Hip Hop Rádio

Bruno Fidalgo de Sousa

Antigamente fazia "a contagem diária dos cigarros que restam dentro do maço". Hoje fumo de enrolar.

PuroOuvinte – “Revólver Entre As Flores”, Keso

Estamos em 2009. Keso já não é KS Xaval, como assinara em “Raios Ta Partam”, seis anos antes. Também já não é um miúdo, é um talentoso MC cheio de potencial e prestes a lançar-se no circuito comercial do rap: tinha terminado o seu segundo álbum,  “Revólver Entre As Flores”. Contudo, o seu lançamento original nunca sucedeu: a Matarroa, mítica editora do Porto, fechou portas. Keso teve de reinventar (ou voltar às origens) e disponibilizou, ele mesmo, o disco para download. E “Revólver Entre As Flores” tornou-se, assim, um clássico, acarinhado pelos fãs como um dos projetos mais inovadores do rap tuga até então, onde Keso mistura com mestria samples hipnóticas e letras sarcásticas, mordazes. Foi a primeira amostra do que é a singularidade de Keso: o flow e a métrica e a sonoridade que deles advém. A rima é ácida, jovial e ao mesmo tempo combativa, repleta de referências (“Belarmino de volta ao ringue”) e narrativas. Vários temas (“Eternamente em cena”; “O fumo que eu fumava”) poderiam muito bem ter sido hits comerciais; outros, demonstram perfeitamente a versatilidade do músico, quer nas teclas, quer nas canções. Em 2009, o talento e a diferença do Original Marginal destacavam-se. Este disco bem o exemplifica. Graças a Keso que, em 2019, a Paga-lhe o Quarto reedita o disco para distribuição. E, com a reedição, uma supresa: o tema inédito “Sem cabeça não dá”.

Ace e Boss AC juntos em instrumental de Orelha Negra

“Parte de Mim”, um instrumental da banda Orelha Negra, encontrou-se hoje com os versos aguçados de Boss AC e Ace, dois dos MC’s mais influentes da sua geração, dando, assim, um novo fôlego ao tema de 2016.

DJ Cruzfader, Francisco Rebelo, João Gomes, Sam The Kid e Fred são os músicos componentes da aclamada banda de instrumentais Orelha Negra, que editou em 2017 o seu disco Orelha Negra III, onde se encontra o instrumental de “Parte de Mim”, gravado há quatro anos na Meifumado e disponível, agora, no YouTube da banda, com a colaboração (finalmente) de Boss AC e Ace. No vídeo (realizado por Richard F. Coelho), já tinhamos “O Padrinho” e “O Manda-Chuva” como figuras centrais, ainda que inaudíveis, mas só agora, quatro anos depois, podemos ouvir realmente o que rimam.

PuroOuvinte – “Rap de Massagem”, Hot e Oreia

Se há algo que o rap brasileiro nos tem dado nos últimos anos, é que os versos são tantas vezes sintomáticas de revolta, que há espaço para todos, que o espaço é de todos. O rap brasileiro pode não ser encarado como um fenómeno, mas é, sem dúvida, uma expressão maior de insatisfação, reflexão e acusão. Estas rimas aguçadas contra o status quo, contra o conservadorismo, em prol da democracia, são a base lírica deste honesto e genuíno disco da dupla mineira, Hot e Oreia, que deabulam entre as batidas eletrónicas e os ritmos brasileiros com o mesmo à vontade que brincam, ironizam e satiram o tema das suas faixas. “Rap de Massagem”, título, desde já, peculiar, inicia com uma reza, em simultâneo criticando o Estado e o… estado do rap; atravessam as belíssimas paisagens vocais brasileiras; cantam em homenagem à Xangô. Hot e Oreia primam pela originalidade e criatividade, pela simbiose saudável, com “um pouquito de estilo”, como rimam; são uma dupla com potencial para marcar o género, e este “Rap de Massagem” o seu atual opus magnum.

Capicua é Madre Pérola em novo disco

Treze temas e dez convidados fazem Madrepérola, novo álbum da rapper portuense que já tinha disponibilizado o tema homónimo e “Último Mergulho”.

