Allen Halloween sem dúvida! Isto dentro da cultura claro.

Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

Eu quero chegar onde a música me levar. Uma coisa eu tenho a certeza, vou fazer música o resto da minha vida. Se puder viver disso e pisar os palcos importantes melhor. É a consequência que qualquer artista quer ver do seu trabalho.

Consegues revelar algum projeto que esteja para sair, se é que estás a pensar nisso?

O próximo projeto que vai sair é uma parceria com dois novos artistas da minha zona, o Wi e o Juzz. A cena já tem nome, se pesquisarem VENUS 2005 já aparecem cenas na net para ver e vão sair vários sons de nós os três brevemente. Eles são a vibe que eu já andava à procura há anos e o resultado é uma mistura dos clássicos com a nova escola que me tem dado um gozo brutal em estúdio e que estou ansioso para lançar.

Kadypslon: “Estou apenas a oferecer a minha existência à cultura, não procuro nada em troca”

Kadypslon começou a escrever apenas com 13 anos, mas só mais tarde é que sentiu que podia dar o seu contributo para o mundo do hip-hop. Agora com 40, e no estúdio há 10 anos, a sua paixão pelo rap surgiu nos anos 90, quando as parabólicas chegaram a Portugal e teve acesso à MTV. Identificando-se logo com os beats nos vídeos, e mesmo não entendendo o inglês, foi logo contagiado pela magia da cultura.

O que te levou a aventurares-te na música?   

Aos 13 comecei a escrever umas rimas, já tinha vontade de fazer Rap. Mas era ainda muito imaturo, sem a determinação de fazer acontecer algo sério e sólido. Aos 30 já tinha 2 cadernos A4 carregados de rimas, foi nessa altura que decidi entrar na brincadeira. Achei que era capaz de fazer Rap equivalente àquele que ouvia, organizei os meus arquivos e levei para o estúdio. Agora estou tão viciado com o processo que já faz parte da rotina.

Como tem sido o feedback do pessoal à tua música?

O Rap sempre foi um hobbie para mim, confesso que foi o feedback positivo que me manteve no estúdio durante estes últimos 10 anos. A minha função é despertar algum tipo de emoção com a minha música, mesmo se for só a uma pessoa, já fui bem sucedido.

Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?

É muito difícil e injusto escolher nomes. Vivi a “Golden Era” do Hip Hop, foram muitos artistas que me inspiraram e ensinaram a função da Cultura. Aprendi o que quero ser e o que não quero para mim, é definitivamente o espelho da sociedade.

Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

O Rap preenche os meus tempos livres, faço por paixão. Estou a mostrar ao público o Rap pelo qual eu me apaixonei. Estou apenas a oferecer a minha existência à Cultura, não procuro nada em troca, já tenho a minha fonte de rendimento. Enquanto sentir prazer e houver possibilidades, irei sempre escrever e gravar sons para partilhar com o pessoal.

Consegues revelar algum projeto que esteja para sair, se é que estás a pensar nisso?

Desde Janeiro de 2020 que estou a lançar vídeos do meu segundo álbum “Hip Hop Messiah”, irá sair ainda este ano. Como não quero pressões naquilo que faço por diversão, gosto de estar sempre um passo à frente, já tenho o próximo álbum projetado, mas ainda sem datas de lançamento.

Druma: “Já estou a ganhar ao permitir-me fazer aquilo que gosto, só pelo gosto de o fazer”

Daniel Roque, mais conhecido por Druma, acaba de lançar o single “Oq Acontece” com o selo 5PRAS6. A editora independente que criou juntamente com o produtor Mello dá os primeiros passos e já conta com cinco temas dos dois artistas no canal. O MC de 22 anos contou-nos um pouco da sua relação com o hip-hop e como começou a dar os primeiros passos dentro da cultura.

Quando surgiu a paixão pelo hip-hop?

