Hip Hop Rádio

Carolina Costa

First Steps: competições, talks, workshops e muito mais na edição deste ano do festival

O festival First Steps está de volta nos dias 20 e 21 de novembro, presencialmente, para dar palco a novos talentos nas áreas da dança, graffiti, beatbox, mcing, djing, produção musical e audiovisual. O evento irá realizar-se no espaço The Hood, no UBBO em Lisboa, e vai contar com competições, cyphers, conversas e workshops. O programa completo pode ser consultado aqui.

A Hip Hop Rádio é parceira do evento e vai promover uma conversa Hip Hop Rádio ao Vivo, no dia 20 de novembro pelas 20h, desta vez com o tema “A profissionalização no mundo do hip-hop”. Este debate vai contar com convidados de quatro áreas do hip-hop: Chure (graffiti), Jewow (beatbox), Dougie (breakdance) e Max Ferreira/Dj Algore (rap e produção).

Também no dia 20 de novembro vai acontecer a Pro Steps Jam, competição com curadoria da Hip Hop Rádio na vertente do rap. Esta vai acontecer em modo cypher e os participantes serão desafiados a rimar durante 30 minutos, até ser escolhido o vencedor por um jurado secreto. A participação tem um custo de inscrição de 5€ e o vencedor vai levar consigo um prémio de 50€. Podes inscrever-te para participar já aqui.

Destacamos ainda o workshop de Ritmo e Poesia que vai acontecer dia 20 de novembro, pelas 17h00​, com a formadora Muleca XIII​. Este tem uma duração de uma hora e o preço de inscrição é de 10€. As vagas são limitadas, podes inscrever-te já aqui.

N Códigos: o novo projeto que junta NTS a mais de 30 artistas de todo o país

Como o próprio nome indica, ‘N CÓDIGOS’ é um projeto que pretende juntar os códigos postais do país e divulgar 20 músicas, uma por mês, onde o artista NTS colabora com um artista ou grupo musical de cada um dos 18 distritos e das 2 regiões autónomas de Portugal.

Mais do que a divulgação dos próprios artistas, o projeto tem como um dos principais objetivo fazer chegar um pouco de cada localidade ao restante país, dando a conhecer a sua história, costumes e tradições, daí a referência aos códigos postais. Para além de todos os intervenientes na criação das músicas, 23 MC’s e 14 produtores no total, o projeto conta ainda com designers gráficos, gestores de projeto, engenheiros de som e web designers que têm vindo a trabalhar nele inteiramente à distância.

A Hip Hop Rádio é parceira deste projeto e, para além de passar as músicas na emissão, vamos ter ainda dois programas mensais dedicados ao mesmo. O primeiro vai ser a apresentação da música lançada nesse mês, onde vamos dar a conhecer o processo de criação e algumas músicas dos MC’s convidados. No segundo programa, o Palco da Gera ‘Edição distrito’, vamos conhecer alguns artistas emergentes do mesmo distrito que o convidado desse mês.

Filtro: “Quem ouve gosta e sente, e para mim isso é o mais importante”

Tomás Cabeleira, mais conhecido por Filtro, estreou-se nas rimas há cerca de um ano com “Rimo O Que Não Gosto”, um som onde vem acompanhado por Kappa G, uma das suas maiores referências. Recentemente volta ao panorama com a faixa “Serotonina”, juntamente com Claustro e Ricardo Costa, o que nos levou a conversar com o rapper para perceber o seu percurso até agora e alguns objetivos para o futuro.

Quando surgiu a paixão pelo hip-hop?

A minha paixão pelo hip-hop surgiu quando era miúdo, eu já escrevia muitos textos, e desde muito cedo que comecei também a escrever letras. O meu irmão, que é realizador de cinema, costumava mostrar-me muitos filmes quando eu era mais novo, e foi quando ele me mostrou o 8 mile que tive o primeiro impacto com a cultura. A partir daí comecei a ouvir muito hip-hop, a assistir a rap battles, a improvisar e escrever letras, etc. Lembro-me bem de o fazer no ciclo e de mandar improvisos no liceu atrás dos pavilhões.

O que te levou a aventurares-te na música?   