“Madrepérola” surge na sequência da primeira gravidez de Capicua – quase como um filho, depois de um longo processo de gestação, remetendo o ouvinte para o Porto, para a existência, para a maternidade, como em “Parto sem Dor”. Camané, Catarina Salinas, Pedro Lamares, Karol Conká, Mallu Magalhães, Ricardo Ribeira, Lena D’Água, Emicida, Rincon Sapiência e Rael (com quem já colaborara em “Língua Franca”) são os convidados, quer num registo mais cantado quer na declamção poética (“Cartas a Jovens Poetas”).

O disco sucede a “Medusa”, de 2015, e tem selo da Universal Music.

“P de Palhaço”: Walez e Alley juntos em disstrack

Esta semana houve mesmo “Double Trouble”. A dupla – com Walez na escrita e interpretação e Alley no instrumental – divulgou no seu canal de YouTube a faixa “P de Palhaço”, uma sátira ao tema “P de Pablito” – de X-Tense – e o que parece ser o início de uma forma de expressão há muito usual no hip-hop: o beef ou, em bom português, um desafio e “combate” através da música. 

“P de Palhaço” entrou anteontem na esfera social do hip-hop português – e tem estado em evidência nas redes sociais. Se, até agora, tudo parecia saudável entre Walez e X-Tense, este novo tema vem provar o contrário – e as rimas ácidas do MC criticam ferozmente “Pablito”. Na verdade, a ligação entre a dupla de Lisboa e X-Tense não é de agora: colaboraram em temas (“Narcos”, que Walez cita com ““E agora atiras-me à cara que foi pelo teu convite/ Que subi na minha carreira, boy, tudo à pala dum feat?”) e palcos, tanto que o próprio X-Tense especulou a sua associação com a agência de Walez e Alley, a The No Type Records, onde também constam os nomes de Wave e Dogma, ambos citados nos versos “Tropa mas se não fosse o Wave, não havia a Yolanda” e “Ligaste ao nosso manager com um toque cínico no tom/ Propuseste uma parceria com a qual ele concordou/ Disseste que um dia lhe pagavas pelo que ele trabalhou/ Mas a verdade é que nunca ninguém da Rood lhe pagou”.

O fundamento dos seus versos ainda está por confirmar e, como há sempre duas versões na mesma história, X-Tense já deu o mote ao que está por vir nas redes sociais: “Máscaras vão cair esta semana”. Seja a máscara de palhaço ou a máscara de Pablo, tudo parece indicar que podemos aguardar por um resposta à disstrack de Walez e Alley com um tema novo de X-Tense, ainda esta semana, retornando ao hip-hop nacional uma “tradição” cada vez mais recorrente e onde o único vencedor é sempre a música. 

Kendrick Lamar no NOS Alive 2020

A organização do NOS Alive anunciou ontem o rapper norte-americano, Kendrick Lamar, como cabeça de cartaz do festival, adicionando um novo dia aos já habituais três dias de festival.

No dia 8 de julho, Kendrick Lamar, autor de To Pimp A Butterfly, Good Kid, M.A.A.D City ou DAMN, discos que marcaram a década e catapultaram o MC para o topo de vendas e audições, sobe a palco no Passeio Marítimo de Algés no novo primeiro dia, para o qual o bilhete diário está à venda por 69 euros.

Com os festivaleiros que já tinham adquirido o passe de três dias a demonstrar a sua preocupação, a organização do festival anunciou que o passe pode ser expandido aos quatro dias, pagando a diferença (30 euros), num total de 189 euros.

Os restantes artistas a atuar dia 8 ainda serão revelados, à exceção de Angel Olsen. É a terceira vez que Kendrick Lamar, um dos grandes nomes da década, atua em Portugal, depois de passagens pelo Super Bock Super Rock, em 2016, e pelo Primavera Sound no Porto, em 2014.

Sippinpurpp lança ”3880”

O primeiro EP de Sippinpurpp já está nas ruas desde a meia-noite de ontem, com o videoclip do quarto single, Havana, divulgado esta manhã.