O hip-hop foi introduzido na minha vida a partir do rap, mais especificamente com o Poetas de Karaoke do Sam The Kid. Quando tinha 8/9 anos, lembro-me de estar a ver televisão e num canal, estava a passar esse videoclip e aquilo captou-me a atenção. Foi a primeira vez que tive a perceção de que o que eu estava ver era uma “cena maior”, apesar de, hoje em dia, saber que antes disso já tinha tido contacto com outros temas da cultura como o Não Sabe Nadar, dos Black Company ou o Baza, baza do Boss AC, por serem sons que já se faziam ouvir pelas grandes massas. Foi especificamente naquele momento, com o som do Sam, que tive a curiosidade de procurar por mais e de perceber a ligação daquela música com esta cultura e as suas várias vertentes. 

O que te levou a aventurares-te na música?   

Depois desse primeiro contacto, apesar de nem me passar pela cabeça a possibilidade que hoje tenho de gravar uma faixa, ganhei o gosto pela perceção de que a palavra “x” rima com as palavras “y” e “z”. E isso levou-me a escrever as primeiras quadras naqueles esquemas rimáticos mais simples ABAB ou AABB. Aquelas rimas mais básicas, para os meus amigos, para a minha mãe ou para rapariga que eu achava bonita da escola. Entretanto, passei a adolescência a consumir mais rap e mais MC’s. A obter a perceção  de outras visões e o papel positivo que uma mensagem bem transmitida pode ter na vida das pessoas. A minha escrita já funcionava como uma forma de me expressar e de organizar pensamentos e ideias. Andei um tempo à procura de como tornar isto possível até conhecer o Mello, o meu produtor, e demos o passo de começar a expôr os projetos. 

Como tem sido o feedback do pessoal à tua música?

Sinto que o feedback em relação à minha música tem sido positivo. Apesar de ter total noção de que estamos no início, há mesmo muito trabalho a fazer. Ainda não temos um feedback estrondoso mas mesmo sendo poucas as pessoas que conhecem aquilo que eu faço, têm recebido de forma positiva. 

Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?

Eu tive acesso à cultura, como já referi, com o hip-hop português. Mais tarde é que passei a conhecer o que se fazia no estrangeiro, e hoje sou muito fã de alguns MC’s dos Estados Unidos e do Brasil também. Sendo as 3 principais fontes de rap que passam na minha playlist e mencionando um artista para cada país, diria: Sam The Kid, J. Cole e Froid. São os artistas com que mais me identifico e são claramente influências. Apesar de haver muitos outros que aprecio bastante.

Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

Não considero ter nenhum objetivo já estabelecido, penso que pôr o futuro já todo em perspetiva não é o essencial neste momento. Isto não é nada mais nada menos, que eu a juntar o gosto pelas palavras com a necessidade de me expressar. Na sociedade em que vivemos, já estou a ganhar ao permitir-me fazer aquilo que gosto, só pelo gosto de o fazer. É óbvio que todos sonhamos em fazer o que nos apaixona, e que essa paixão nos traga retorno e estabilidade financeira e se essa oportunidade aparecer irei agarrá-la como puder. Até lá, se chegar aos fones das pessoas já é um extra bacano. 

Consegues revelar algum projeto que esteja para sair, se é que estás a pensar nisso?

Até ao final do ano estamos somente a planear o lançamento de mais singles com o selo 5PRAS6. No entanto, sem fazer qualquer tipo de promessa ou garantia, já começámos a partilhar novas ideias, a nível de produção instrumental, para um projeto mais consistente em formato de álbum ou E.P que se fará acompanhar, no que toca a visuais, pela produção do meu boy de eleição, Shotzhunter. Com perspetiva de lançamento para o início do próximo ano.

E.se: “Escrever músicas em que consegues iluminar os outros com a tua escuridão é para mim a maior inspiração”

Carlos Alves, mais conhecido por E.se, acaba de lançar o seu primeiro single “Casulo”, pós-produzido por Virtus. Médico de profissão e natural de Almada, a sua relação com o hip-hop surgiu com o fascínio pelo graffiti que, desde pequeno, descobria nos murais que eram feitos na sua zona por writers designados, que apelavam de uma forma crua à liberdade criativa, sem regras. Desde aí tem vindo a explorar cada vez mais a cultura e deseja que a sua música seja um espaço de reflexão para si e para quem ouve.

Quando surgiu a paixão pelo hip-hop?

Por volta dos 14-15 anos comecei a perceber que era capaz de ouvir durante horas uma música que tivesse um determinado loop e aí o Endtroducing do DJ Shadow foi talvez o primeiro disco que me prendeu com o som “Midnight In A Perfect World”, que descobri para aí em 2006.