Sempre gostei de escrever e tive letras escritas, mas nunca gostei de me ouvir a cantá-las, assim como nunca as mostrava a ninguém. Sempre improvisei com o pessoal desde novo, que também me encorajava para cantar e lançar sons, mas nunca lancei por essa mesma razão. Um dia numa gravação de um videoclip de um rapper que eu admiro imenso, uma das minhas influências, o Kappa G, quando eu já estava meio alcoolizado, mostrei-lhe uma letra, ele adorou e disse que me gravava a música no seu estúdio. Acabei por lançar a música e ele participou nela, posso dizer que se não fosse ele, nunca tinha tido coragem para o fazer, e claro que houve mais gente a encorajar-me a fazê-lo. O meu mais velho cá da zona, por exemplo, entre outros amigos (não os posso enumerar a todos, infelizmente) alguns também rappers, como o Claustro, mas se não fosse o Kappa a oferecer-me as condições para o fazer, o “Rimo o que não gosto” não teria saído e o Filtro não existiria.

Como tem sido o feedback do pessoal à tua música?

Tem sido bom, comecei há pouco tempo e embora não sejam muitos ouvintes, quem ouve gosta e sente, e para mim isso é o mais importante.

Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?

As minhas maiores influências têm o mesmo cordão umbilical que eu, são pessoas da minha terra, que lutam por ela e não desistem, verdadeiros hustlers. Mas do Rap, Entronka Gs sem dúvida que são capazes de ser umas das minhas maiores influências, sobretudo pelo que representam. Regula, Dillaz ou Jimmy P são alguns dos nomes que mais me marcaram, tenho um ouvido muito eclético para o rap, gosto muito de diferentes estilos e artistas.

Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

Nada em concreto, gostava de viver da música, mas sabemos que é muito difícil. Gostava de um dia atuar num grande palco também, mas só o tempo o dirá. De qualquer das maneiras sinto-me realizado com o que tenho, de resto, só o tempo o dirá. O objetivo neste momento é continuar a exprimir o que sinto, com cada vez mais intensidade.

Dose Diária | DJ Sims & Cachapa – Espalha-Brasas

DJ Sims & Cachapa mostram o quão fácil é destronar um Espalha-Brasas.

Numa faixa que se compromete a atirar pelas escadas abaixo todos os que falam demasiado, o rapper Eborense faz tag team com o DJ e produtor conterrâneo para deixarem o seu aviso bem claro. 

Num instrumental acompanhado por um scratch que dá azo a versos ácidos, o MC dispara tiros à queima roupa em cada rima, sem qualquer tipo de receio de ser desagradável.

Assim que abrem a gaveta da sua caixa de pandora, DJ Sims e Cachapa livram o mundo de todos os que seguem “o legado de dick suckers”.

Rilha: “Vejo a música como um escape tão puro que só isso já me satisfaz”

Depois da participação no Ep “Barbudisses” de Beiro em 2018, Rilha volta em 2021 com o trabalho “Reti Essência”, um disco com quatro sons que traz algumas reticências para o futuro. O EP do membro do Coletivo Caixa Cartão tem data marcada para dia 7 de agosto e já conta com duas faixas cá fora: “Barco” e “Olha à Volta”. Estivemos à conversa com o rapper para perceber as suas inspirações, influências na música e objetivos para o futuro.

Quando surgiu a paixão pelo hip-hop?

Começou quando era mais novo, por volta dos 15 anos o pessoal com quem me dou gostava de passar várias tarde e noites a ouvir beats e fazer improvisos onde quer que fosse.

O que te levou a aventurares-te na música?

Esses momentos de que falo foram muito importantes para os anos que se seguem, a vontade de rimar era insaciável e foi onde arranjei conforto.

Como tem sido o feedback do pessoal à tua música?

Muito grato pelo apoio dos que me rodeiam, têm-me dado vontade de fazer mais e de me superar a cada projeto.

Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?

Ouço muita coisa para além de rap, mas dentro do panorama nacional, tenho de evidenciar Berna, Quartel 469, Sexto Sentido que, de todos os nomes que passaram nos meus fones, estes foram sem dúvida grandes influências para mim. Á parte disto tenho de referir a malta que me rodeia, o colectivo Caixa Cartão, grupo do qual faço parte e que me fez aprender imenso em diversos aspetos. 

Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

O que pretendo ao fazer música é simplesmente expressar-me, libertar-me da pressão e do stress do dia-a-dia laboral, vejo-a como um escape tão puro que só isso já me satisfaz.