“3880”, código postal de Ovar, é um EP com selo Think Music de sete temas, três dos quais já conhecidos dos fãs de Sippinpurpp: “Sauce”, “Não Me Venhas Chatear” e “Never Walk Alone”, aos quais se junta “Havana”, onde se faz acompanhar por Profjam nos versos e pelos restantes membros da label de Profjam no vídeo de André Caniço.

“Extravangante”, “Tudo Pago” e “Maravilhoso” completam o septeto, estando a produção instrumental a cargo dos já habituais benji price, rkeat e osémio boémio. A capa do EP é da autoria de Ana das Aventuras.

Crítica | Inacabado

Com pouco mais que algumas horas de vida nas plataformas digitais, este inesperado “Inacabado” EP de xtinto e benji price parece defender que a arte não necessita de maiúsculas – e que cinco temas são suficientes para declarar esta música sem compromisso que a dupla da Think Music tem vindo a criar ao longo do último ano.

Depois de uma panóplia de faixas soltas, finalmente há um sucessor a Odisseia, mixtape que juntou xtinto a DEZ, e que estreia, oficialmente, o MC de Ourém com a label de ProfJam. Curiosamente, há um nome em comum nestes dois projetos: benji price, fundador da extinta Andromeda Records e que tem sido a cola fundamental às edições da Think Music, assina agora a produção instrumental deste “Inacabado” com mestria, soldando o característico (e, diga-se, único nestas andanças) pen game de xtinto a uma variedade de estéticas sonoras – que se provam a versatilidade dos dois criadores. Há boombap em “interlúdio”, drill em “verbena”, beat switches que se permeiam no flow acutilante de xtinto, melodias e percussões entusiasmantes – a base instrumental de piano em “caixa” ou as batidas por minuto gradualmente alucinantes na reta final de “ébano”.

“Inacabado” parecer ser uma curta amostra do excelente trabalho que os dois têm vindo a desenvolver, uma união natural entre dois dos maiores jovens talentos do rap game português. As cinco faixas sabem a pouco. As rimas ácidas e insaciáveis do rapper revestem este EP de uma singularidade única na cena musical portuguesa, trazendo as conhecidas “barras” com distintas referências (“mente arrasa qualquer Vista Alegre/ boneca de porcelana que nunca quer que eu vista a lebre”), jogos de palavras (“não sei se falei na/ forma que eu dropo dá-te encefaleia”) e trocadilhos (“ri-te agora isto é esquizófónico”), linhas imbuídas de aliterações e assonâncias (“e é por isso que o DEZ culpa, toda a minha conduta adúltera se esfarrapar toda e qualquer desculpa”), encavalgando na sua métrica uma voracidade nítida na voz e na atitude ao “cuspir”. E, se a sua habilidade em construir refrões cativantes já era clara em “Sangue Novo”, “Jurássico Barco”, “Opus Magnum” ou “Pentagrama”, é uma certeza que a caneta de xtinto promove versos carismáticos a puxar o ouvinte a cantar com ele (ou com benji price, em “sinope”, “certo que virarei rei”), assim como a tentar debitar com ele quer o que parece ser o tema mais confessional do EP, “interlúdio” – “fixei a rotina dos semáforos/ estrago-te os planos/ o vermelho diz-me que ‘tás verde para avançarmos/ e que tal dançarmos nas linhas brancas desta passadeira até vir carros” – como os bangers onde a cadência musical soa extraordinariamente limpa e polida, a dicção ditando quais as barras que os fãs vão decorar e cantar em uníssono nos futuros concertos (“o meu trabalho é dar coça a vários/ tenho mesmo a picha grande/ vai que o mangalho até já coça ovários”).