Paralelamente o Rap que nessa fase me surgia, o dos anos 2000, era mais vibrante e pujante e para mim não tinha tanta riqueza em samples de Jazz e Funk e talvez por isso só mais tarde passei a consumir Rap de forma mais intensa. Estava na faculdade e ouvia música sempre que estudava e fui descobrindo álbuns desde A Tribe Called Quest, a Outkast, a MF DOOM, a Kendrick Lamar.

Num espaço de seis anos, e principalmente de 2012 a 2015, consumi obsessivamente álbuns e mixtapes. Se descobria uma Label ou um coletivo ouvia os álbuns/mixtapes dos vários artistas e ia compilando numa playlist. Como ouvia música enquanto estudava tinha dificuldade em conseguir ouvir Rap português porque me distraía com a palavra, mas acabei por fazer o mesmo processo com os álbuns do Sam, NBC, Sir Scratch, Mind da Gap.

O que te levou a aventurares-te na música?   

Em 2015 comecei a reparar que quando ouvia álbuns de instrumentais, como o Beats Vol.1 – Amor do Sam The Kid dava por mim a improvisar aqui e ali, a descobrir métricas, mas era algo momentâneo e inconsistente. Em 2017/2018 comecei a reparar que acabava as noites em minha casa com amigos em sessões de improviso e era capaz de ficar até de manhã nesse registo.

As coisas mudaram quando no início de 2019 comecei a perceber que tinha mesmo o gosto em pôr coisas cá fora e comecei a pô-las primeiro no papel e ver se o resultado seria diferente, mais refinado, do que o que saía nos freestyles. Em julho de 2019 enviei a minha primeira música gravada em casa para mistura e masterização com o Johnny Virtus e ele foi um gajo incrível porque me deu logo imensos conselhos, sobre como melhorar a qualidade das gravações de forma ao resultado final ficar com um nível melhor.

Foi aí que conheci o ONUNO que é um OG de Almada e capta e mistura os álbuns de muita da malta de Almada desde o TOM, ao Blasph, Beware Jack, aos MAC e foi aí que senti o maior crescimento nas minhas músicas, quando comecei a gravar com ele e mais tarde também com o Johnny Virtus no Porto.

Como tem sido o feedback do pessoal à tua música?

Lancei no dia 14/7 o meu primeiro single, “Casulo”, e o feedback tem sido muito porreiro. É um tema onde acho que se conseguiu um bom equilíbrio entre flow e conteúdo, com um instrumental refrescante. Foi captado, misturado e masterizado pelo ONUNO num beat do NK com pós-produção do Johnny Virtus e o suporte visual ficou ao encargo do Chikolaev.

De certa forma ambicionei uma certa versatilidade no meu projeto e estou-me a tentar não agarrar para já muito ao feedback que me tem sido dado, embora tenha sido maioritariamente positivo, porque ainda é pouco representativo daquilo que já fiz. É só uma música tirado do projeto e não quero condicionar a direção que tinha pensado para as restantes com o feedback que recebi desta.

Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?

Tenho de começar por falar no Mac Miller. A versatilidade dele enquanto producer (nos projectos de Larry Fisherman, Larry Lovestein, Faces) e como rapper (especialmente no Faces, GOOD:AM e Watching Movies), foram um combustível enorme para mim. Ver que se conseguia ser tão honesto com as tuas falhas e com isso escrever músicas em que consegues iluminar os outros com a tua escuridão é para mim a maior inspiração e algo que sem dúvida me move.

Depois teria de mencionar diversos rappers de diferentes gerações que para mim foram moldando os limites do Rap num sentido que me cativou. Fora do país seriam o Andre 3000, MF DOOM, os Pharcyde, ATCQ, Biggie, Kendrick Lamar, J. Cole, Joey Bada$ e o Isaiah Rashad. No território nacional tenho sempre de mencionar primeiro o Sam The Kid porque de facto a escrita dele há muitos anos que está à frente de tudo o que se fazia a nível nacional (já para não falar enquanto producer que se equipara aos grandes lá fora como o Preemo ou o Pete Rock), depois o Maze, Johnny Virtus, SP Deville e Slow J.

Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

Primeiro de tudo gostava de chegar aos outros. Comecei por fazer isto para me libertar de problemas e trabalhar receios que guardava cá dentro e cujo peso me puxava para trás. Se puder ajudar alguém a chegar a um espaço de reflexão, de auto-aceitação, seria para mim a maior retribuição que podia tirar da minha música. Claro que não serão todas músicas de auto-aprendizagem, de aceitar a outra face, também vai haver bounce e vibe, mas sem dúvida que um grande foco do meu trabalho é o crescimento individual.

Consegues revelar algum projeto que esteja para sair, se é que estás a pensar nisso?

Posso revelar que este primeiro single faz parte do meu LP de estreia que tem um conceito próprio, traçando o meu trajeto desde a adolescência até ao início da vida adulta. O meu objetivo é lançar o LP em breve após lançar mais umas faixas, nem todas incluídas no LP.

Wedge: “Gostava que a minha música fizesse o que a música dos meus ídolos fez por mim”

Wedge contou-nos como foi o seu primeiro contacto com o hip-hop e como a paixão pela cultura foi crescendo dentro de si aos poucos, até ser impulsionado para tentar a sua sorte nas rimas. A energia que sentia a ouvir certas sonoridades, mesmo sem perceber na altura o seu conteúdo, enraizou-se em si de forma vincada e, desde aí, não houve dúvidas de qual seria a resposta a dar quando lhe perguntavam qual o tipo de música que gostava de ouvir.

Quando surgiu a paixão pelo hip-hop?

A paixão por esta cultura existe desde que me lembro de ouvir música. Eu cresci com os meus pais e o meu irmão mais velho, pelo que o meu gosto musical bebeu muito daquilo que eles ouviam. Da parte dos meus pais, fui absorvendo artistas como Caetano Veloso, Martinho da Vila, Bonga, Paulo Flores, Tito Paris e Rui Veloso. Da parte do meu irmão, surgiu a ligação com álbuns de Biggie Smalls, Tupac, Dr. Dre, Snoop Dogg e Missy Elliott.

O que te levou a aventurares-te na música?

Um dos meus hobbies sempre foi decorar letras. Como na altura em que comecei a fazê-lo o acesso à internet era limitado, ouvia-as repetidamente para poder escrevê-las à mão, não perdendo uma oportunidade para mostrar que as sabia. Gostava de divulgar, à minha maneira, os conteúdos que tanto idolatrava, fosse na escola, no carro, em casa de amigos, em festas, ou até mesmo em família. Era a minha forma de prestar homenagem a esta arte.

Aos 14 anos começam então a surgir os primeiros improvisos. Inicialmente num círculo de amigos mais próximos e, uns anos mais tarde, mais confiante e à vontade, rodeado de desconhecidos. As reações que recebia eram positivas e era quase sempre encorajado a escrever letras. Na verdade, desde os 13 anos que escrevo prosa, mas foi dia 8 de outubro de
2016 (sim, esta data está gravada) que tomei a decisão de levar a música e a arte das rimas de forma mais séria.

Neste dia, concretizei um sonho que guardei durante anos: o de ver o Sam The Kid ao vivo, algo que me marcou de uma forma que ainda hoje se perpetua. Este momento teve a particularidade de acontecer no Instituto Superior Técnico, faculdade onde estudo. Desde então, não houve um único dia em que não pensasse em criar os meus próprios temas, no que posso fazer para marcar a diferença, bem como na forma como me quero representar e expressar nesta cultura.

Como tem sido o feedback do pessoal à tua música?

Maioritariamente positivo. O que tenho recebido tem sido um forte combustível para continuar o meu trabalho. Contudo, sei que quem hoje me apoia, amanhã me pode guardar na gaveta do esquecimento. Parte da minha motivação passa por evitar que isso aconteça.

Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?

Panorama internacional: Tupac, Biggie Smalls, Eminem, Dr. Dre, Kendrick Lamar, Kanye West. Panorama nacional: Sam The Kid, Regula, Valete, Halloween, ProfJam, Slow J, Holly Hood.

Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

Gostava que a minha música fizesse o que a música dos meus ídolos fez por mim – gerar confiança e fazer acreditar que qualquer sonho é alcançável. A nível de objetivos, gostava de, por um lado, colaborar com os meus ídolos, por outro, descobrir outros talentos que possam acrescentar valor à cultura. Um objetivo menos altruísta passa por cultivar um bom trabalho no mundo da música, para que possa colher os frutos do meu esforço e com eles garantir o meu sustento.

Consegues revelar algum projeto que esteja para sair, se é que estás a pensar nisso?

O meu projeto atual intitula-se Quimera, uma compilação de 6 temas que traduzem o culminar de várias experiências e com os quais pretendo expor a minha versatilidade. Quanto a projetos futuros, tenho algo em mente, ainda sem nome, mas já com estrutura. Pretendo fazer algo que ainda não foi feito, pois acredito que esse é um dos trunfos deste jogo. Por esse motivo, não é apropriado revelar muito mais, mas terão novidades em breve!

Primo: “Podes ser o melhor MC de sempre mas se não chegas às pessoas, ninguém vai saber que a tua música existe”

Primo começou a dar cartas no rap em 2017, com o lançamento da mixtape 1º Capítulo. Com a OPA, Oficina Portátil de Artes, já atuou em eventos como Lisboa Mistura 2018, Meo Sudoeste, Festival Muro, entre outros, participando ainda no cypher do projeto em 2018. Com 25 anos e natural da Baixa da Banheira, assim que gravou a primeira faixa deu-lhe o click e percebeu que era o que ambicionava fazer há anos.

Quando surgiu a paixão pelo hip-hop?

Não consigo dizer ao certo quando foi porque sempre ouvi desde muito pequeno e lembro-me de curtir disto desde o início mas ainda era muito novo para sequer parar para analisar a música em si. Depois foi uma paixão que aumentou gradualmente porque à medida que cresces e vês o mundo à tua volta há certas coisas que vão fazendo mais sentido, no meu caso foi o hip-hop.

O que te levou a aventurares-te na música?

Foi tudo muito natural desde que comecei a escrever porque uma coisa levou à outra. Ainda estive alguns anos a escrever músicas sem ter um estúdio e gravei no mic do PC só para mim e para os meus amigos porque não tinhamos nenhum contacto com estúdios e tudo se resumia ao convívio do grupo naquela altura.

Só em 2017 conheci o MastaBomb e o Júnior Faya, que são dois grandes artistas da minha zona. Convidaram-me para fazer parte da label e comecei a parar no estúdio, eles é que me deram o primeiro contacto com o behind the scenes no mundo da música.

Como tem sido o feedback do pessoal à tua música?

Tem sido positivo, pelo menos o people que acompanha o meu trabalho sente e gosta. Agora é trabalhar para conseguir espalhar cada vez mais a palavra.





Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?

A esmagadora maioria vem dos States apesar de ouvir desde cedo a maioria dos melhores em Portugal como o STK e o Valete, mas a sonoridade do hip-hop americano dos anos 90 e inícios de 2000 marcou-me muito e foi quase como a banda sonora da minha vida. Moob Deep, Dre, Ice Cube, Tupac, Alchemist, Eminem, etc. Podia continuar porque são muitos.

Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

O meu objetivo é conseguir fazer chegar a minha música a todas as pessoas que gostam de rap em Portugal, ter uma boa distribuição do meu trabalho porque isso é muito importante. Até podes ser o melhor MC de sempre mas se não chegas às pessoas, ninguém vai saber que a tua música existe.

Consegues revelar algum projeto que esteja para sair, se é que estás a pensar nisso?

Consigo dizer que neste momento estou a lançar a EP 2° Capítulo som a som e dia 25 de todos os meses sai um tema novo, vai ser assim até dia 25 de Dezembro. Depois desse último som sair fecho a EP e faço uns CD’s do projeto para quem quiser ter a obra física. Para o ano que vem quero fazer 2 álbuns novos, um escrito por mim e produzido por outros e outro escrito por outros e produzido por mim, vai ser divertido.

H.U.T: “Tento desfrutar daquilo que faço e, acima de tudo, do processo criativo”

Rúben Pereira, mais conhecido por H.U.T, sempre gostou muito de escrever, rabiscava os cadernos da escola, escrevia em folhas ou no computador, mas guardava sempre tudo para si. Focado no futsal, nunca imaginou que algum dia teria músicas num canal Youtube. Mais tarde, decidiu pôr a vergonha de lado e entrar na cultura da melhor forma que sabia, pela escrita e, consequentemente, pelo rap.