Como surgiu a ideia para o EP “Reti Essência”?

A ideia do EP surge de sessões com o Kron Father, de beats do Beiro e de letras que tinha feito ao longo do meu percurso até então. Neste disco tentei ao máximo reter a minha essência ao longo dos 4 sons relativamente ao que gosto, à minha perspetiva e daquilo que posso fazer. Ao mesmo tempo é reticências para um futuro.

Kyra: “Quero continuar a falar até ter algo para dizer, e até sentir que é necessário fazê-lo”

Entre o hip-hop e o rock encontramos KYRA, que nos faz viajar desde os beats mais melancólicos aos psicadélicos, sempre temperados com rimas cruas que fazem qualquer um “achar que está perdido”. Estivemos à conversa com o artista que acaba de lançar “Espaço Negativo”, uma faixa que conta com a colaboração de Damaz MC e produção de Catalão.

Quando surgiu a paixão pelo hip-hop?

Se bem me recordo o primeiro contacto que tive com a cultura foi por intermédio da faixa Hip Hop (Sou Eu e És tu) do AC. A partir daí foram muitos anos de pesquisa e estudo que fizeram com que, de certa forma, estabelece-se uma ligação forte e concisa com todos os pilares da própria cultura.

O que te levou a aventurares-te na música?

Apenas queria ser ouvido e compreendido como qualquer adolescente que pensa que quer mudar o mundo e que esse pensamento é o mais correto. Em 2015 acabei por integrar uma comitiva denominada ERA 85 e de lá saíram os meus primeiros projetos captados de forma amadora mas sempre fiéis ao meu modo de interpretar a minha própria arte. Montei o meu próprio estúdio em meados de 2018 (4th Wall Studios) e comecei a captar as minhas faixas e as faixas dos meus amigos mais próximos.

No mesmo ano conheci pessoalmente o DAMAZ MC que foi uma pessoa que mudou para sempre a minha vida e me deu uma nova visão sobre a arte, foi uma pessoa que despertou em mim um novo ser. Em 2019 comecei a atuar com músicos e, esse suporte ao vivo, criou uma motivação em mim para criar um outro projeto mais virado para o Rock, nascido naturalmente em 2020, a banda MÁ VIZINHANÇA da qual me apresento como vocalista.

Uns copos de vinho e uns cigarros depois integrei a crew UMRAP que tem sido uma inspiração diária para mim, pois é uma sensação incrível colaborar com amigos que apresentam um talento imenso e uma ambição intensa.

Como tem sido o feedback do pessoal à tua música?

Tem sido um bom feedback, consigo atrair pessoas que têm gostos musicais muito distintos e sem dúvida isso faz me sentir grato, saber que existem pessoas que gostam de estar a par daquilo que a minha cabeça pensa seja qual for o estilo musical que eu apresente ao ouvinte. Na minha opinião um bom ouvinte sabe ouvir de tudo um pouco e é bom quando existe curiosidade pelo próximo passo que o artista vai dar. Sinto que as pessoas que me ouvem têm essa curiosidade e um certo carinho por mim enquanto artista.

Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?

90% daquilo que ultimamente tenho ouvido e analisado não se insere na cultura Hip-Hop, em grande parte tenho sido influenciado por artistas fora da cultura. Dentro da cultura DAMAZ MC, ETHOS, ORTEUM, ESCALPE, TILT, CATALÃO, SARAIVA, DJ ALGORE, TOM, MURA e CHILLANGE são figuras que me influenciam como artista e me moldam enquanto pessoa.

Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

O maior objetivo que tenho estabelecido é ser cada vez mais verdadeiro comigo e com aqueles que me rodeiam, de forma simples e natural. Tenho também o objetivo de alcançar mais pessoas e melhorar cada vez mais ao longo do tempo e da prática. A continuação trás sabedoria e alcance. Quero continuar a falar até ter algo para dizer, e até sentir que é necessário fazê-lo, porque neste momento a música transmite em mim uma sensação de paz e alívio emocional, o que me ajuda a combater os meus demónios.

Ainda não alcancei o sucesso que pretendo mas todos os dias existem micro progressos que me fazem acreditar que é possível alcançá-lo. O sucesso aparece quando o progresso é constante.