Um EP que parece ser o primeiro passo para algo de maior escala, é um excelente seguimento a “Odisseia” e à lista de reprodução das plataformas de xtinto, um MC cuja evolução tem sido contínua e prolífica, conseguindo crescer musicalmente sem alterar as características que o seu rap tem revelado desde o início e formando uma sólida fanbase de “hip-hopcondríacos”. E, neste ponto-de-vista, é impossível, para quem tem acompanhado o percurso do rapper de Ourém, disassociar estes cinco temas dos cinco temas que xtinto dropou nos dois últimos anos. Primeiro, pela continuidade das suas letras (referência a “pentagrama” e a “alter-egos”, por exemplo), depois, pela certeza e estética vincada que emana a sua discografia, sem registos similares no hip-hop português.

“Inacabado” está inacabado – à imagem da trilha que o MC e o produtor vão vincando no underground, referência visual do clipe de Billy Verdasca que tão bem reforça essa premissa (“fuck ouvinte”), e, como um todo, no panorama do hip-hop luso, onde é impossível não notar a sonoridade de xtinto e benji price.

 E, se “Inacabado” reflete o próprio título, podemos esperar uma sequela ao trabalho da dupla – um LP inacabado que peque pela latência, ao invés de pecar na duração? Ou um disco impermeável como futuro opus magnum de xtinto? De qualquer das formas, a expetativa está alta. Principalmente depois de algumas escutas em loop desde novo EP.

“Mui Nobre” é o mais recente tema de Ace

Revisitando o Porto e a sua mística, “Mui Nobre” é o mais recente single de Ace – o MC dos extintos Mind da Gap publicou hoje o tema no seu YouTube, com produção Gourmet Beatz.

A engenharia de som ficou ao seu encargo. O último trabalho de Ace tinha sido Marlon Brando, em 2017, mas o rapper gaiense (que até foi condecorado recentemente com uma medalha de Mérito Cultural e Científico pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia) não tem estado parado.

“O Padrinho” volta à música com esta “Mui Nobre”, um tema sem aviso onde as referências à cidade invicta (a Ribeira e as muralhas) se cruzam com as referências do próprio coletivo gaiense, ecoando-se “fatias para todos, não fico farto ficamos todos gordos”.

Monsta disponibiliza novo EP

“Da Bwala” é o mais recente EP de Monsta.

O MC da Dope Musik divulgou o disco de seis temas e acompanhou-os com videoclip. Na lista de créditos contam os nomes de Deezy, T-Rex, Kelly Veiga, Algo Desconhecido, ZALA, Teo no Beat, Edgar Domingos, Mallaryah, Mr.Carly, Lipesky e Mane Galinha – nomes que têm colaborado com o MC dos Força Suprema, cujo último trabalho tinha sido F.A.M.E..

A label continua assim a marcar 2019, já com cinco projetos editados (incluindo os albuns de NGA, Masta e Deezy).

Festa das Latas já é sinónimo de hip-hop

O hip-hop, como tem sido habitual, voltou a marcar presença no Parque da Canção, em Coimbra, para mais uma edição da vulgarmente conhecida como Latada. De 9 a 13 de outubro, Julinho KSD, Phoenix RDC, Kappa Jotta, Piruka e GROGNation subiram ao palco principal do certame, com o público a aprovar com entusiasmo as atuações dos MC’s portugueses, mas também dos Dj’s já habituais na festa académica: Dj Ride e Dj Fifty, este ainda na tenda eletrónica, que, além dos sets já habituais de hip-hop, convidou para atuar os jovens rappers da Andamento Records, holympo e Palazzi. À semelhança dos anos anteriores, o hip-hop foi o género musical com maior representação nas festas académicas de Coimbra – e a tendência tem tudo para se manter. A fotogaleria é de João Beirão.

Scorp anuncia novo álbum com “Straight Edge”

Diretamente das Caldas da Rainha, Scorp tem novo single e anuncia novo álbum: “Straight Edge”, com produção de DONTLIKE e mistura e masterização de Khapo.

Em 2017, o MC da zona centro editou a mixtape UMPORUM, com o conterrâneo Stereossauro, e, nos últimos três anos, divulgou vários singles com a Crate Records. O próximo projeto parece ter selo instrumental do produtor DONTLIKE e o “rap sujo” de Scorp.