Quando surgiu a paixão pelo hip-hop?

A minha paixão pelo hip-hop está presente desde que me lembro. Desde miúdo que ouço o estilo e vivo o estilo. Sempre adorei andar de fato de treino e roupas mais largas, características do movimento hip-hop. Sempre escrevi, lembro-me até que uma vez ganhei um concurso de poemas na escola, portanto a paixão acho que nasceu comigo. Lembro-me também de fazer uns rabiscos a imitar graffitis e tudo mais. Acho mesmo que o hip-hop nasceu comigo.

O que te levou a aventurares-te na música?

A aventura começa no final de 2017, através de um amigo, que também se tornou rapper: o Kibow dos Instinto26. Eu já o conhecia, conheci o resto do grupo e comecei a acompanhá-los na ida a listas de escolas. Quando comecei a dar-me mais com eles, o bichinho pela música surgiu com mais força e então decidi mostrar-lhes umas letras que tinha feito. Eles gostaram do meu trabalho e então comecei a ir com eles ao estúdio e lançei umas músicas que entretanto, até já não estão disponíveis no Youtube. Posso dizer que hoje também já não faço parte do grupo, no entanto, foram eles que me deram força e despertaram um talento escondido. Desde já, agradeço muito por isso e fico muito feliz pelo sucesso todo que estão a ter.

Como tem sido o feedback do pessoal à tua música?

Eu acho que o feedback tem sido positivo. Muitas pessoas que me conheciam pelo “Rubinho” que joga futsal, têm ficado algo surpreendidas por eu cantar e pelo que tenho lançado. Posso dizer que ao nível das visualizações, não tenho notado assim um grande impacto ou um feedback muito acentuado, mas principalmente, através de partilhas, gostos e mensagens tenho sentido um feedback muito motivador. Falando particularmente, do último trabalho lançado, o feedback foi, sem dúvida, o melhor de todos. Não esperava, muito honestamente, ouvir a música passar na vossa rádio ou conceder-vos uma entrevista. Acho que o videoclip, realizado pelos ImpactoFilms também deu um toque especial à música.

Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?

Eu não posso destacar ninguém em concreto. Ninguém que seja mesmo aquela influência enorme. Acho que hoje em dia o que me fascina mais é o Sam The Kid pela capacidade lírica que ele tem e por ser aquilo que eu mais prezo na cultura hip-hop. Mas as minhas influências foram muito por fases e à medida que fui crescendo e ouvindo novos artistas, fui-me moldando e bebendo de várias sonoridades e estilos. No início, em miúdo e quando comecei a ouvir o estilo, os nomes estrangeiros que ouvia muito, eram o Eminem, o 50 Cent e o DMX. Também me recordo que ouvia muito o Akon e o Ne-Yo.

Portugueses ouvia o Sam The Kid, o Valete, os Da Weasel e o Boss AC. Estes foram os primeiros que tive a oportunidade de conhecer, tanto nacionais como estrangeiros. Mas lá está, todos muito diferentes. E alguns nem sei se os posso considerar rappers. Depois, mais na fase da adolescência, comecei a ouvir, e muito, a Força Suprema. Acho que foram os que mais ouvi e os que me despertaram mais o gosto pelo hip-hop. Também me deram a conhecer nessa fase o Plutónio que também ouvia bastante. Já americanos, comecei a ouvir mais o 2Pac e o Chris Brown, talvez. Acho que foram os que de facto, ouvi mais nessa fase. Mas lá está, várias sonoridades e estilos.

Hoje em dia, posso dizer que ouço um pouco de tudo, muito honestamente. Aliás, acho que sempre foi assim (Risos). Ouço mais hip-hop português que americano, e estou mais a par das novidades em Portugal que no estrangeiro mas ouço vários artistas e estilos. Depende do mood. Acho que destaco, apesar de estrangeiros e de ouvir mais as músicas portuguesas, talvez o XXXTentacion e o Lil Peep que são dois artistas dos que ouço com mais regularidade e com os quais me identifico num estilo mais sad de fazer música. Sinto muito o trabalho deles. Também ouço muito Reggaeton.

Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

Acho que a melhor resposta a esta pergunta é a minha última música, “Introspecção” (Risos). Eu não posso considerar que tenha algum objetivo estabelecido. Eu tento desfrutar daquilo que faço e desfrutar, acima de tudo, do processo criativo. O que me dá mais gosto é, sem dúvida, a escrita e portanto tento expressar-me e fazê-la com gosto. Aproveito o momento.

Não posso ser hipócrita e dizer que não almejo ganhar dinheiro com a música, viver dela ou ser conhecido pelo meu trabalho, óbvio que gostava que tal acontecesse, mas não é de todo, o mais importante para mim. Claro que quero chegar o mais longe possível, mas também se nunca viver o sonho de ter este hobby como trabalho, apenas o facto de o puder fazer, a mim já me completa. De verdade. Dá me um prazer enorme ver trabalhos meus na net.

Consegues revelar algum projeto que esteja para sair, se é que estás a pensar nisso?

Se com projeto considerarem alguma mixtape, EP ou álbum, não estou de todo a pensar nisso. A minha ideia é ir lançando mais músicas soltas e ir colocando umas letras com mensagens que considero importantes no meu Instagram. Normalmente falo dos temas do momento, mas tenciono ir deixando lá algumas letras para além desses temas.

No canal, talvez já existem em perspetiva alguns feats, que também possam sair, mas vão ter de acompanhar-me nestas duas plataformas para verem as novidades (Risos). Uma coisa é certa, não estou preso a nenhum estilo, seja mais sad, seja de festa, seja o que for, lançarei o que sentir. Sempre. Portanto, acho que serei sempre uma caixinha de surpresas (Risos).

Mig L: “Vou-me deixar levar pela corrente, sempre fiel a mim mesmo”

Mig L começou a explorar o hip-hop ainda no secundário, a paixão pela música sempre esteve intrínseca na sua vida mas foi com a crew IC, que criou na altura com alguns amigos, que a cultura começou a brotar dentro de si e dos que o rodeavam. Ouviam rap nos intervalos, tanto em batalhas, como em freestyles, e quase toda a gente fazia uma das vertentes, ninguém queria ficar de fora.

O que te levou a aventurares-te na música?

Foi mesmo não querer ficar na ignorância, e querer saber até onde este “talento” me podia levar. Também foi pela pressão dos meus tropas, a quem eu agradeço imenso, sem eles nunca tinha saído da casca e lançado alguma coisa. Devo-lhes muito por terem puxado por mim, tanto em “concertos” intimistas e pessoais que dava nas ruas da nossa zona, como em conversas banais em que eles puxavam por mim, para eu lançar algo para a internet.

Como tem sido o feedback do pessoal à tua música?

Opá, até ver superou as minhas espectativas para primeiro single, não me posso queixar, tem sido positivo.

Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?

Para ser mais conciso vou dividir em influências nacionais e internacionais. Das nacionais destaco Sam The Kid, sem sombra de dúvida o melhor neste panorama nacional. Também ouvi muito Valete nos meus tempos de escola, o que me influenciou bastante, o Deau, para mim o melhor liricista da nova Escola, e tenho bastantes outros: Virtus, Keso, Dillaz e todos os meus manos da Jet Lag. Dos internacionais, sem oposição vem em primeiro o J Cole, seguido de bastantes outros, Kendrick, Common, Lupe Fiasco, JID, Evidence, etc.

Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

Vou até onde o vento me levar, não tenho expetativas, vou-me deixar levar pela corrente, espero eu, sempre fiel a mim mesmo.

Consegues revelar algum projeto que esteja para sair, se é que estás a pensar nisso?

Para já quero lançar vários sons soltos, também para o pessoal conhecer o meu registo, e depois de ter o nome vincado no Game, aí sim, penso em projetos com pés e cabeça. Mas neste momento estou com a cabeça nas nuvens a desfrutar do momento, se algum dia esse projeto vier a concretizar-se teria todo o gosto em poder abraçá-lo, mas para já vivo um dia de cada vez em relação a música. Obrigado pela oportunidade, props ao meus tropas Jet Lag e toda a comunidade da cultura!