Consegues revelar algum projeto que esteja para sair, se é que estás a pensar nisso?

Posso revelar que estou no processo de criação do meu primeiro álbum com o suporte dos UMRAP. O álbum terá o nome de NUVEM DELTA e vai estar disponível em 2022 em formato digital e físico. Vão sair nos próximos tempos novos singles de MÁ VIZINHANÇA e, sem tocar muito no assunto porque não posso revelar mais detalhes… Uns Meninos do Rap.

Frankzie: “Não gosto de pôr limites nas coisas, a música faz-me bem, faz-me ser eu e ser feliz ao sê-lo”

Desde novo acompanhado pela música, Frankzie sempre teve um carinho especial pelo hip-hop. Por ser o estilo que despertava em si o sentimento mais real, começou a escrever ainda sem partilhar com ninguém, visto que os amigos na altura não ouviam o mesmo estilo. Influenciado por referências como Xtinto ou Lon3r Johny, lança agora o EP “Broken Sky”, disponível em todas as plataformas.

O que te levou a aventurares-te na música?  

Já tinha muitas “maquetes” escritas e muitas rimas perdidas em folhas, escrevia como um refúgio e não propriamente como música em si. O que me levou a entrar e apostar na música foi provavelmente o facto de ter amigos que curtiam do mesmo estilo que eu e acabávamos as noites a improvisar na brincadeira, daí ter feito uma grande introspeção de mim mesmo. Depois a malta começou a dizer que devia começar a lançar faixas e comecei a escrever para isso.

Cada vez mais estou apaixonado pela arte e pela maneira com que me consigo exprimir através da música, daí a estar a levar à mesma com grande seriedade e empenho. No fundo é uma liberdade que nunca tinha presenciado e, acima de tudo, que me faz feliz.

Como tem sido o feedback do pessoal à tua música?

Eu não sei o que vai na cabeça das pessoas, mas acho que o pessoal está a reagir muito bem ao que tenho lançado. Não é fácil ser um upcoming artist sem nada na back, contudo tenho um grupo de amigos excelente e uma equipa incrível, o que me ajuda a criar mais e melhor. Gosto de saber que me apoiam e que acreditam na minha visão, é um kind of love que eu nunca tinha experienciado e fico grato a todos os que me apoiam e partilham o meu trabalho. Significa o mundo para mim poder expressar-me e as pessoas darem relate no que canto e nos temas que abordo e ver pelas partilhas que fazem que acreditam no meu potencial, priceless.

Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?

Sempre ouvi variados estilos musicais. Back in the days ouvia muitos clássicos americanos do hip-hop que foram grandes influências para mim e, hoje em dia, procuro sonoridades e esquemas de escrita que me toquem. A nível internacional ouço bastante Kendrick Lamar, Kanye West, Jay Z, Drake, Lil Baby, Tory Lanez e Don Toliver, pela maneira como conjugam sonoridades e letras.

A nível nacional, o que mais me influenciou no início foram clássicos como Valete, Sam the Kid e mais tarde Dillaz. Não só pela musicalidade mas muito pelas letras que escreviam. Visto que na altura só escrevia para mim, eram boas referências para limar e para conseguir passar e abordar temas de maneira eficaz.

Hoje em dia os artistas portugueses que mais admiro e sinto são o Xtinto, um dos maiores génios liricistas da atualidade, Rafael Dior que também se estreou no ano passado mas claramente provou que veio para ficar, Lon3r Johny, que para mim é um visionário musical e tem capacidade internacional e Cripta, um rapper, produtor e engenheiro de som com o qual tenho vindo a trabalhar e que esteve por detrás da mistura e masterização do meu EP quase por inteiro  e que admiro muito, com certeza que vai brilhar muito nos próximos anos.

Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

Não gosto de pôr limites nas coisas, a música faz-me bem, faz-me ser eu e ser feliz ao sê-lo. Sei que é clichê mas a verdade é que se a música for feita com sentimento, trabalho, dedicação e paixão acho que as coisas mais cedo ou mais tarde acabam por “rebentar” e ir na direção que têm de ir. Sou uma pessoa que neste momento sinto-me bem com o que estou a mostrar ao público, gosto da minha música e de saber que mais pessoas gostam também é incrível para mim.

