Peculiar&Freak e Coast:”O Descontentamento Contente foi apenas a primeira peça de um projeto muito maior”
Diretamente de Faro, Peculiar&Freak e Coast agarram qualquer ouvido pela singularidade das melodias. “Descontentamento Contente” é o primeiro single que junta os dois depois da colaboração no cover de Lágrimas, de Slow J, lançado no início do mês de outubro. Fica a conhecê-los um pouco melhor e o que os inspira na criação de letras e sonoridades tão únicas.
Quando surgiu a paixão pelo hip-hop?
Peculiar&Freak (P&F) – O hip-hop não me conquistou de imediato. Ao longo dos anos fui apresentado ao hip-hop várias vezes, principalmente por amigos e pela minha geração, contudo, talvez por ser tão mainstream ou por não entender ainda a sua complexidade e profundidade, nunca foi algo que me chamasse a atenção.
De forma geral sempre gostei muito mais de cantar e dos estilos associados como R&B, Jazz, Indie, Pop do que propriamente Rap, no entanto, há cerca de um ano comecei a tropeçar no hip-hop através das minhas playlists do spotify, sendo que me interessei principalmente nos beats que tinham samplings de Jazz.
Fiquei viciado no embalo da métrica, fascinado pela fusão dos estilos Hip-Hop (novo) e Jazz (velho) e isso levou-me eventualmente ao hip-hop tuga, onde devido ao português começei a perceber a riqueza lírica de cada verso e a história por detrás de cada som. Desde então são raros os dias em que não tomo a minha dose de Slow J, Praso, Alcool Club, Capicua, etc…
Coast – Não me lembro em concreto de quando, mas a paixão surgiu em puto, embora tenha tido maior influência o ano em que fui morar para a Margem Sul, na altura tinha uns 13/14 anos e foi aí que comecei a ouvir mais.
O que te levou a aventurares-te na música?
P&F – A música sempre esteve presente na minha vida. As canções que o meu avô me entoava quando era pequenino, o coro da minha escola primária e principalmente o Conservatório onde in(conscientemente) ganhei a maior parte das minhas fundações musicais. Mas foi no 10º que compus a minha primeira música, tive uma ideia de uma melodia a meio de uma aula de Físico-Química e começei a escrever uns versos no caderno que eventualmente terminei em casa.
Na altura já cantava uns covers no Instagram mas nunca tinha feito algo original. Sempre adorei cantar e tocar guitarra, mas foi uma sensação completamente única criar algo tão pessoal e íntimo pela primeira vez. A excitação ao encaixar cada palavra no papel, ao encontrar aquele último acorde que só existia na minha imaginação e depois finalmente fundir todos aqueles elementos numa música só, foi “BRUTAL”.
Para mim as músicas estavam tão fixes que só as queria mostrar à minha família, aos meus amigos e eventualmente a toda a gente. Tive a sorte de conhecer outro pessoal da minha idade que também tinha a mesma paixão que eu e com uma ajuda aqui e ali consegui começar a gravar e colocar a minha arte cá fora. Desde então nunca parei.
Coast – O bichinho pela escrita apareceu mais tarde, quando voltei para o Algarve, mas na altura escrevia só por diversão mesmo, punha uns beats básicos e acabava por sair alguma cena. Só aos 16 é que decidi levar isto um pouco mais a sério. Falei com um amigo meu, Vicente Leal, que por acaso estava na mesma onda que eu e decidimos então criar um grupo, os Flowmen. Chegámos a dar uns concertos em festas e campanhas de listas. Entretanto ele foi estudar para Londres e a maioria dos nossos sons nunca chegaram a sair, mas posso dizer que teremos novidades em breve.
Como tem sido o feedback do pessoal à tua música?
P&F – Felizmente tem sido bom. Eu sinto que cada música que tenho é completamente diferente das outras, o que me deixa contente. Contudo tenho algum receio que, por não ser coerente e por transitar de géneros de forma tão fluída, acabe por não conseguir atrair um público estável. Até agora, no entanto, só tenho recebido elogios em relação a todas as minhas produções, por isso penso que devo estar a fazer algo bem.
Apesar de agradar às pessoas, sinto-me insatisfeito com o meu alcance. Oportunidades de divulgação são raras e difíceis de arranjar por isso gostaria desde já de agradecer-vos por esta!
Coast – O feedback é geralmente positivo, claro que nunca está 100% bom, mas foram precisamente esses erros cometidos ao início que me permitiram evoluir até hoje, estou sempre a aprender, quer seja com os meus erros ou por influência de grandes nomes da cultura.
Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?
P&F – A cultura que me rodeia é principalmente musical, e é dela que eu retiro a maioria das minhas inspirações. O meu gosto tem evoluído com o tempo, mas há certos artistas que me marcaram. Alguns deles são Ella Fitzgerald, Fkj, Ashe, Rejjie Snow e Slow J.
Eu tento várias vezes ter uma sonoridade parecida a certos artistas que admiro, mas nunca consigo fazê-lo. Todavia ainda não consegui perceber se é algo bom, porque significa que já tenho a minha própria, ou se simplesmente significa que ainda não atingi esse patamar de produção.
Coast – É um bocado complicado dar nomes, mas alguns artistas que me inspiraram bastante ao longo do tempo e que me vêm agora à cabeça são o Papillon, Slow J, Profjam, Força Suprema, Mobb Deep, Tupac e Biggie, Dillaz.
Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?
P&F – Estabelecido penso que não, mas gostava que a música fosse no futuro a minha principal ocupação, apesar de também querer trabalhar na área da rádio e noutras vertentes artísticas. Por agora foco-me em concluir um projeto de cada vez.
Coast – Sinceramente já levei a música mais a sério, quando criámos os Flowmen as ambições eram diferentes. Hoje em dia olho para a música como uma maneira de libertação, de expressar por vezes como me sinto ou até mesmo quando me sinto inspirado para escrever uma cena diferente. Nunca com altas expectativas, faço isto para me distrair e porque gosto, não para chegar a algum lado. Quero que as pessoas sintam a cena. O importante para mim é os sons saírem e o feedback que recebo.
Conseguem revelar algum projeto que esteja para sair, se é que estão a pensar nisso?
P&F – O Descontentamento Contente foi apenas a primeira peça de um projeto muito maior. Esta sexta-feira, dia 30 de outubro às 18h, vou lançar outro som em colaboração com um artista brasileiro (Samm Costa), em novembro vou lançar outras duas músicas, sendo uma delas também uma colaboração, e finalmente em dezembro sairá o meu primeiro EP composto por outras três músicas.
Coast – Como já referi anteriormente, tenho algumas cenas por gravar com o Vicente e mais alguns amigos meus. Mas ultimamente tenho trabalhado num som mais underground e o beat remete um pouco de trap, um bocado diferente do meu estilo que é o boom bap, e posso-vos dizer que estou bastante satisfeito com o resultado, é esperar para ver.