Vou continuar a dar o meu melhor e tentar chegar o mais longe possível. O sonho é ser eterno, aproveitar toda a caminhada seja para que caminho for e, à medida que vou avançando, quero sentir-me realizado enquanto me expresso e dou o melhor de mim. Quero continuar a fazer o que gosto e não me quero limitar em nenhum aspeto, nem o céu é limite para a criatividade e para o sonho.

Noiatt: “Interpreto comentários como ‘isto é estranho’ de forma positiva”

Mais conhecido por Noia, Nuno está ligado à música desde os 16 anos, sempre com um gosto especial pelo movimento punk hardcore. Lançou o seu primeiro projeto em 2018 e, mais recentemente, divulgou o EP Simulacro, uma tentativa de estudo àquilo que é ou não real influenciado pelo “Matrix”, e pelo livro que influenciou o Matrix (“Simulacra and Simulation”). Em conversa com a Hip Hop Rádio revelou as suas influências, os primeiros passos no mundo da música e ainda como surgiu a ideia do novo EP.

Quando surgiu a paixão pelo hip-hop?

A minha paixão pelo hip-hop surgiu perto dos onze anos de idade, depois de ouvir o “Podes fugir mas não te podes esconder” dos Da Weasel. Eu já gostava de punk rock, mas a mistura que Da Weasel fazia era o melhor dos dois mundos. De seguida conheci Mind da gap devido ao som “Nortesul” (do “Sem Cerimónias”) porque tinha feat. do Virgul e do Pacman, e fiquei viciado em Mundo Complexo que literalmente comprei ao calhas numa loja de discos.

Depois comecei a ouvir os nomes emergentes da altura, Sam the kid, Dealema, Xeg, Valete, Chullage, Regula, J cap, Fuse, etc. No entanto, mesmo com este passado de ouvir hip-hop, o punk hardcore foi o movimento que abracei na minha adolescência. Na altura a rebeldia, a energia e o “querer fazer agora” falou mais alto e foi o que me levou a apaixonar pelo movimento.

O que te levou a aventurares-te na música? 

Se falarmos de música em geral, eu sempre quis fazer um projeto mas não conhecia malta que tocasse. Mas, perto dos meus 16 anos, conheci um rapaz que me convidou para a que iria ser a minha primeira banda. No entanto, mesmo tocando numa banda de música pesada, eu sempre tive o bichinho de fazer algo relacionado com o hip-hop, e foi quando fiz Erasmus em Dublin, em 2015, que decidi que iria criar este projeto.

Respondendo diretamente à questão, o que me levou a aventurar-me na música foi a necessidade de criar extraindo de mim próprio. Eu tenho uma necessidade extrema de criar, para fins terapêuticos.

Como surgiu a ideia para o EP Simulacro?

O EP em traços gerais fala sobre as várias camadas do sujeito numa ótica existencialista, as suas ações, sentimentos, e a sua própria vivência. Extremamente influenciado pelo “Matrix”, e pelo livro que influenciou o Matrix (“Simulacra and Simulation”), o EP é uma tentativa de estudo àquilo que é ou não real. Daí o nome “Simulacro” (uma representação ou imitação de uma pessoa ou coisa.)

A nível da produção, optei por produzir instrumentais com caráter eletrónico com fontes do UK. Navego entre o grime, garage, two step, dubstep, drill, sendo que a entrega final é hip-hop oriented.

Como tem sido o feedback do pessoal à tua música?

Até agora o feedback tem sido positivo. Entendo perfeitamente que seja algo mais difícil de entrar nos ouvidos pois não é diretamente hip-hop, tem várias influências associadas. No entanto, interpreto comentários como “isto é estranho” de forma positiva. So far so good.

Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?

Se tivermos a falar de hip-hop tenho que referir MF Doom, por ser a personificação de hip-hop, para mim, e um verdadeiro vilão a escrever e a compor, Dirty Dike, devido ao humor e sarcasmo, The Streets, por fazerem uma fusão única de som e poesia, Non Phixion, Necro e Ill Bill, pela rawness e liricismo. E para não ficar mal não dizer uma influência portuguesa, o Serial, dos Mind Da Gap, por estar muito à frente do seu tempo em termos de beatmaking.

Um bocado mais fora da cultura hip-hop sigo a cultura do UK Grime que, por sua vez, foi uma grande influência para este projeto. E Moby por ser um all time favourite artist.

Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

O céu é o limite. Quero tocar bastante. O grande objetivo para mim seria estabelecer-me como um artista fora do padrão. As pessoas já saberem em antemão que vem algo diferente deste lado.

SINDROMA: “no dia em que sai um projeto, o próximo já tem de ir a meio”

Nascido e criado em Odivelas, Ricardo Mascarenhas já tem vários trabalhos lançados, nomeadamente Logoterapia (2009), Bootlegt (2011) e Sin City (2015) . Mais conhecido por Sindroma, lança este ano a tape Easy Jet Pilot onde conta a história de um piloto, que, em 12 faixas, faz uma viagem sobre a sua vida, com pormenores que muitos se podem identificar, como a depressão, desemprego, crise financeira, crises existenciais ou drogas. Fica a conhecê-lo um pouco melhor nesta pequena entrevista.

Quando surgiu a paixão pelo hip-hop?

A paixão pelo hip-hop surge de forma acentuada, com a chegada da Tv cabo a minha casa (1997 canal Viva e MTV mais tarde MCM), abrindo assim os meus horizontes para todo um cardápio de músicas a partir de videoclips, entrevistas, live acts, etc.

O que te levou a aventurares-te na música?

Acima de tudo, o feeling de ser um fã incondicional das coisas que ouvia, de alguma forma sempre vi como algo que me identificava a 100%, mesmo que viesse de um mundo muito diferente e paralelo do meu, só o tentar fazer algo parecido seria algo maravilhoso. Outro dos fatores foi a necessidade de expressão dos meus pensamentos, ao iniciar o processo escrita apercebi-me que muitas das vezes só refletia realmente sobre algo ao tentar escrever em verso os pensamentos que tinha sobre algo.

Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?

Blackmoon, Smif n wessun, Wu-tang Clan, Cypress Hill, Redman, Method Man, Busta Rhymes, Schoolboy Q , Asap Rocky, Currensy, Action Bronson, Dead Prez, Chullage, Sam da Kid, Dilated Peoples, Mos Def, EPMD, etc.

Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

Sky is the limit for people like me, gostaria de chegar a um estatudo de reconhecimento que não me levasse propriamente à fama, mas sim me permitisse o reconhecimento devido, de forma a que no futuro possa criar mais contéudos (mais criativos e com mais gente incorporada das mais variadas áreas artisticas). Gostava também de dar a minha perspetiva nos mais variados details da vida e permitir ao ouvinte captar a minha informação, chegando a novas premissas no seu pensamento.

Consegues revelar algum projeto que esteja para sair, se é que estás a pensar nisso?

O minha estratégia sempre foi: no dia em que sai um projeto, o próximo já tem de ir a meio, logo num futuro próximo estarei de volta ao estúdio para gravar material novo, assim como terei mais videoclips do projeto Easy Jet Pilot para sair, bem como mais temáticas em formato de documentário.

Auge e Relax.mkf: “Havia também o sentimento de fazer parte de algo especial”

Auge e Relax.mkf acabam de soltar “Grelado Misto”, o primeiro lançamento da produtora Paper Bag. O back & forth agitado entre os artistas anuncia um “atrelado de artes de outros tipos” neste tema. A curiosidade para ouvir mais sonoridades dos dois juntos ficou instalada, por enquanto fica a conhecê-los um pouco melhor nesta pequena entrevista.

Quando surgiu a paixão pelo hip-hop?

Auge – 1997/1998

Relax.mkf – Finais de 90, inícios de 2000.

O que te levou a aventurares-te na música?  

Auge – Concretamente, não sei. Talvez a necessidade de exprimir a minha criatividade. Havia também o sentimento de fazer parte de algo especial, ser diferente.

Relax.mkf – A vontade de criar, de me auto-superar, de querer fazer parte de algo que fugisse um pouco à regra. 

Como tem sido o feedback do pessoal à tua música?

Auge – Acho que positivo.

Relax.mfk – Em grande parte tem sido positivo.

Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?

Auge – É muito complicado responder a isso. É uma lista que vai variando todos os anos. Dos óbvios aos menos óbvios. A primeira, Guru, a mais recente, 6lack.

Relax.mfk – Uma pergunta complicada… Da primeira à mais atual, REDMAN – Muddy Waters e REASON – New Beginnings.

Onde gostavam de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

Auge – O meu objetivo atualmente, é concluir e difundir tudo aquilo que faço ASAP. Levar a minha música o mais rápido possível, ao maior número de pessoas possível.

Relax.mfk – Ao maior número de gente possível! Fazer estrada, criar cada vez mais, fazer mais colaborações, por aí…

Conseguem revelar algum projeto que esteja para sair, se é que estás a pensar nisso?

Auge – PAPER BAG! A produtora que acabámos de criar. Será ela o veículo para todos os projetos e para something bigger.

Relax.mfk – PAPERBAG ALL DAY LONG! Está muita coisa no forno, é o que posso adiantar.

CHI: “Nunca levo conselhos de pessoas com menos sucesso do que eu”

Chegou às ruas o novo single de Chi, Way Yo, com muita atitude e rimas de outros tipos, ou melhor, de outras línguas. A artista contou-nos um pouco da sua história de amor com o hip-hop, objetivos com a música, filosofias de vida e mais.

Quando surgiu a paixão pelo hip-hop?

Lembro-me da primeira música que me fez estudar, ir procurar e pesquisar o hip hop. Era a  ”Nasty Girl” dedicatória a BIG e aí a vida ficou melhor.

O que te levou a aventurares-te na música?   

Sempre fez parte de mim, mas acho que foi na altura mais baixa da minha vida, tornou-se uma razão para me levantar da cama. Mais que uma aventura, uma salvação.

Como tem sido o feedback do pessoal à tua música?

Melhor que as expetativas que tinha, mas tenho uma filosofia de vida que é: nunca levo conselhos de pessoas com menos sucesso do que eu.

Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?

2Pac

Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

Quero pisar palcos mundiais, quero inspirar, quero (quem sabe) salvar vidas com as minhas letras, mas acima de tudo, quero deixar a minha mensagem, a minha marca no mundo.

Consegues revelar algum projeto que esteja para sair, se é que estás a pensar nisso?

Vou ensinar o que é lealdade no meu próximo projeto.

Truekey: “Quero fazer música com qualidade e com respeito pelos meus valores”

“Fica Longe” é o mais recente single do Truekey, artista que já conta com um álbum e um projeto a solo, bem como uns quantos singles já divulgados. Colaborando com nomes como NastyFactor ou Fumaxa, o rapper de Odivelas tem vindo a lançar temas que espelham as suas vivências, reportando emoções, sentimentos e acima de tudo conclusões e fechos de ciclo.

Quando surgiu a paixão pelo hip-hop?

Há muitos anos atrás quando a minha irmã, com mais 9 anos que eu, punha Eminem em casa. Eu devia ter aproximadamente 7 ou 8 anos.

O que te levou a aventurares-te na música?   

Não olho para isto como uma aventura, no sentido da palavra. É mais um “Go with a flow”, uma paixão que deu frutos.

Como tem sido o feedback do pessoal à tua música?

Recebo algumas mensagens carinhosas das pessoas que vão acompanhando o meu trabalho com mais atenção. Fico feliz por saber que a música que eu e a minha equipa criamos tem um alcance emocional, e permite conectar-nos com os outros.

Quais as tuas maiores influências dentro da cultura?

Sam the Kid e Valete foram as minhas maiores e mais importantes influências no hip hop português. Com o passar dos anos fui tendo uma visão mais ampla a nível musical, e comecei a ouvir diferentes tipos de música, de diferentes países e diferentes línguas.

Onde gostavas de chegar com a música? Tens algum objetivo já estabelecido?

Só quero fazer música com qualidade e com respeito pelos meus valores. Onde eu vou chegar não sei, sei apenas que vou trabalhar bastante, tal como tenho feito até agora.

Consegues revelar algum projeto que esteja para sair, se é que estás a pensar nisso?

“Rumo Novo” o meu próximo EP que vai estar disponível nos próximos meses, e posso adiantar que um dos singles vai sair já nas próximas semanas. O produtor do EP é do Algarve DVS Keys, que também é rapper, mas participa no projeto como produtor apenas. O produtor Monksmith também deu o seu contributo em todas as faixas a nível de produção, e o rapper/produtor Nastyfactor deu o seu contributo numa vertente mais técnica da sonoridade.